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Surdos chegam a desistir do ensino superior por falta de infraestrutura

Coordenadora de centro de atendimento especializado destaca os desafios diários de acesso à educação das pessoas com deiciência auditiva

07/11/2017 08:15

Educadores defendem a inclusão de Libras na grade curricular das instituições de ensino (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)

Uma minoria discriminada por muitos, principalmente na área da educação, é assim que avalia a coordenadora do Centro de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS- -PI), Elizabeth Coelho, acerca da população de surdos no Brasil. Para ela, falta colocar, na grade curricular, temas relacionados aos surdos e à Língua Brasileira de Sinais (Libras). 
E foram exatamente estes desafios que o tema da Redação do Enem deste ano trouxe para o debate. Segundo Elizabeth, a temática chocou o Brasil por não ser discutida nas salas de aula. Todavia, ela não considerou o tema restrito e afirma que falta conhecimento da população em geral. 
A coordenadora do CAS-PI conta que, ano passado, uma pessoa surda passou em um curso de uma faculdade particular de Teresina, mas acabou desistindo por não ter conseguido um intérprete de Libras para acompanhá-la nas aulas. “Ela ficou lutando para ter intérprete dentro da sala, mas teve que desistir do curso porque não conseguiu, porque a faculdade não deu importância a esse profissional, já que era mais um funcionário para pagar”, pontua. 
Elizabeth ressalta ainda que, além da falta de divulgação das Libras, existem surdos que desconhecem a própria língua. Até mesmo o aprendizado do português é um desafio para os surdos. 
“Eu não oralizo com eles, apenas sinalizo, mesmo eu sendo ouvinte. Para os surdos entenderem o texto escrito em português, eu tenho que interpretar em Libras e, partir da língua deles, que é a Libras, eu ensino o português. Por isso, eles precisam primeiro aprender libras para depois aprender qualquer outra coisa, como matemática. Daí, a importância do surdo saber a própria língua”, explica a professora bilíngue Dejanes Lemos, que ensina língua portuguesa no CAS-PI. 
Inclusão 
Por outro lado, a coordenadora Elizabeth Coelho apresenta um dado positivo: cinco anos atrás, era possível encontrar apenas três surdos no ensino superior. Hoje, são mais de 30 pessoas estudando nas universidades do Estado. “A inclusão de pessoas surdas se expande no Piauí, apesar de precisar melhorar muito mais”, fala. 
Dados da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) apontam que 70 surdos cursam o Ensino Médio no Piauí; e dos 111.418 participantes do Enem 2017 no Estado, 40 deles eram surdos. Segundo o Inep, foram 17 videoprovas traduzidas para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foram realizadas no Piauí. 
Nesse sentido, o CAS-PI oferece curso de Libras em várias modalidades, tanto para pessoas que desejam ser profissionais em interpretar a linguagem como também educa pessoas surdas e deficientes auditivos. 
 “O surdo precisa se igualar às outras pessoas” 
As atenções do primeiro dia de realização do Exame Nacional do Ensino Médio 2017 voltaram-se à comunidade de surdos, que comemorou o tema da redação. Um deles foi o estudante de Letras Libras, Misael Wesley da Silva, que é surdo e fez a prova no domingo (5). 

Misael diz que o tema da redação mostrou que os surdos podem fazem qualquer curso (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)

Ele avaliou que o tema foi de extrema importância, pois mostrou que os surdos podem fazem qualquer curso que desejarem. Segundo ele, os ouvintes – pessoas que não têm deficiência e não são surdos – tiveram dificuldades em abordar o tema por não terem contato com a língua de Libras e com pessoas surdas. Em relação à entrada de surdos no ensino superior, Misael afirma que essas pessoas também desejam modificar suas vidas sendo profissionais. 
“Porque todas as pessoas querem avançar e o surdo, ele quer avançar, ele precisa lutar pelos seus direito, ele precisa cobrar, ele não pode desistir dos sonhos, dos estudos, ele também precisa se igualar às outras pessoas”, gesticula Misael, com a intérprete Marina Cardoso auxiliando a comunicação. 
Para a educação de pessoas surdas, é necessária uma base de profissionais que tenham conhecimento em Libras, afirma Misael. “Realmente há uma grande dificuldade na educação, existem algumas palavras no português que o surdo desconhece, eu sinto, como surdo, essa dificuldade. E eu sei o quanto também o Enem é complicado, os conteúdos que são apresentados”, relata, com o apoio da intérprete. 
O estudante almeja uma vaga no curso de Jornalismo. Em sua redação, ele defendeu que o Brasil precisa desenvolver mais acessibilidade e isso abrange mais oportunidades no mercado de trabalho. “Os ouvintes sentiram dificuldades porque nunca tiveram esse contato, essa atenção para a comunidade surda, nunca tinham visto, nunca aprenderam libras, não conheciam as libras e ficaram questionando sobre este tema, mas ele veio pra que eles conheçam as libras”, relata 

Edição: Virgiane Passos
Por: Letícia Santos
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