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Solidariedade faz mais de 70 mil caminharem juntos em Teresina

Com o tema 'Servir é o nosso caminho', 20ª edição da Caminhada da Fraternidade foi realizada na manhã deste domingo.

14/06/2015 22:06

"Ó Pai, alegria e esperança de vosso povo, vós conduzis a Igreja, servidora da vida, nos caminhos da história. A exemplo de Jesus Cristo e ouvindo sua palavra que chama à conversão, seja vossa Igreja testemunha viva de fraternidade e de liberdade, de justiça e de paz. Enviai o vosso Espírito da Verdade para que a sociedade se abra à aurora de um mundo justo e solidário, sinal do Reino que há de vir. Por Cristo Senhor nosso”.

Esta oração, adotada pela Igreja Católica como um dos símbolos da Campanha da Fraternidade de 2015, traduz com plenitude o sentimento que dominou as mais de 70 mil pessoas que participaram da 20ª edição da Caminhada da Fraternidade, realizada na manhã deste domingo, 14 de junho.

Sob organização da Arquidiocese de Teresina, este ano a Caminhada teve o tema "Servir é o nosso caminho". Como de costume, o evento foi precedido pela Santa Missa, celebrada do adro da Igreja São Benedito pelo arcebispo metropolitano Dom Jacinto Brito.

Após a liturgia, o líder religioso cumprimentou os participantes pedindo que, durante a caminhada, todos sentissem seus corações sendo acalentados por Jesus Cristo. 

Caminhada foi precedida por Santa Missa, celebrada por Dom Jacinto Brito (Foto: Cícero Portela / O DIA)

Dom Jacinto enfatizou o quanto é animador o evento ter se mantido firme durante tanto tempo. “Vinte anos é um marco significativo. E o importante é que a semente lançada caiu em terra boa e foi se enraizando. A cada ano nós percebemos uma adesão maior. Não só numérica, mas, sobretudo, de consciência. Consciência de que não podemos cruzar os braços diante dos necessitados”, refletiu o arcebispo.

Dom Jacinto também fez uma explanação sobre o papel da Igreja diante da sociedade contemporânea. “A Arquidiocese de Teresina sabe que ela não faz tudo nem é a primeira responsável pelas situações sociais da nossa cidade, mas ela cresce na consciência de que tem a missão de chamar atenção – aquilo que na Bíblia se chama dimensão profética. Proclamar diante do povo que esses que estão sofridos não podem ser esquecidos, que esses que estão à margem têm que vir para o meio, e nós que estamos olhando temos que nos mover ao encontro dessas pessoas. A Caminhada da Fraternidade nos leva a isso: caminhamos ao encontro dos outros, e convidamos quem vai passando a caminhar conosco. Porque muitas mãos podem fazer com que essa ação solidária em favor dos oprimidos encontre mais corações generosos”.

Com 90 anos completados em abril último, Dom Miguel Fenelon Câmara Filho, arcebispo emérito da capital (sentado, à esquerda), também participou da Santa Missa (Foto: Assis Fernandes / O DIA)


O padre Tony Batista, idealizador e maior entusiasta da Caminhada, recorreu ao profeta Ezequiel para dar as boas vindas aos caminheiros. “Assim diz o Senhor Deus: ‘Eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado’”, enunciou o monsenhor Tony.

Desde cedo, multidão lotou as imediações da Igreja São Benedito para acompanhar a Santa Missa, que foi celebrada por Dom Jacinto Brito, arcebispo metropolitano de Teresina (Foto: Assis Fernandes / O DIA)


“A Caminhada da Fraternidade é um desses galhos que o Senhor plantou na cidade de Teresina e no coração de todos nós. Ele plantou e nos entregou a todos nós, para que cuidássemos dele, o que fazemos com responsabilidade e carinho. Hoje, este galho plantado há vinte anos é uma grande e frondosa árvore, abrigando na sua sombra centenas dos pobres de Deus, e alimentando com seus frutos a esperança de muitas pessoas que não tinham mais rumo ou direção. Sem dúvida, a Caminhada da Fraternidade é uma planta que o Senhor plantou e deu certo no solo do nosso coração”, proclamou Tony Batista.

Padre Tony Batista transmite mensagem aos caminheiros antes de maratona (Foto: Assis Fernandes / O DIA)


'O que importa é caminhar sempre junto!'

Este ano a Caminhada da Fraternidade mostrou, mais uma vez, ser um evento universal, reunindo pessoas de todas as idades e classes sociais, de diferentes bairros e até mesmo de outras cidades e Estados.

Com 55 anos de casados, os octogenários Domingos Pedro de Sousa e Rosa Maria participam da Caminhada há mais de dez anos, sempre acompanhados de filhos, netos e de outros familiares. 

A passos lentos, porém firmes, o casal de caminheiros transpôs os cerca de 5 km de trajeto com um vigor invejável – ela carregando 84 anos, e ele, 80. “Nós vamos até o fim porque, além de nos fazer bem, a Caminhada da Fraternidade também serve para ajudar nossos irmãos que precisam mais do que nós. O que importa é caminhar sempre junto!”, afirma Domingos, revelando que o sentimento de solidariedade é o principal combustível para tanta motivação. 

De mãos dadas, casal percorre com obstinação os 5 km do percurso da Caminhada (Foto: Cícero Portela / O DIA)


Como Seu Domingos e Dona Rosa, centenas de outros idosos acompanharam com entusiasmo a festa organizada pela Arquidiocese de Teresina. É o caso das irmãs Vaz – Oscarina (60 anos), Raimunda (78 anos), Maria (80 anos) e Luzia (83 anos). 

Junto dos filhos e dos netos, as quatro irmãs seguiram extasiadas durante todo o percurso – dançando e cantando sem perder o fôlego um instante sequer. “Nós participamos em família desde o começo. E vai ser assim até quando a gente aguentar”, assegura Raimunda Vaz.

Irmãs Vaz querem caminhar pela solidariedade "até quando a idade permitir" (Foto: Cícero Portela / O DIA)


Além dos idosos, a 20ª edição da Caminhada da Fraternidade também contou com a presença de um expressivo número de crianças.  

Marcelo Everton, morador do bairro Todos os Santos, levou consigo a esposa e os três filhos. O caçula, ainda bebê, percorreu o itinerário ora nos braços da mãe, ora em seu carrinho – que, por sinal, foi um dos acessórios mais vistos na edição deste ano da Caminhada, atrás apenas das  sombrinhas e dos bonés.

E o que também não faltou durante a marcha foi a animação dos jovens e adolescentes. A arquiteta Mariel Nunes, 25 anos, e a estudante de Direito Iara Bonfim, 21, integraram a equipe de apoio da Caminhada, orientando os participantes e vendendo água mineral para arrecadar recursos que serão utilizados para bancar as ações sociais da Arquidiocese. Antes, elas já haviam auxiliado na venda dos kits, que incluem uma camiseta e um boné.

Iara Bonfim (esquerda) e Mariel Nunes integraram equipe de apoio da Caminhada (Foto: Cícero Portela)

“O jovem tem que se inserir na sociedade. Ninguém vai levar a gente a sério se não mostrarmos nossa responsabilidade. Do mesmo jeito que o jovem pode se divertir com os amigos no fim de semana, pode viajar e ir para festas, o jovem também pode frequentar a Igreja, se engajar em projetos sociais, e isso faz com que ele se torne uma pessoa muito mais responsável na vida, no trabalho e na família. Eu, hoje, não vejo a minha vida sem a Pastoral, sem ir à missa, sem estar engajada nos projetos da Igreja. Isso já faz parte da minha realidade, e está inserido no meu coração”, opina Mariel. 

De cima de um dos trios elétricos, o padre Tony Batista se surpreendeu ao avistar o grande contingente de pessoas sobre a Ponte Juscelino Kubitschek (vídeo abaixo).

 

"Meus queridos, é impressionante o mar de gente. Nós estamos aqui em frente ao Centro Pastoral Paulo VI, e a caminhada já chega à Avenida de Fátima [Nossa Senhora]. É um mar de solidariedade. É Teresina que não aceita ser feliz sozinha. É um gesto de amor para com os mais precisados", constatou Tony.

‘Nada nos impede de estar aqui hoje’

A cadeirante Maria Francisca da Mata percorreu o trajeto ao lado de outras seis amigas, todas com a mesma limitação funcional. No encerramento da caminhada, nenhuma delas demonstrou cansaço ou arrependimento. Pelo contrário, enquanto aguardavam o transporte para retornar para suas residências elas já confirmaram presença na próxima edição do evento. “Desde que começamos a participar da caminhada nós nunca deixamos de completar o trajeto. Sempre vamos da Igreja São Benedito até a Universidade Federal. Graças a Deus! Nós sabemos que a acessibilidade precisa ser melhorada em Teresina e também em outras cidades, mas isso não nos impede de estar aqui hoje. E no próximo ano viremos novamente”, promete Maria Francisca.

Maria Francisca (terceira da esquerda para a direita) ao lado das seis amigas cadeirantes. Nada pode pará-las (Foto: Cícero Portela / O DIA)


A irmã Rita de Cássia (foto ao lado), que é natural do Pará mas mora em Teresina há 14 anos, observa que o mutirão evangelizador comandado pelo Papa Francisco tem feito com que mais pessoas incorporem em suas vidas o compromisso de praticar os ensinamentos de Cristo.

"Nossa vocação, além de seguir a Jesus, é também a de servir. Se o meu ser religioso é voltado só para mim, não tem sentido. Por isso, é muito gratificante a gente poder testemunhar na Caminhada da Fraternidade uma missão da Igreja de todo o Brasil, que é fazer com que os cristãos tenham mais consciência da sua missão de servir. E não somente os religiosos. Nós estamos num momento em que o próprio Papa Francisco tem chamado a atenção de todos os cristãos para a importância de se dedicar à vocação missionária e de serviço", avalia Rita de Cássia.

Wellington e Firmino exaltam 'papel social' da Caminhada

Ao lado de populares e de assessores, o governador Wellington Dias (PT) acompanhou o evento e ressaltou sua importância social.

Governador percorreu boa parte do percurso (Foto: Cícero Portela / O DIA)

“Este é, seguramente, um dos maiores atos de solidariedade e de generosidade do Brasil e do mundo. Talvez não exista em outra parte do planeta um evento onde quase 100 mil pessoas saiam às ruas, comprando um kit para ajudar outras pessoas, com câncer, com HIV ou que foram abandonadas pela família. Além disso, é um ato cristão, um ato bonito e animado, que cresce a cada ano. Por isso, eu fico muito feliz em participar”, ressaltou o governador. 

O prefeito Firmino Filho (PSDB) também marcou presença na caminhada, e disse que o principal papel do evento é levar paz aos corações dos teresinenses, além de resgatar valores que têm sido perdidos nas últimas décadas. 

Firmino chegou cedo para prestigiar a Santa Missa (Foto: Assis Fernandes / O DIA)

“Aqui nós estamos celebrando valores importantes para as famílias, e que devem ser preservados. Não nos faz bem o excesso de consumismo e de ansiedade em relação aos desejos e aos sonhos. Precisamos preservar os bons valores do passado e nos imunizar contra os maus sentimentos. É legal perceber que, ao longo de 20 anos, essa caminhada se transformou numa tradição em nossa cidade. Um momento em que os teresinenses extravasam os bons valores que herdamos dos nossos antepassados. E o principal desses valores é a solidariedade”, salientou Firmino.

Além deles, vereadores da capital, deputados estaduais e federais  também compareceram ao evento.

‘Teresina é a cidade mais solidária que eu conheço’, comemora Tony Batista

Ao final da caminhada, Dom Jacinto Brito afirmou que, graças à adesão maciça da população, o evento tem possibilitado que a Arquidiocese de Teresina realize ainda mais serviços humanitários, beneficiando um número maior de pessoas.

“Servir nos torna melhores, faz nos sentirmos mais humanos. E a Caminhada da Fraternidade é um grande exemplo disso. Através dela, a Arquidiocese ajuda doentes, ajuda pessoas sofridas e pessoas que a sociedade muitas vezes nem quer ver, mas que nós precisamos ajudar”, pontuou Dom Jacinto.

Com os recursos arrecadados a partir da venda do kit da caminhada, a Arquidiocese financia pelo menos seis entidades que assistem idosos necessitados, crianças em situação de risco, adultos em condições de vulnerabilidade, portadores de hanseníase, soros positivos, dentre outras pessoas que precisam de ajuda.

Mapa mostra percurso da Caminhada, de aproximadamente 5 km (Imagem: Google Maps)

De acordo com a Polícia Militar, nenhum incidente grave foi registrado durante todo o evento. “Nós sempre realizamos o planejamento tático de forma bastante antecipada, em conjunto com a nossa Arquidiocese, de maneira a garantir a segurança de todas as pessoas que vêm ao evento”, afirmou o major John Feitosa, que comandou o efetivo responsável pela segurança da Caminhada.

Além das mais de 30 viaturas da PM, entre carros e motocicletas, o Corpo de Bombeiros também acompanhou o evento, que ainda contou com uma mega equipe destinada a atender caminheiros que, eventualmente, apresentassem insolação, desidratação ou outras enfermidades comuns em pessoas que ficam expostas por muito tempo ao sol.

A Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans) ficou responsável por controlar o fluxo de veículos nas adjacências. À medida que a marcha avançava, as ruas que cruzam com as avenidas Frei Serafim e Nossa Senhora iam sendo liberadas.

Como tradicionalmente ocorre, a Caminhada foi encerrada com a apresentação de grupos musicais ligados à Igreja Católica, num palco montado em frente à sede da Adufpi (Associação dos Docentes da Universidade Federal do Piauí). 

Depois de subir no tablado e cumprimentar os participantes, o padre Tony Batista agradeceu a presença de todos os mais de 70 mil caminheiros e elogiou a generosidade da população teresinense.

“Esta é a cidade mais solidária que eu conheço. Nós somos pobres, mas temos o dom de partilhar. Teresina é uma cidade que sente a dor do outro, por isso eu nunca me senti sozinho nessa missão. E a Caminhada da Fraternidade mostra isso, que somos capazes de reagir, somos capazes de construir um mundo novo, porque sabemos que o pouco com Deus é muito, e o muito sem Deus é nada”, concluiu Tony Batista.

Confira mais fotos da 20ª Caminhada da Fraternidade:

Fotos: Assis Fernandes / O DIA

Sol escaldante não impediu teresinenses de participarem de ato de amor e fé (Foto: Assis Fernandes / O DIA)


Voluntários ajudaram e orientar caminheiros e também venderam kits e água mineral. Dinheiro arrecadado será destinado a instituições filantrópicas mantidas com o auxílio da Arquidiocese de Teresina (Foto: Assis Fernandes / O DIA)

 

 

Fotos: Cícero Portela / O DIA

Major John Feitosa comandou a operação de segurança do evento; ao seu lado o tenente Miguel Luz (Foto: Cícero Portela / O DIA)

 

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