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São Paulo vê turistas do Piauí como potencial; perspectivas do pós-pandemia

O Jornal O Dia embarcou para São Paulo em busca de entender como o Estado se reinventou e se prepara para o "œdaqui pra frente"

09/10/2021 09:20

Corre-corre nos aeroportos, voos chegando e partindo em constância frenética, hotéis lotados, pontos turísticos com intensa movimentação. De repente, tudo fechado, hotéis vazios, voos cancelados, aeroportos num silêncio sepulcral. Todo mundo em casa. Essa cena poderia ser descrita para demostrar a parada de qualquer outro setor da economia durante a pandemia de Covid-19, mas foi o turismo uma das atividades econômicas mais devastadas pelo novo coronavírus.

O estado de São Paulo, principal destino do turismo de negócios do país e um dos mais buscados para o lazer, perdeu 16 milhões de turistas em 2020. O impacto no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado chegou a R$ 46,5 milhões. Para amenizar a queda, o setor precisou de adaptações durante o momento mais crítico da pandemia. Agora, São Paulo tem novas perspectivas e iniciou a retoma do turismo após ultrapassar a marca de 50% da população vacinada contra a Covid-19.

Foto: Jailson Soares/ODIA

O turismo em Teresina (PI) guarda certas coincidências com o de São Paulo. Os negócios também são os principais atrativos da chegada de turistas na capital do Piauí, o lazer começava a despontar antes da pandemia e, como em todo o país, foi afetado gravemente pelas restrições contra o novo coronavírus. Com São Paulo referência no segmento, o Jornal O Dia embarcou para o Estado em busca de entender como as empresas se reinventaram nesse período, as adaptações promovidas no setor e as perspectivas do pós-pandemia. Na bagagem, todos esses questionamentos e mais: cartão de vacina comprovando aplicação das duas doses do imunizante contra a Covid-19, máscara e álcool em gel.

A entrada de turistas em São Paulo já é permitida desde o último mês de agosto, depois que as flexibilizações do Plano SP – estratégias do governo estadual para a retomada segura das atividades econômicas – permitiu a realização de eventos-sociais, feiras corporativas e abertura de museus. O setor foi o primeiro a exigir um evento-teste para avaliar os riscos de contaminação. O Expo Retomada, realizado em Santos-SP, reuniu quase 1.500 pessoas vacinadas e com rígidos protocolos de segurança.

Fases

Desde então, o retorno gradual no Estado foi planejado em três fases. Na primeira, foi permitido o turismo de paulistas dentro do próprio Estado. Logo depois, na segunda e terceira fases, o turismo voltado para outros estados do Brasil. “O retorno dos eventos representa um passo muito importante para São Paulo, mas estamos cuidando para que seja sustentável e não haja retrocessos”, pontua o secretário de Turismo e Viagens de São Paulo, Vinicius Lummertz.

Todo esse processo de retomada é regido pelas audaciosas expectativas do Governo de São Paulo. Na geração de emprego, são esperados somente para este ano a criação de 87 mil postos de trabalho. Já na conjuntura econômica, o turismo deve chegar a representar 7,8% do PIB do Estado. Até agora sentado - no estágio atual, os eventos acontecem com os presentes sentados -, o setor faz grande esforço para estar firme, de pé, a partir de novembro – quando o público será autorizado a acompanhar os eventos de pé.

Hotéis observam crescimento de nova tendência

De quartos vazios no início da pandemia a um novo jeito de atrair hóspedes, o setor de hotelaria de São Paulo é um dos exemplos de como foi preciso se reinventar para manter as operações das atividades. Considerado um serviço essencial, encontrou uma nova tendência de mercado que deve ser intensificada nesse momento de retomada e aprimorada no pós-pandemia.

No Sheraton SP WTC, os quartos ganharam mesas, cadeiras, telefones, internet com mais velocidade. Uma configuração de escritório para atrair profissionais que estavam em home office, mas não necessariamente precisavam ficar em casa. O ambiente serviu de mudança de hábito para o viajante, que pode utilizar os serviços do próprio hotel, como piscina, academia, gastronomia e compras na zona Sul da cidade.

O gerente do WTC, Fernando Guinato, lembra que esse comportamento dos hóspedes deve permanecer incrementado pelo turismo de lazer, que é buscado cada vez mais por quem vista a cidade. “São Paulo é um destino de entretenimento e cultura enorme, mas que acabava se tornando mais conhecido pelos negócios e eventos. Entretanto, essa descoberta do turismo de lazer na capital já vinha se desenvolvendo antes da pandemia”, recorda.

Para Toni Sando, presidente executivo do São Paulo Convention – entidade sem fins lucrativos que atua na captação de eventos para São Paulo - a presença desse tipo de turista independe de temporada, tem potencial de movimentar o setor durante todo o ano e possibilita uma maior estadia.

“Por conta da pandemia, as empresas não liberam os executivos para viajarem, mas na pessoa física, eles viajam, eles levam a família, trabalham seja onde for, tendo internet, e aproveitam o local. Essa tendência cria um novo perfil de consumidor”, comenta Sando.

Setor aéreo e os protocolos de segurança contra Covid-19

Com milhares de pousos e decolagens diários em toda malha aérea nacional, aviões aterrissaram e não levantaram mais voos em março de 2020, no início da pandemia de Covid-19 e na intensificação das medidas restritivas nos estados. Em abril, apenas 8% de toda a capacidade do setor estava em funcionamento e exclusivamente para transportar profissionais de saúde e equipamentos hospitalares. A Gol Linhas Aéreas, por exemplo, saiu de 900 para apenas 50 voos durante o período mais grave.

Agora com as aeronaves ganhando os céus novamente, o desafio é a execução de protocolos de segurança para os passageiros, como aponta Ruy Amparo, diretor de Segurança e Operações da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR). No primeiro momento foi preciso convencer as autoridades sanitárias e, a partir de então, passar confiança aos passageiros de que é seguro trafegar em aviões.

Foto: Jailson Soares/ODIA

“Trouxemos os fabricantes para explicar para a Anvisa que tínhamos segurança. Na aviação moderna, como é o caso da brasileira, temos um sistema de filtragem que é comparado ao de um centro cirúrgico. A circulação de ar de cima para baixo, não importa se o avião está lotado, desde que haja máscara, todos os passageiros estão protegidos”, comenta.

Para ele, protocolos da aviação estão mais voltados para o momento de embarque e desembarque. “O procedimento de embarque e desembarque está diferente. São três fileiras de cada vez. Por que isso? Porque o risco de contaminação no embarque e desembarque é maior que durante o voo”, pontua. O serviço de bordo foi suspenso para garantir que a tripulação siga de máscara – apenas água é servida quando requisitada – e as entregas mesmo só de álcool em gel.

As empresas aéreas retomam gradativamente suas rotas e observam os voos domésticos como tendência. Marcos Oliveira, coordenador Comercial da Gol, avalia que é perceptível também um crescimento na quantidade de pessoas que buscam esse modal para visitar parentes após os quase dois anos de isolamento.

“Temos as pessoas trabalhando dentro de casa de segunda a sexta-feira e elas querem sair. Temos essa demanda reprimida e estamos olhando para isso com a expectativa muito positiva, porque as pessoas querem voltar a visitar seus parentes, amigos. Elas se sentem mais seguras para viajar. Além da retomada dos voos domésticos, tem essa das pessoas que querem visitar parentes”, explica Marcos Oliveira.

Segundo a ABEAR, atualmente o setor opera 74% do volume de voos anteriores à pandemia. Até o final do ano, 90% da capacidade estará em atuação para voos domésticos. Os internacionais, por sua vez, devem chegar a dezembro com 40% de operação. “Com o avanço da vacinação no Brasil e nos outros países, estamos vendo o internacional crescendo de novo”, finaliza Ruy Amparo.

No Piauí, somente dados da Gol Linhas Aéreas mostram que a média de passageiros caiu de 20 mil por mês para 2.400 na pandemia. Atualmente, 7 mil pessoas saem do Estado pela empresa. Em novembro, a expectativa é de que a oferta de voos partindo de Teresina saia de três semanais para um voo diário para com destino a São Paulo.

Estrutura e comunicação

O turismo fechado proporcionou investimentos para esse momento de retomada. As obras de infraestrutura nos municípios do interior do Estado estiveram entre ações que receberam atenção do Governo de São Paulo, aponta Guilherme Miranda, secretário-Executivo da Secretaria de Estado de Turismo e Viagens.

“São Paulo, durante a pandemia, fez muitas ações estruturantes para promover a melhoria, para promover o ambiente de negócios no Estado. Mexemos com crédito turístico que amparou as empresas para passar pela turbulência da Covid-19, repassamos recursos para as cidades do interior de São Paulo para melhorar a estrutura para receber o turista”, disse em entrevista ao Jornal O Dia.

A estratégia agora é unificar com o setor privado as campanhas de marketing para mostrar aos outros estados às potencialidades locais. Toni Sando, diretor da São Paulo Convention, afirma que essa medida de padronização vai desde a utilização do mesmo slogan até as estratégias para atrair turistas ao Estado.

“Geralmente, o governo faz uma campanha, a iniciativa privada faz outra campanha e não necessariamente tem o mesmo nome. Cada um explora mais uma marca, um slogan. E com isso se perde muito. O que fizemos aqui em São Paulo foi unificar a linguagem para falar de São Paulo de uma única forma. A forma como falamos é “São Paulo Para Todos” e o que adaptamos nessa campanha é que mostramos São Paulo com todos os seus atributos e de forma coerente”, disse Toni.

São Paulo ver turistas do Piauí como potencial

Dados apontam que apenas 0,7% do volume de turistas que chegam a São Paulo tem o Piauí como origem. Essa participação é ainda menor quando levado em conta o faturamento. Somente 0,2% da movimentação financeira do setor é realizada pelos piauienses. Essa pequena participação, contudo, é observada por Guilherme Miranda, secretário-Executivo da Secretaria de Estado de Turismo e Viagens de São Paulo, como uma oportunidade para ampliação das relações entre os dois estados.

“Temos um potencial gigante para ampliarmos as relações. Como são viagens distantes entre os estados, naturalmente esse fluxo vai acontecer por via aérea. Por isso que melhorar o ambiente de negócios, ampliar os voos entre os estados é o que vai fazer existir possibilidade e modal para que os turistas venham cada vez mais para São Paulo e o contrário também”, disse em entrevista ao Jornal O Dia.

Por outro lado, os dados apontam que os paulistas representam 3,6% do volume de turistas que entram no Piauí. Essa porcentagem, por sua vez, corresponde a 6,8% do faturamento do setor turístico do Estado. “O paulista é o principal mercado consumidor de várias regiões do Brasil. É um turista que tem um poder aquisitivo médio, um pouco acima da média, dispõe de boas conexões terrestres e aéreas por questões naturais e de quantidade de gente”, completa Guilherme.

A presença de turistas paulistas ou moradores do estado representa o maior volume e faturamento em vários estados da região Nordeste. Bahia, Pernambuco, Rio Grande Norte, Ceará e Maranhão lideram o ranking. No Ceará, por exemplo, 20% do faturamento vêm dos paulistas, enquanto no Maranhão 12,4%.

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