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Riso, a expressão contagiante da felicidade

Na segunda-feira (20) se comemora o Dia da Felicidade, um sentimento que tem o sorriso como um poderoso aliado.

18/03/2017 10:24

Como o bocejo, o riso é contagioso. Dificilmente alguém consegue assistir inerte a uma gargalhada. O sorriso é convidativo. Quando alguém rir, convida o outro a compartilhar daquele momento de alegria. Do outro lado, no entanto, para quem trabalha com humor, fazer rir não é uma missão fácil. Por mais simples que se caracterize o riso, é preciso conquistá-lo, afinal, em essência, ele é a expressão espontânea da felicidade. Rindo ou fazendo rir, o sorriso é um afago compartilhado.

A artesã Raimunda Teixeira, conhecida como Raimundinha, é um exemplo de que o sorriso e a felicidade são contagiantes. É quase impossível permanecer na sua presença sem compartilhar uma gargalhada. E ela conta que desde sempre foi assim. O riso fácil, mesmo diante das dificuldades, a acompanha desde a infância. Filha de uma família de oito irmãos e nascida e criada em um bairro periférico de Teresina, Raimundinha conta que tira do sorriso forças para superar os problemas.

“Apesar de vir de uma família muito pobre, passando por situações difíceis, nunca fui de reclamar. Desde cedo tivemos que trabalhar, comecei com sete anos ajudando minha mãe quebrando coco. Depois, na adolescência eu e meus irmãos fomos fazer tijolos. E todo o tempo foi assim, com o sorriso no rosto. As pessoas até se admiravam, porque era um serviço muito duro, carregando tijolo na cabeça, e vivia sorrindo. Eu tinha tudo pra não ser feliz, mas em nenhum momento pensei nisso. Minha alegria e meu sorriso me fez superar tudo isso, todas essas barreiras”, relembra.

Desde criança, a artesã Raimundinha Texeira tem no sorriso sua característica mais marcante, é dele que ela afirma tirar forças para ser feliz e enfrentar as dificuldades do cotidiano (Fotos: O Dia)

Para quem convive, Raimundinha é sinônimo de felicidade. O sorriso, que se tornou sua marca registrada, confirma isso. Ele irradia, no primeiro contato, quem a artesã é. Até mesmo em situações incomuns, sua gargalhada desencadeia reações. “Já aconteceu de estar em um velório, onde toda a família começou a se encontrar e conversar. Quando menos espero comecei a sorrir sem perceber e algumas pessoas também começaram a rir. uma prima chamou atenção e tive que sair da sala. Tem horas que preciso me controlar para não ficar rindo toda hora”.

Raimundinha não tem dúvidas que o seu sorriso é o reflexo da sua forma de encarar a vida. A artesã conta que também passa por momentos de tristeza e de chateação, mas que não consegue estacionar nessas emoções por muito tempo. Questionada se é feliz, ela prontamente responde que sim e revela que para ela o segredo da felicidade é sempre enxergar uma saída diante dos problemas, por pior que ele possa parecer.

“A felicidade está dentro da gente. Muitas vezes você encontra felicidade na simplicidade. Para mim é estar aqui, tentando contribuir com minha comunidade, é viver bem e ter um bom relacionamento com os moradores. Felicidade é estar sempre disponível para contribuir com o próximo, sem ser egoísta. Fico feliz em saber que com um gesto tão simples eu me sinto bem e consigo fazer com que outras pessoas também se sintam bem. Nunca pensei que esse meu jeito fosse se tornar algo tão marcante”, conclui ela entre uma gargalhada e outra.

Sentimento compartilhado

A antropóloga Verônica Cavalcante é uma estudiosa das emoções. Ela é professora do programa de pós-gradução na Universidade Federal do Piauí, onde ministra a disciplina Antropologia das Emoções. A área trata de enxergar os sentimentos, não somente sob o viés biológico e psicológico, mas também sociológico, analisando a cultura e os grupos sociais aos quais os indivíduos estão inseridos. Além da felicidade, são foco de estudo a gratidão, a fidelidade, o ódio e a violência.

“O que nós, da antropologia, sabemos é que os sentimentos, as emoções, ao contrário do que muitos cientistas acreditavam ser da ordem do psicobiológico, não se trata somente deste recorte. É claro que quando se fala das emoções, para os seres humanos, existe uma dimensão psicológica e biológica que contribui. Entretanto existe outra dimensão, a sociocultural e histórica que define também essas emoções e o sentimento de felicidade”, explica a professora.

Assim, segundo a Antropologia, o que determina o quanto alguém é feliz está relacionado a forma como o indivíduo se percebe diante dos grupos sociais e ao papel que ele ocupa na sociedade. E se as pessoas vivem em comunidade, logo, as emoções são compartilhadas. Sob esse ponto de vista, Verônica comenta que uma pessoa feliz certamente é capaz de desencadear a felicidade para os outros.

“É fato que é muito bom estar perto de alguém que está feliz e desse ponto de vista você amplia suas possibilidades de relacionamento, de se sentir acolhida. O caminho para a felicidade é muito relativo de pessoa para pessoa, porque a felicidade é um sentimento de plenitude, de se sentir inteiro. Para mim, o caminho é justamente o não isolamento, o individualismo que hoje é um problema sério. O ser humano não foi feito para viver sozinho, a felicidade, a plenitude são outros seres humanos”, finaliza.

Por: Yuri Ribeiro - Jornal O Dia
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