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Violência contra a mulher: reflexo de uma cultura machista ou insegurança?

Violência praticada contra meninas em Castelo do Piauí reacendeu os debates sobre a violência contra a mulher.

07/06/2015 07:31

Ninguém imaginaria que a realização de um trabalho de escola, encabeçado por quatro jovens no interior do Estado, terminaria de maneira tão brutal. O crime que chocou o Piauí, na última semana, no município de Castelo do Piauí, espalhou o horror da violência pela qual a sociedade está exposta. Infelizmente, diariamente e cruelmente, crimes contra as mulheres são cometidos em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 35% das mulheres no mundo já foram vítimas de violência física.

Mas, afinal, a concretização de crimes contra a vida de mulheres é resultado apenas da insegurança pública ou tem a ver com a construção das sociedades? Para a doutora em sociologia, Mary Alves Mendes, a maioria das violências praticadas contra mulheres são reflexos da cultura machista na qual estamos inseridos.

“Essas práticas de violência são indicativos de controle, mando e posse de homens sobre as mulheres, consideradas inferiores, frágeis e incapazes, representações essas que revelam a introjeção de valores machistas impregnados nas trajetórias de vida através dos diversos processos de socialização de homens e mulheres presentes, sobretudo, na família, escola e Estado. Homens e mulheres acabam, de certa forma, naturalizando essas práticas e comportamentos cotidianos de dominação e, algumas vezes, têm dificuldades de se perceberem na situação de agressores ou de vítimas, como afirmava o sociólogo francês Pierre Bourdieu”, explica a especialista.

Apesar da trajetória feminina na sociedade ser evidenciada por importantes conquistas em relação a direitos, a exemplo do voto, educação, participação política, participação no mercado de trabalho. Apesar disso, ainda não se pode afirmar a existência de um quadro geral de igualdade de gênero. “A violência contra a mulher é um problema social grave na nossa sociedade brasileira e para além dessa. É um problema complexo, visto que ocorre independente de classe social, credo, raça, etnia, idade, nível de escolaridade. Trata-se de desigualdades e discriminações de gênero”, ressalta a Mary Alves.

Foto: Folhapress

Em quatro meses, 670 mulheres procuraram a Delegacia da Mulher para denunciar agressões

Para a socióloga, se faz necessário e urgente se desconstruir preconceitos e discriminações quaisquer que sejam. “O economista indiano Amartya Sen diz que não se pode atestar o desenvolvimento de uma nação ou país se estiverem aí presentes desigualdades, discriminações e violência entre homens e mulheres. Tal desconstrução pode ser efetiva através de uma educação não sexista que esteja presente em todas as instâncias sociais e em todos os processos de socialização e sociabilidades nos quais estão inseridos os indivíduos. Assim, as escolas, família e Estado são veículos importantes de desconstrução e de promoção de igualdade entre os gêneros”, afirma.

Aline Raquel, coordenadora do grupo Flores para Elas, movimento organizado após a violência sofrida pelas quatro adolescentes de Castelo do Piauí, afirma que as mulheres não aguentam mais ficar expostas a tanta violência. “Queremos dar um basta nesse sofrimento. Nenhuma mulher merece passar por isso, sofrer dessa força. Já chega dessa sociedade que só mata as mulheres, queremos paz”, finalizou a jovem após participar de ato em homenagem Às vítimas do crime.

Delegacia da Mulher registra 670 boletins de ocorrência em 2015

Apenas nos quatro primeiros meses do ano de 2015, a Delegacia da Mulher de Teresina registrou 670 boletins de ocorrência. Desse total, a maioria representa ocorrências de agressão, sendo 251 casos. As denúncias de lesão corporal por violência doméstica já chegam a 75 registros. Em 2014, foram 2092 ocorrências registradas no órgão.

Para a delegada Wilma Alves, titular da Delegacia da Mulher, apesar dos atos violentos ainda serem uma realidade, as mulheres tem avançado na superação da violência. "Já demos passos largos em relação ao avanço da mulher. Hoje temos mulheres trabalhando em grandes cargos, trabalhando com independência. A rede de apoio e proteção também cresceu demais e a Lei Maria da Penha, veio para consagrar a preservação e garantia dos direitos da mulher, que não precisa ficar a mercê da violência de um homem”, afirma.


Veja mais detalhes na edição deste domingo (07) do Jornal O Dia

Por: Glenda Uchôa - Jornal O Dia
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