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Assaltantes de bancos mudam a rotina da população no interior do Piauí

Quadrilhas já assaltaram 16 agências somente este ano.

30/04/2015 15:35

A população amanhece assustada diante do movimento frenético de viaturas pelas ruas da cidade, sirenes ligadas anunciando o começo de mais uma perseguição policial e a chegada da perícia para verificar os danos causados em mais outro ataque a alguma agência ou correspondente bancário do interior do Estado. Essa cena já se repetiu pelo menos 16 vezes Piauí adentro apenas neste ano, segundo dados do Sindicato dos Bancários do Piauí. Sete ataques em fevereiro, quatro em março e cinco em abril.


A Polícia Militar contabiliza ao menos seis terminais de autoatendimento atacados por bandidos apenas no último mês de março, sendo cinco deles do Banco Bradesco e um do Banco do Brasil. Em abril, este número caiu para três terminais atacados no interior. “Em fevereiro nós tivemos um único dia em que três terminais do mesmo banco foram atacados quase que simultaneamente nas cidades de São José do Peixe, São Francisco do Piauí e Nazaré do Piauí”, afirma o comandante de policiamento do interior, coronel Paulo de Tarso.

Muito mais que prejuízos financeiros aos bancos e danos ao patrimônio público e privado, esses números revelam a insegurança com a qual a população de cidades menores convive diariamente. Insegurança que é fruto do reduzido número de policiais militares nas ruas desses municípios, da falta de equipamentos adequados que coloquem esses agentes da Lei em pé de igualdade com grandes quadrilhas no que diz respeito ao armamento utilizado.


Foi o que se observou nos assaltos seguidos em José de Freitas acontecidos na madrugada desta quarta-feira (29). Uma quadrilha, formada por pelo menos oito pessoas, abriu fogo contra a sede da Guarda Municipal da cidade, que contava apenas com quatro policiais no momento da ação.

Nas palavras do comandante da Guarda no município, “era arma demais pra gente menos”. O capitão Fernando Silva se refere ao poder de fogo dos bandidos que levaram os cofres da Caixa Econômica e do Banco do Brasil de José de Freitas no último ataque a banco registrado no Estado este ano. “É uma vergonha dizer isso, mas a gente teve que se esconder para não morrer. Nossa munição acabou, nossas armas são pequenas demais e ultrapassadas se comparadas com as que eles tinham”, revela.

A quadrilha efetuou pelo menos 50 disparos de fuzil e metralhadora em 40 minutos de tiroteio no centro da cidade.

Bandidos deixam população apavorada e sem serviços bancários

“Agora o jeito é esperar pra ver quando que vão arrumar tudo. Até lá, é se virar como pode”, é o que diz o professor Orlando Dalpiaz (foto abaixo), morador de José de Freitas há 15 anos e cliente da Caixa Econômica. Ele viu o banco ser interditado e fechado para atendimento na manhã de ontem (29) após os bandidos atacarem também o Banco do Brasil do município.

Assim como Orlando, boa parte da população de José de Freitas deve ficar sem atendimento bancário nos próximos dias enquanto a polícia trabalha na fase inicial de investigação dos ataques.

Os moradores ficaram estarrecidos com a ação dos bandidos e contam os momentos de terror que viveram enquanto ouviam tiros serem disparados a esmo e o som de caixas eletrônicos explodindo. “Dá uma agonia na hora e a gente se sente de mãos atadas. E pra gente que é comerciante, ainda é pior porque não tem banco pras pessoas tirarem e dinheiro. Como elas vão comprar?”, questiona Fátima Alves, 38 anos, gerente de uma loja ao lado do Banco do Brasil de José de Freitas.

O senhor Sebastião Barbosa, morador de José de Freitas há 50 anos, afirma que ficou surpreso ao ver que a cidade, geralmente tranquila, tinha sido tomada por viaturas da polícia e tinha ainda os rastros de destruição deixados pelos criminosos. “A gente nunca espera. Agora estamos aqui sem banco e sem segurança, porque destruíram as viaturas quase todas”, diz apontando para o prédio da Guarda Municipal de José de Freitas cujas paredes ainda tinham as perfurações das armas dos bandidos.

Ação planejada e grande poder de destruição

O que mais chama a atenção da polícia nestes casos é a organização com que as quadrilhas de ataques a bancos agem. O comandante de policiamento do interior da PM, coronel Paulo de Tarso, diz que as ações acontecem geralmente durante a madrugada, quando as ruas da cidade encontram-se praticamente vazias e a visibilidade das pessoas fica prejudicada. O coronel dá detalhes do modo como esses grupos criminosos atuam.

“Eles nunca investem contra um local que não conhecem. Geralmente passam dias monitorando aquele espaço, observando a movimentação e atacam quando menos se espera. São pessoas que se deslocam em motos, que são veículos pequenos e de grande poder de desvio, e em caminhonetes, carros grandes com boa potência e que possuem um espaço amplo onde guardar os equipamentos do roubo e os produtos dele”, explica o coronel Paulo de Tarso.

Ainda de acordo com ele, os criminosos procuram agir com rapidez nos terminais de autoatendimento, por isso a utilização de explosivos com grande poder de destruição. “Eles distribuem as bananas de dinamite próximas ao caixa para evitar que a força da explosão danifique demais a parte interna e atinja o dinheiro guardado dentro”.

O Comando de Policiamento do Interior esclarece ainda que, quando se trata de uma quadrilha numerosa, os integrantes se dividem pela cidade e alguns ficam encarregados de chamar a atenção da polícia enquanto outros agem nos terminais bancários. Segundo o coronel Paulo de Tarso, é comum, nesses casos, se ouvirem disparos aleatórios em vários pontos da cidade, numa tentativa de fazer a PM se afastar da região central onde geralmente ficam as agências.

Falta de policiais facilita ação de bandidos no interior

O representante do Sindicato dos Bancários do Piauí, José Ulisses de Oliveira (foto abaixo), acredita que deverá ocorrer uma redução no número de ataques a caixas eletrônicos no interior em decorrência do trabalho mais organizado das forças de Segurança do Estado. “Não podemos deixar de admitir que a polícia vem fazendo um bom trabalho  nesse sentido. Estive em Picos neste mês de abril e encontramos inúmeras barreiras policiais nas estradas e isso mostra que as entradas e saídas dos municípios estão sendo bem monitoradas e que o trabalho integrado com a Força Nacional deve mostrar resultados”, diz.


No entanto, o sindicato critica a defasagem no número de policiais em serviço no interior do Piauí bem como a falta de equipamentos adequados para que eles cumpram sua função e garantam a segurança da população. “Tem cidade que não possui nem Batalhão de Polícia, que é atendida por um município vizinho. Isso precisa ser revisto com urgência porque deixa brechas para a ação de bandidos”, alerta José Ulisses.

Bancos não cumprem Lei de Segurança

O Sindicato diz ainda que está cobrando das instituições bancárias o cumprimento da Lei de Segurança dos Bancos que prevê, dentre outros itens, o uso de fachadas blindadas, a instalação de porta giratória na entrada do prédio, o monitoramento do interior da agência por câmeras de segurança ligadas diretamente à Central da Polícia Militar e o uso de divisórias entre os terminais de autoatendimento que impedem terceiros de ver as transações financeiras dos clientes.

Para o diretor de Saúde e Segurança do Sindicato dos Bancários, João Sales Neto (foto abaixo), é impossível haver total segurança em uma agência, mas ele defende que a sensação de medo pode ser diminuída conforme os aparatos e mecanismos que cercam o cliente ou que estejam em suas vistas. “Apesar de ter uma lei a ser cumprida, percebemos que muitos bancos ainda fazem vista grossa diante dos traumas sofridos por seus funcionários e clientes”, afirma.


O Comando de Policiamento do Interior do Piauí (CPI) também critica a pouca segurança que os bancos oferecem a seus clientes e aponta falhas na estrutura de algumas agências do interior. “Tem bancos que não possuem nenhum sistema de monitoramento eletrônico e isso torna fácil a ação dos bandidos, que agem sem serem vistos. Há também a questão da fachada blindada que é obrigatória, mas é uma raridade até na Capital, imagine no interior. E também há ausência, muitas vezes, de um segurança patrimonial que cubra a área externa da agência”, cita o coronel Paulo de Tarso.

Ele comenta ainda que a recomendação, de acordo com a Lei de Segurança dos Bancos, é que os terminais de autoatendimento fiquem localizados no Centro da cidade, próximos aos quartéis, batalhões de polícia e delegacias. Isso de acordo com o coronel, não vem ocorrendo, uma vez que há bancos construídos nas portas de entrada dos municípios.


Agência totalmente destruída em assalto em Pio XIX, no mês de março

As agências do Banco do Brasil e do Bradesco são as mais visadas pelos bandidos. Procurada pela reportagem do PortalODia, a assessoria do Banco Bradesco informou que prefere não comentar o assunto. Já a assessoria do Banco do Brasil disse que a instituição trabalha dentro das normas de segurança homologadas pela Polícia Federal e que adota as medidas cabíveis dentro das limitações que a segurança privada possui. Uma delas é a diminuição da quantidade de dinheiro que abastece seus terminais de autoatendimento como uma forma de tentar afastar os criminosos.

Medidas de segurança no interior

A PM informou que estão sendo tomadas providências para sanar o déficit de pessoal no interior, como a fusão de Batalhões e a criação de novas Forças Táticas. O coronel Paulo de Tarso explicou que essa fusão se dará entre municípios de menor população que ficam próximos e que podem ter sua área coberta por um único grupo de policiais. Cidades como Valença e São João do Piauí passarão a ter sua própria Força Tática para comandar o policiamento em municípios vizinhos.

“O Comando Geral autorizou ainda a distribuição de 30 viaturas em cidades do interior para aumentar a mobilidade dos nossos homens, e agora nós vamos contar com um sistema de comunicação direto dos batalhões com a capital para informar de imediato qualquer alteração e planejar mais eficientemente as operações”, diz o coronel Paulo de Tarso.

Segundo ele, em julho e agosto, o efetivo policial do interior deve ter um acréscimo de 400 homens que sairão do Curso de Formação de Cabos e Soldados e serão destinados para cobrir áreas de comarcas menores.

Fonte: Maria Clara Estrêla
Edição: Nayara Felizardo
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