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Operações do Greco revelam furtos de energia em empresas e casas de luxo

Prejuízos somam R$ 120 milhões por ano e cerca de R$ 25 milhões deixaram de ir aos cofres públicos por meio do ICMS

06/08/2017 08:27

Firmado ainda em 2016, um convênio entre a Eletrobrás e a Polícia Civil do Piauí tem revelado diversos casos de furto de energia praticados por pessoas de alto poder aquisitivo e grandes empresas. O famoso “gato de energia”, prática comumente atribuída a pessoas que moram em comunidades pobres e favelas, gera prejuízos milionários à empresa e ao Estado, apesar de, na opinião do delegado Laércio Evangelista, ainda ser considerado por muitos um “crime menor”.

O delegado Laércio, do Grupo de Repressão ao Crime Organizado (Greco) foi destacado para lidar com os casos de furto de energia. Segundo ele, o mais recente foi descoberto na última quinta-feira (03). A gerente da fábrica de cachaça Raízes Amargas, Suzana Lins Maranhão, filha do dono da fábrica, foi presa por furto qualificado.

Os policiais e técnicos da Eletrobrás descobriram uma fraude no medidor de energia do local. O fato de haver uma adulteração no medidor torna o crime mais grave, e não cabe o aditamento de fiança. “Estamos atuando em empresas grandes e por todo o estado”, comenta o delegado Laércio.

Renan de Sousa Carvalho, gerente de fiscalização de operação e engenharia da medição da Eletrobrás, afirma que cerca de 75 mil unidades consumidoras foram fiscalizadas apenas em 2017, e que foram constatadas irregularidades em mais de 40 mil delas. O prejuízo causado por esses crimes atinge a marca de R$ 120 milhões por ano à Eletrobrás, e cerca de R$ 25 milhões deixaram de ir aos cofres públicos por meio do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Somente em 2017, mais de 60 casos de fraudes foram descobertos pelo Greco. Em cerca de metade dos casos são flagrados medidores com indícios de adulteração. A manipulação do equipamento demanda um conhecimento técnico mais avançado do que para fazer desvio de energia simples, e isso gera um agravante que impede o aditamento de fiança.

Segundo Renan, os valores que grandes residências deixam de pagar com furtos de energia dificilmente são menores que R$ 10 mil. “Já tivemos casos de R$ 30 mil, R$ 40 mil. As pessoas argumentam que estão fazendo isso porque a tarifa é cara, mas é um crime como outro qualquer”, disse.  

O delegado Laércio Evangelista comentou que é comum as pessoas acharem que o furto de energia é como um crime sem gravidade. “Há essa inversão de valores. As pessoas, principalmente de alto padrão, acham que é um crime simples, têm aquela sensação de impunidade e acabam incidindo nessa prática”, disse.

Há ainda casos em que técnicos da Eletrobrás foram ameaçados por moradores indignados com a fiscalização. “A Polícia Civil tem dado apoio nesses casos, mas isso tem ficado comum”, comenta o delegado Laercio. Em junho, na cidade de Esperantina, um policial militar foi preso após ameaçar uma equipe da Eletrobrás.

Repercussão dos crimes

E a conta das fraudes não fica só para a Eletrobrás e o Estado, mas também para a população. O gerente de fiscalização da Eletrobrás, Renan Carvalho relembra o caso de um hotel, localizado na zona Leste de Teresina, onde foram descobertos mais de 100 aparelhos de ar condicionado funcionando sem passar pelo medidor de energia. “Um hotel com a carga que ele tem lá deveria receber um fornecimento exclusivo em média tensão, e acaba retirando da baixa tensão uma carga muito alta. Isso repercute nos vizinhos, que sentem a qualidade da energia não adequada. Prejudica também a vizinhança”, disse.

Há ainda a concorrência desleal que estes estabelecimentos praticam. A economia causada pelo furto incide diretamente no preço dos produtos e causam vantagem indevida. “Imagine um supermercado usufruindo de furto de energia. O mercadinho honesto vai acabar tendo prejuízo e até fechando, porque não vai ter como fazer concorrência”, comenta Renan Carvalho. “A sociedade como um todo perde”, conclui.

Por: Nayara Felizardo
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