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Transmídia: Na UTI, a vida é uma luta de muitos

Familiares, amigos e equipe médica são elos de esperança para quem está em processo de recuperação nas Unidades de Terapia Intensiva .

25/11/2017 07:40

Momentos antes de entrar na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital de Urgência de Teresina (HUT), a fisionomia de Alcielo era de quem estava em completa concentração. O motivo que o fazia cerrar os olhos e os punhos era a busca pelo divino. Ele pedia com fé e esperança para a recuperação da sua irmã, que permanecia internada na UTI, a poucos metros dali, para se recuperar de um acidente automobilístico. Na luta pela vida, familiares, amigos e equipe médica são elos de esperança para quem está em processo de tratamento de quadros graves de saúde.

Nesse contexto, o HUT é referência para atendimento Familiares, amigos e equipe médica são elos de esperança para quem está em processo de recuperação nas Unidades de Terapia Intensiva NA UTI, a vida é uma luta de muitos de urgência e emergência em todo estado do Piauí. Atualmente, o Hospital oferta 42 leitos de UTIs, sendo 10 deles para atendimento pediátrico.

A ansiedade de Alcielo antes de visitar a irmã e a emoção ao vê os seus avanços após sete dias internada (Foto: Jailson Soares/O Dia)

Em um desses leitos, a irmã de Alcielo e Alcione Santos, Alzilene Santos, se recupera das graves lesões deixadas pelo acidente automobilístico acontecido na cidade de Picos, município localizado ao Sul de Teresina.

Para pacientes e familiares, cada novo dia é uma nova chance de evolução. E no corredor de poucos metros que dá acesso à sala da internação intensiva, as muitas histórias se misturam, mas se igualam de uma única forma: no permanente desejo de recuperação.

Sinais

Na última quinta-feira (23), quando Alzilene completou sete dias de internação, a melhora apresentada naquele dia, para a família, foi um sinal que acreditar e pedir o amparo divino para a recuperação valeu à pena. “Hoje, só tive a certeza maior do que eu mais pedi para o meu Deus, que quando chegasse aqui, ela pudesse tocar na minha mão, porque estávamos muito preocupados, já que ela não estava mexendo o corpo.

Hoje, ao entrar, eu percebi, com ela falando com o olhar, que estava sentindo eu pegar no braço, na perna”, descreve emocionado Alcielo, depois de participar do horário de visita destinado aos familiares dos pacientes internados.


Foto: Jailson Soares/O Dia

Naquele dia, a irmã do jovem apresentou um dos melhores quadros de evolução dos dias de tratamento. Uma vitória comemorada e agradecida de forma imediata. “Ontem, a gente esteve com ela na UTI e ela só estava abrindo os olhos. O médico falou que ela não estava mexendo os braços, então, hoje, ter uma notícia dessas é motivo para ficarmos muito felizes”, destaca Alcione, irmão mais velho da família.

Ele relembra que passar por aquele momento não é de total desconhecimento. “A gente já passou por isso com meu pai, que chegou a ficar quase dois meses na UTI por conta de um acidente e isso reflete na família. Meu pai passou 16 anos acamado, ele está com seis meses que faleceu e, hoje, estamos passando por isso com minha irmã, mas com a certeza de que ela sairá bem”, acrescenta.

Solidariedade fortalece batalha pela vida

Não necessariamente todos que se concentram no corredor de espera para as visitas aos pacientes internados nos leitos de UTI são familiares em busca de notícias da progressão de saúde dos entes queridos. No caso de Edivaldo Batista, a única ligação que ele tem com Nildomar, que se recupera em um dos leitos da UTI, é o sentimento de solidariedade.

“O Nildomar é da minha cidade e como não tem familiares que nós conheçamos, quando ele sofreu o acidente, nos mobilizamos para poder garantir o apoio para ele nesse momento”, explica.

Do município de Miguel Leão, ao Norte do Estado, Nildomar colidiu com uma vaca enquanto andava de motocicleta. O acidente acarretou em lesões cerebrais e no sistema respiratório; segundo os médicos, um quadro grave que pode deixar sequelas para toda a vida.

Nildomar está acompanhando um conhecido de sua cidade, que não tem parentes próximos (Foto: Jailson Soares/O Dia)

Para Edivaldo, que já acompanhou uma familiar durante um período de recuperação, apoio é fundamental. “Apesar dele estar sedado, eu acredito que possa ouvir algo, saber que tem apoio. Já fiquei nessa situação com meu pai de 91 anos, que se recuperou após uma queda. Sei o quanto é importante”, destaca.

A corrente de boas energias que se forma entre os que esperam notícias dos pacientes que estão na UTI, assim, é maior que laços sanguíneos. A capacidade de acreditar na melhoria do outro, mesmo diante de dificuldades de saúde, é o que mostra que a luta pela vida acontece não só para quem está na UTI, mas também para quem vive do lado de fora da sala de internação.

 Enquanto há vida, há esperança

A máxima de acreditar na força da fé é também o que acalenta a história da família de Jordânia de Nazaré, que há 42 dias acompanha o desejo de recuperação da mãe, Inocência Melo, internada na UTI do HUT. Prestes a ter alta, a mãe da jovem se recupera das complicações de uma cirurgia de apendicite.

De uma família de sete filhos, as duas moram no Maranhão, mas vieram buscar amparo médico na Capital do Piauí porque um dos filhos de Inocência reside na cidade. Durante todo o período, Jordânia conta que jamais perdeu a fé na recuperação da mãe, mesmo nos dias mais difíceis.

“Minha mãe sentia uma dor abdominal que ninguém descobriu o que era, quando foram fazer a cirurgia, deu complicações e ela teve que ir para a UTI. Eu nunca deixei de acreditar na recuperação porque o maior médico de todos é Deus”, conta.

Dona Inocência passou 16 dias sem recobrar a consciência e Jordância diz que, nesse período, a fé se intensificou ainda mais. Mes mo sem saber se a mãe notaria sua presença, a filha cumpria as visitas diárias e nunca faltou sequer uma tarde para acompanhar o quadro de saúde da matriarca da família.

“Estamos aqui fortalecendo a nossa fé, a família toda unida em orações. É claro que o apoio da equipe médica, enfermeiras, faz toda diferença. Quando saímos do Maranhão, eu disse a ela que viríamos com a determinação de encontrar a sua saúde e sua cura. Assim estamos, esse é um período de fortalecer nossa fé”, relata.


Jordânia está há 42 dias acompanhando o a recuperação da mãe, internada na UTI do HUT (Foto: Jailson Soares/O Dia)

Para a alta da senhora, os médicos aguardam uma melhora no seu quadro respiratório, mas Inocência apresentou, durante todo o período, uma progressão na recuperação. Há mais de um mês na UTI e longe da família, a experiência faz marcar com clareza o que o período representará para todos. “Têm coisas que servem como uma lição para valorizar a família. Se Deus quiser, todos nós vamos sair mais fortalecidos”, explica.

Medicina intensiva: “É a hora que o cuidado faz diferença”

A UTI geralmente é associada a quadros graves de saúde. É quando o paciente receberá não só o aporte humano de médicos, enfermeiros e técnicos, mas a estrutura tecnológica preparada para seu acompanhamento global de saúde. Na responsabilidade por lidar com as vidas encaminhadas para as UTIs, os médicos intensivistas vivem no limiar entre a luta pela vida e a gravidade do risco de morte.

“A medicina intensiva é uma parte da medicina mais nova, são conhecimentos, práticas, que a gente foi adquirindo depois de conquistar suporte tecnológico.

Seguimos uma série de protocolos, lidamos com pacientes que são bem dinâmicos, com grande risco de morte, mas também pacientes que ainda tem perspectiva de mudança para melhor”, explica Milena Cantuário, médica intensivista do HUT.


Milena Cantuário destaca que os médicos precisam administrar o psicológico (Foto: Jailson Soares/O Dia)

O convívio diário entre a vida e a morte de forma tão intensa faz com que os profissionais tenham que administrar o psicológico. Muitas vezes, se envolver com a história do paciente e com sua luta pela vida, é inevitável.

Há cinco anos trabalhando na função, Milena destaca o desafio. “A gente tenta ao máximo não se envolver, porque é uma forma de defesa. O contato com a família é um dos grandes momentos. Ali, você conhece a história de vida daquele paciente e toma ciência que lida com pessoas que têm histórias lindas ou histórias tristes, pode lidar com um jovem que sofreu um acidente ou um bandido que tomou um tiro. Muitas vezes, choramos junto. Com o tempo, vamos criando artifícios para isso atingir menos, porque nós precisamos viver”, lembra.

E a vida é moeda preciosa entre os aparelhos e toda estrutura que existe na unidade intensiva. No local, cada leito é equipado com monitor cardíaco, oximetria de pulso, sondas, máscara de oxigênio, ventilador mecânico, entre outros equipamentos tecnológicos essenciais para o cuidado global da saúde do paciente.

“Aqui, o paciente é avaliado toda hora por todos os sistemas, usamos os monitores para comunicar sinais vitais e assim acompanhamos ele de forma global. O médico pode solicitar exames laboratoriais uma vez ao dia ou exames mais dinâmicos. A verdade é que, na medicina intensiva, é a hora que a gente vê como o cuidado faz a diferença. O paciente que está realmente precisando daquele sistema vai ter uma chance muito maior de vida”, explica Milena Cantuário.

A terapia intensiva talvez seja o ambiente onde o espírito multidisciplinar se torna mais necessário, por isso, não só o médico responsável, mas a equipe composta pelos demais profissionais da saúde são fundamentais para obtenção de bons resultados.

Familiares que acompanham pacientes graves precisam de acolhimento

Dentro do ambiente da UTI, tudo é devidamente preparado para dar o aporte necessário aos pacientes que chegam ao serviço de saúde. Mas do lado de fora da clínica, há também quem precise de um apoio estruturado. Familiares e demais entes queridos são parte importante do processo de recuperação. “As famílias precisam de acolhimento”, destaca a enfermeira Fernanda Karolina.

Há 13 anos, Fernanda atua em UTIs. Mestre em terapia intensiva, ela destaca que o cuidado ao paciente com quadros graves de saúde é global e, nesse processo, a família está envolvida.


Para os profissionais de saúde, a relação com a família se torna intensa durante o tratamento (Foto: Jailson Soares/O Dia)

“A terapia intensiva surpreende, até o estereótipo de que ir para a UTI representava um grande risco de morte vem mudando, porque as pessoas sabem que aqui o paciente vai ser recebido para elevar sua chance de vida. Temos que nos preocupar em oferecer os cuidados tanto para os pacientes quanto para as famílias, que também são partes fragilizadas”, considera.

Para os profissionais de saúde, a relação com a família se torna intensa durante o tratamento. Fernanda lembra que o envolvimento é inevitável. “Muitas vezes, vamos para casa carregando as histórias, ficamos próximos das famílias porque tudo exige uma atenção cuidadosa. Há situações dolorosas de ter que acompanhar os óbitos, mas a satisfação de ver os pa cientes se recuperando é indescritível”, conta.

Nesse ambiente de cuidados intensivos, a saúde ganha o contorno que merece durante toda a trajetória de vida: ela se torna prioridade máxima.

Por: Glenda Uchôa - Jornal O Dia
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