Educadores defendem a inclusão de Libras na grade curricular das instituições de ensino (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)
Uma minoria discriminada
por muitos, principalmente
na área da educação, é assim
que avalia a coordenadora do
Centro de Atendimento às
Pessoas com Surdez (CAS-
-PI), Elizabeth Coelho, acerca
da população de surdos no
Brasil. Para ela, falta colocar,
na grade curricular, temas
relacionados aos surdos e à
Língua Brasileira de Sinais
(Libras).
E foram exatamente estes
desafios que o tema da Redação do Enem deste ano trouxe
para o debate. Segundo Elizabeth,
a temática chocou o Brasil
por não ser discutida nas
salas de aula. Todavia, ela não
considerou o tema restrito e
afirma que falta conhecimento
da população em geral.
A coordenadora do CAS-PI
conta que, ano passado, uma
pessoa surda passou em um
curso de uma faculdade particular
de Teresina, mas acabou
desistindo por não ter conseguido
um intérprete de Libras
para acompanhá-la nas aulas.
“Ela ficou lutando para ter intérprete
dentro da sala, mas
teve que desistir do curso porque
não conseguiu, porque a
faculdade não deu importância
a esse profissional, já que
era mais um funcionário para
pagar”, pontua.
Elizabeth ressalta ainda
que, além da falta de divulgação das Libras, existem surdos
que desconhecem a própria
língua. Até mesmo o aprendizado
do português é um desafio
para os surdos.
“Eu não oralizo com eles,
apenas sinalizo, mesmo eu
sendo ouvinte. Para os surdos
entenderem o texto escrito
em português, eu tenho
que interpretar em Libras e,
partir da língua deles, que é
a Libras, eu ensino o português.
Por isso, eles precisam
primeiro aprender libras para
depois aprender qualquer outra
coisa, como matemática.
Daí, a importância do surdo
saber a própria língua”, explica
a professora bilíngue Dejanes
Lemos, que ensina língua portuguesa
no CAS-PI.
Inclusão
Por outro lado, a coordenadora
Elizabeth Coelho
apresenta um dado positivo:
cinco anos atrás, era possível
encontrar apenas três surdos
no ensino superior. Hoje, são
mais de 30 pessoas estudando
nas universidades do Estado.
“A inclusão de pessoas surdas
se expande no Piauí, apesar
de precisar melhorar muito
mais”, fala.
Dados da Secretaria Estadual
de Educação (Seduc)
apontam que 70 surdos cursam
o Ensino Médio no Piauí;
e dos 111.418 participantes
do Enem 2017 no Estado, 40
deles eram surdos. Segundo
o Inep, foram 17 videoprovas
traduzidas para a Língua Brasileira
de Sinais (Libras) foram
realizadas no Piauí.
Nesse sentido, o CAS-PI
oferece curso de Libras em
várias modalidades, tanto para
pessoas que desejam ser profissionais
em interpretar a linguagem
como também educa
pessoas surdas e deficientes
auditivos.
“O surdo precisa se igualar às outras pessoas”
As atenções do primeiro
dia de realização do Exame
Nacional do Ensino Médio
2017 voltaram-se à comunidade
de surdos, que comemorou
o tema da redação.
Um deles foi o estudante de
Letras Libras, Misael Wesley
da Silva, que é surdo e fez a
prova no domingo (5).
Misael diz que o tema da redação mostrou que os surdos podem fazem qualquer curso (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)
Ele avaliou que o tema
foi de extrema importância,
pois mostrou que os surdos
podem fazem qualquer curso
que desejarem. Segundo ele,
os ouvintes – pessoas que
não têm deficiência e não são
surdos – tiveram dificuldades
em abordar o tema por
não terem contato com a língua
de Libras e com pessoas
surdas. Em relação à entrada
de surdos no ensino superior,
Misael afirma que essas
pessoas também desejam
modificar suas vidas sendo
profissionais.
“Porque todas as pessoas
querem avançar e o surdo, ele
quer avançar, ele precisa lutar
pelos seus direito, ele precisa
cobrar, ele não pode desistir
dos sonhos, dos estudos, ele
também precisa se igualar às
outras pessoas”, gesticula Misael,
com a intérprete Marina
Cardoso auxiliando a comunicação.
Para a educação de pessoas
surdas, é necessária uma base
de profissionais que tenham
conhecimento em Libras,
afirma Misael. “Realmente
há uma grande dificuldade
na educação, existem algumas
palavras no português
que o surdo desconhece, eu
sinto, como surdo, essa dificuldade.
E eu sei o quanto
também o Enem é complicado,
os conteúdos que são
apresentados”, relata, com o
apoio da intérprete.
O estudante almeja uma
vaga no curso de Jornalismo.
Em sua redação, ele defendeu
que o Brasil precisa desenvolver
mais acessibilidade
e isso abrange mais oportunidades
no mercado de trabalho.
“Os ouvintes sentiram
dificuldades porque nunca
tiveram esse contato, essa
atenção para a comunidade
surda, nunca tinham visto,
nunca aprenderam libras,
não conheciam as libras e
ficaram questionando sobre
este tema, mas ele veio pra
que eles conheçam as libras”,
relata
Por: LetÃcia Santos