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O caos anunciado do Engenhão: "Há mais ambulância do que polícia"

Efetivo de 48 homens previsto para Bota x Fla era menor que o da estreia alvinegra contra o Nova Iguaçu. Protestos esvaziaram ainda mais planejamento de segurança

13/02/2017 09:46

Um dos seguranças do Botafogo, na porta do Engenhão, pouco antes das 17h, observou:

- Repórter, repara só. Tem mais ambulância do que carro de polícia - disse.

Era o início de uma tarde e noite que vai virar exemplo do que não pode acontecer na realização de um clássico. A vitória do Flamengo por 2 a 1 sobre o Botafogo foi precedida de cenas de guerra no entorno do Nilton Santos - não à toa há um morto e feridos no saldo triste de mais um domingo em campos brasileiros. O estádio, é bom que se diga, nada tem a ver com os tristes episódios deste domingo pelo Campeonato Carioca.

Foram vários fatores que provocaram este cenário. Com dois repórteres e um fotógrafo rodando o Engenhão horas antes e depois da partida, além de depoimentos diversos - anônimos ou não -, o GloboEsporte.com mostra por que tudo deu errado. E poderia ter sido bem pior.

O CONTEXTO

A crise no Estado, com atraso de funcionários e servidores, chegou à segurança pública. Os protestos da Polícia no Espírito Santo chegaram ao Rio no fim da semana passada e minaram batalhões. Atingiu em cheio o futebol na tarde deste domingo. Diretores do Botafogo informaram à reportagem que, às 16h, horário de chamada do quatro operacional do estádio, simplesmente não havia um policial para abrir o estádio. Policiais do 3º Batalhão da Polícia Militar e a cavalaria, que sempre faz a segurança no entorno dos jogos no Rio, não apareceram no Nilton Santos. O Botafogo abriu os portões às 17h e fez a revista na entrada do estádio com segurança própria.

QUANTOS POLICIAIS DEVERIAM COBRIR A ÁREA DO JOGO?

Após o jogo, na porta do Jecrim, um dos policiais, do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), relatou ao GloboEsporte.com. 

- Clássico no Rio a gente faz com 160 a 180 policiais. Sabe quanto tínhamos antes do jogo? Cinquenta e dois policiais! Sabe quantos mais vieram? Dois - disse o policial, sem se identificar, afirmando que o pequeno efetivo policial era resultado dos protestos na frente dos batalhões.

Na ata de planejamento para o clássico, o Gepe previa ter 170 policiais. Após a partida, policiais do Gepe, no estacionamento do Engenhão, mostravam revolta com as condições de trabalho nesse domingo e a falta de apoio na partida. 

No lado de fora do estádio, o 3º Batalhão da Polícia Militar teria 48 policiais, com 24 viaturas. Para se ter ideia, na estreia do Botafogo no Estadual, contra o Nova Iguaçu, o 3º BPM planejou usar 60 policiais. Antes da partida, pouquíssimos carros da Polícia apareciam nos arredores. Quando a situação saía completamente de controle, chegaram carros do 1º Comando de Policiamento da Área, do 17º BPM e do 22º BPM. As intervenções evitaram mais feridos. 

O QUE AS AUTORIDADES E O BOTAFOGO FIZERAM

De última hora, policiais de outros batalhões e mais apoio da Polícia Civil foram chamados para completar o policiamento no estádio. Chegaram ainda ônibus com guardas municipais. O Botafogo tentou cancelar a partida, alegando falta de segurança e de policiamento. O clube contratou 300 seguranças particulares, da empresa "Blindados" - o que representa aumento de quase 70% no que o clube costuma usar no estádio.

- Nossos seguranças que fizeram a revista dos torcedores quando o público começou a chegar - contou um diretor do Botafogo.

O clube permitiu a sócios torcedores e outros alvinegros a entrarem por portão alternativo, para que evitassem dar a volta e se aproximar da confusão nas ruas do estádio.

O QUE ELES DISSERAM ANTES?

“O Gepe garantiu durante a semana a segurança para a realização do clássico. Temos 70 homens do Gepe dentro do estádio, cerca de 50 policiais militares no entorno, 14 viaturas e mais 120 homens da guarda municipal. Ainda são esperados mais 80 guardas municipais, totalizando 200. Não podemos cancelar a partida na base do achismo. Tem que haver um documento oficial do Gepe”

Marcelo Vianna, diretor de competições da Ferj

"Nós temos confiança plena no major Silvio, no Gepe, temos certeza que o jogo vai acontecer sem problema nenhum. Momento do Rio e do Brasil preocupa a todos nós. Mas em relação ao jogo de hoje, acho que vai acontecer sem o menor problema, qualquer coisa dito ao contrário só serve para alarmar ainda mais a população, aos torcedores. Vai ser um jogo perfeitamente dentro do normal. Temos a palavra do comandante do Gepe de que está tudo sob controle."

Presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, ao SporTV"Quando cheguei, fui informado de que não existia policiamento na área externa do estádio. Tem policiamento da Polícia Civil, mas da PM não tinha ninguém fora. O Botafogo se sente desconfortável com a realização do jogo. Mas a Ferj diz que segurança é adequada, e vai ter jogo. Então vamos jogar" 

Luis Fernando Santos, vice-presidente executivo do Botafogo

“Viemos aqui para jogar, mas o torcedor precisa de segurança. É claro que todos estão aqui para ver futebol, mas, se perguntarem a minha opinião, para mim seria melhor não ter jogo nessa situação”

Roger, atacante do Botafogo

COMO COMEÇARAM AS BRIGAS?

Difícil definir onde o foco de violência começou. Mas a correria era da entrada da rua José Reis - entrada de alvinegros - até a rua Doutor Padilha e a rua das Oficinas - "divisória" e até a entrada para o lado dos flamenguistas. Quando o policiamento chegou, a confusão já era generalizada - com garrafas arremessadas, cadeiras de bares, pedras e, em reação, a polícia jogou gás de pimenta e muitas balas de borracha. Uma delas, atingiu em cheio um segurança do Botafogo.

A vizinhança se assustou. Moradores entraram para dentro das casas, que abrigou até torcedores desconhecidos, com medo da violência. Cerca de uma hora antes da bola rolar, outro tumulto e que seria o mais grave. Um carro passou atirando na entrada da torcida alvinegra - um dos tiros atingiria Diego Silva dos Santos, de 28 anos, que morreu. O desespero era total, com pessoas se jogando ao chão e se escondendo atrás de carros e dos muros no entorno do estádio.

Mas tarde no Setor Oeste, torcedores do Botafogo tiveram de pular as catracas e entrar às pressas por receio da confusão ao lado de fora. Cenas de guerra tomaram as ruas, com confrontos entre as duas torcidas. A polícia não conseguiu impedir, nem mesmo usando gás de pimenta. Houve tiroteio.

ALGUÉM FOI PRESO?

A confusão no entorno do Nilton Santos envolveu centenas de pessoas, mas apenas três torcedores foram detidos: dois do Flamengo e um do Botafogo. Os motivos foram os mais variados: brigas, vandalismo e tentativa de invasão. Os três ficaram detidos ao longo do jogo no Jecrim (Juizado Especial Criminal), prestaram depoimento e assinaram um termo, no qual se comprometiam a pagar multas de R$ 200, em duas parcelas, a serem revertidas em mantimentos para a delegacia. Dois deles assinaram e foram liberados após o clássico. O terceiro, porém, rasgou o documento assinado na frente do juiz e, segundo policiais, seria encaminhado para Cidade da Polícia, no Jacaré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. 

O QUE ELES DISSERAM DEPOIS?“Não tinha nenhuma declaração, documento ou posicionamento da PM ou da secretaria de Segurança contrária á realização da partida. Em todo o momento falamos com o comandante do Gepe, e o que foi passado é que a PM garantia a segurança do público. Mas o que acontece é que a cidade do Rio de Janeiro, hoje, vive um clima tenso, um clima de insegurança. Os policiais estão tendo problemas para sair do quarteis, e houve uma demora para a montagem do policiamento externo do estádio. E algumas informações que as pessoas passam acabam trazendo para o estádio pessoas que não deveriam vir. Se você começa a passar o posicionamento de que não tem policiamento, o bandido que está em casa vem para cá também. É preciso ter mais responsabilidade também. Não sei precisar o número de policiais. Mas na sequência posso dizer que o número foi bem próximo do que é necessário para a realização de uma partida de futebol”

Marcelo Vianna, diretor de competições da Ferj

“O que aconteceu hoje fora do estádio foi lamentável. Tivemos que esperar no ônibus para chegar ao estádio. Ouvimos bombas, tiros. Liguei para a minha família. Meu sobrinho já estava aqui. Muitas famílias e crianças. Nos preocupamos com todos que estão aqui, independente para quem torce. Lamentável, os anos vão se passando, e a violência não acaba. A gente preza tanto pela paz. Nós, os protagonistas do espetáculo, ficamos tristes. Acredito que foi um grande jogo, com gols, os dois times procuraram o jogo. Mas isso tudo acaba apagado por conta desse episodio lamentável fora do estádio”

Jair Ventura, técnico do Botafogo

"Quem define se uma partida deve ser realizada ou não é o policiamento. O comandante disse que havia condições para acontecer. Esse tipo de confusão antes dos jogos de vez em quando acontece, às vezes não envolve nem torcedores. É lamentável que esse tipo de coisa continue acontecendo. Mas não me parece ter havido problema de a partida ser realizada. Esse tipo de coisa acontece até longe dos estádios às vezes, com torcedores marcando pra brigar em lugares remotos. Temos que lamentar e pedir que as punições sejam aplicadas às pessoas físicas. O crime tem que ser investigado, descobrir quem fez e botar na cadeia"

Eduardo Bandeira, presidente do Flamengo

"A gente fica complemente decepcionado porque foge completamente do espetáculo futebol. A preocupação é com essas pessoas que se envolvem e também com nossos familiares que estão constantemente nos estádios, nossos filhos, esposas. Deve ser respeitado. Temos que aprender cada vez mais que precisamos dos nossos adversários para poder competir, evoluir, e isso tem que entrar nas nossas cabeças. A rivalidade tem limite. Cada cena que vejo dessa realmente dói no coração porque o futebol não tem nada a ver com isso"

Diego, meio de campo do Flamengo

ALGUÉM FOI PRESO?

A confusão no entorno do Nilton Santos envolveu centenas de pessoas, mas apenas três torcedores foram detidos: dois do Flamengo e um do Botafogo. Os motivos foram os mais variados: brigas, vandalismo e tentativa de invasão. Os três ficaram detidos ao longo do jogo no Jecrim (Juizado Especial Criminal), prestaram depoimento e assinaram um termo, no qual se comprometiam a pagar multas de R$ 200, em duas parcelas, a serem revertidas em mantimentos para a delegacia. Dois deles assinaram e foram liberados após o clássico. O terceiro, porém, rasgou o documento assinado na frente do juiz e, segundo policiais, seria encaminhado para Cidade da Polícia, no Jacaré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. 

O QUE ELES DISSERAM DEPOIS?“Não tinha nenhuma declaração, documento ou posicionamento da PM ou da secretaria de Segurança contrária á realização da partida. Em todo o momento falamos com o comandante do Gepe, e o que foi passado é que a PM garantia a segurança do público. Mas o que acontece é que a cidade do Rio de Janeiro, hoje, vive um clima tenso, um clima de insegurança. Os policiais estão tendo problemas para sair do quarteis, e houve uma demora para a montagem do policiamento externo do estádio. E algumas informações que as pessoas passam acabam trazendo para o estádio pessoas que não deveriam vir. Se você começa a passar o posicionamento de que não tem policiamento, o bandido que está em casa vem para cá também. É preciso ter mais responsabilidade também. Não sei precisar o número de policiais. Mas na sequência posso dizer que o número foi bem próximo do que é necessário para a realização de uma partida de futebol”

Marcelo Vianna, diretor de competições da Ferj

“O que aconteceu hoje fora do estádio foi lamentável. Tivemos que esperar no ônibus para chegar ao estádio. Ouvimos bombas, tiros. Liguei para a minha família. Meu sobrinho já estava aqui. Muitas famílias e crianças. Nos preocupamos com todos que estão aqui, independente para quem torce. Lamentável, os anos vão se passando, e a violência não acaba. A gente preza tanto pela paz. Nós, os protagonistas do espetáculo, ficamos tristes. Acredito que foi um grande jogo, com gols, os dois times procuraram o jogo. Mas isso tudo acaba apagado por conta desse episodio lamentável fora do estádio”

Jair Ventura, técnico do Botafogo

"Quem define se uma partida deve ser realizada ou não é o policiamento. O comandante disse que havia condições para acontecer. Esse tipo de confusão antes dos jogos de vez em quando acontece, às vezes não envolve nem torcedores. É lamentável que esse tipo de coisa continue acontecendo. Mas não me parece ter havido problema de a partida ser realizada. Esse tipo de coisa acontece até longe dos estádios às vezes, com torcedores marcando pra brigar em lugares remotos. Temos que lamentar e pedir que as punições sejam aplicadas às pessoas físicas. O crime tem que ser investigado, descobrir quem fez e botar na cadeia"

Eduardo Bandeira, presidente do Flamengo

"A gente fica complemente decepcionado porque foge completamente do espetáculo futebol. A preocupação é com essas pessoas que se envolvem e também com nossos familiares que estão constantemente nos estádios, nossos filhos, esposas. Deve ser respeitado. Temos que aprender cada vez mais que precisamos dos nossos adversários para poder competir, evoluir, e isso tem que entrar nas nossas cabeças. A rivalidade tem limite. Cada cena que vejo dessa realmente dói no coração porque o futebol não tem nada a ver com isso"

Diego, meio de campo do Flamengo

Fonte: Globo Esporte
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