Uma fuga em massa foi registrada na Casa de Custódia no início da tarde deste domingo, 26. Segundo o Sindicato dos Agentes Penitenciários, a maioria dos detentos que escaparam seriam do pavilhão D.

Durante a fuga, os presos que permaneceram no presídio deram início a uma rebelião. Eles atearam fogo em colchões e tecidos nas entradas dos pavilhões, com o objetivo de dificultar o trabalho de contenção. 

De acordo com Jefferson Dias, diretor de assuntos sindicais do Sinpoljuspi, a fuga teria ocorrido por um túnel. Ainda não se sabe a quantidade exata de detentos que escaparam, mas a estimativa é que tenham sido aproximadamente 20 presos.

A rebelião envolveu detentos de pelo menos três pavilhões - H, E e D. Segundo os agentes penitenciários, várias grades foram arrancadas, paredes foram depredadas e cadeados foram danificados durante a rebelião. Até o início da noite os servidores da unidade e os policiais militares ainda trabalhavam para conter a rebelião e colocar os presos de volta às celas.

O Sinpoljuspi confirmou que um detento foi assassinado, mas não há detalhes do número de feridos. 

Kleiton Holanda, vice-presidente do Sinpoljuspi, acredita que o homicídio tenha ocorrido com o propósito de acobertar a fuga, distraindo os agentes

"Num primeiro momento, houve a informação de que uma pessoa estava passando. Em seguida os agentes já encontraram um detento com uma perfuração nas costas e, enquanto era feito o socorro, já veio a notícia da fuga. E várias pessoas avistaram dezenas de presos saltando os muros da Casa de Custódia", relata Kleiton Holanda.

Dois dos fugitivos foram capturados pela PM-PI ainda neste domingo. Ambos teriam se machucado ao pularem o muro do presídio, o que facilitou a localização dos dois.

Caos no sistema prisional 

Kleiton Holanda denuncia que o Governo do Estado continua ignorando o caos no sistema prisional piauiense. Ele observa que a superlotação, a falta de estrutura das unidades penais e a escassez de servidores formam o tripé que torna o sistema um verdadeiro pandemônio, com a ocorrência frequente de fugas, assassinatos, motins e rebeliões.

O sindicalista também denuncia que as forças policiais demoraram mais de duas horas para chegar à Casa de Custódia após o início da rebelião. Kleiton Holanda ressalta que essa morosidade faz com que os danos provocados na estrutura no presídio sejam ainda maiores, além de colocar em risco a vida dos agentes penitenciários e dos próprios presos. "O sindicato alerta que a Secretaria de Justiça não está preparada para enfrentar esses eventos, apesar de conviver com eles. Mais uma vez houve uma demora de mais de duas horas para as forças policiais chegarem e fazerem a contenção no presídio. É uma demora muito elástica, que faz com que os presos quebrem ainda mais a unidade prisional, inclusive pavilhões que passaram por reformas por conta de outras rebeliões que ocorreram há poucas semanas", afirma Kleiton.

De acordo com o Sinpoljuspi, esta foi a nona morte registrada na Casa de Custódia só este ano. Enquanto em todo o sistema prisional já foram registrados 22 óbitos em 2016, contabilizados os homicídios e também as mortes que tiveram outras causas.

Conforme o mais recente levantamento do sindicato, a Casa de Custódia possui cerca de 980 presos, embora sua capacidade máxima seja para 330 pessoas.

"Só para se ter uma ideia, o pavilhão D deveria receber apenas 20 presos, mas abriga 160. Ele foi reaberto há poucas semanas, e já está superlotado. Inclusive, estão fazendo os serviços de reforma com os presos ainda dentro dos pavilhões. É uma medida completamente absurda, que fere os princípios básicos de segurança", detalha Kleiton Holanda. 

Servidor relata tentativa de fuga no sábado e diz: 'desrespeito aos agentes virou regra'

Um agente penitenciário que pediu para não ser identificado informou com exclusividade ao portal O DIA que no sábado já havia sido registrada uma tentativa de fuga.

Para o servidor, a situação na Casa de Custódia está fora de controle. "Perdeu-se a autoridade. A indisciplina está generalizada. O desrespeito aos agentes virou regra, não exceção. Os presos do pavilhão D se acham os donos da cadeia", adverte o agente.

Outro lado

O portal O DIA tentou contato com a assessoria de comunicação da Sejus durante toda a tarde e início da noite de domingo, mas as ligações não foram atendidas.

A Sejus não divulgou nota manifestando-se sobre a rebelião, a morte e a fuga dos presos na Custódia.

Por: Cícero Portela