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Reservatórios do Piauí se aproximam de volume morto, revela Dnocs

As represas dos municípios de Bocaina e Pio IX, ambas localizadas no Sul do Estado, estão com os menores índices já registrados

22/03/2015 09:20

O volume morto representa a reserva mais profunda de água no reservatório de uma represa. A expressão ficou ainda mais conhecida após o Cantareira, um dos maiores sistemas produtores de água do mundo, em São Paulo, atingir o seu nível crítico de armazenamento. No Piauí, a crise de abastecimento hídrico, principalmente no semiárido, é histórica. No quinto ano de seca seguido, os reservatórios do Estado já apresentam indício de escassez total. Na lista, as represas dos municípios de Bocaina e Pio IX, ambos localizados no Sul do Piauí, estão com os menores índices já registrados.

“Nossos reservatórios estão em uma situação crítica. Monitoramos 25 barragens entre as de nossa responsabilidade e do Estado, e algumas delas já estão próximas a entrar em seu volume morto. Isso é muito preocupante, já que estamos acompanhando a expectativa de poucas chuvas para este ano”, alerta o chefe da equipe técnica do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), Francisco Ribeiro.

O Piauí já iniciou o ano com o nível alarmante em seus reservatórios, com uma média de 32% do volume total. As primeiras chuvas do ano contribuíram para um pequeno aumento na média. Neste mês de março, os locais chegaram a 39%. “As chuvas estão acontecendo, mas são fracas e não conseguem suprir a necessidade de abastecimento”, pontua Francisco Ribeiro.

O reservatório do município de Bocaina, que é abastecido pelo Rio Guaribas, é um dos mais preocupantes. Com capacidade de 106 milhões m³, o local só tem armazenado pouco mais de 15 milhões de m³. O local que servia de ponto turístico, agora, assusta pelo baixo nível de água. Além de Bocaina, a água da barragem também abastece as cidades de Picos, São João da Canabrava, São Luís do Piauí e Sussuapara.

A barragem de Piaus, que abastece a população do município de Pio IX e região, também assusta com os números críticos. Segundo o mais recente levantamento feito através do Dnocs, o local, atualmente, só preserva 1,2% do seu volume. A capacidade total do reservatório é de 24 milhões de m³, mas hoje em dia só conta com 300 mil m³.

“Esses dois reservatórios são fontes essenciais de água para os moradores dessas regiões. Secos, eles irão prejudicar milhares de piauienses”, reforça Francisco Ribeiro. Municípios como Curimatá, Fronteiras, Padre Marcos, Dirceu Arcoverde, Dom Inocêncio, São Raimundo Nonato e São Julião também estão com suas barragens muito abaixo da média.

Em todo o estado, 221 municípios estão em estado de emergência por conta da seca. O Governo do Estado aumentou o prazo de alerta em mais três meses. A secretaria de Defesa Civil atua nas regiões com distribuição de água através de carros pipas para 228 mil piauienses.

Agespisa contabiliza perda de 50% de água produzida

O cenário é um copo totalmente cheio de água que aguarda para ser consumido. Antes de matar a sede do futuro consumidor, metade da água do recipiente é jogada no chão ou desperdiçada de alguma forma. Essa é uma situação que poderia mensurar o nível de perda da água produzida pela Agespisa. A companhia calcula que cerca de 50% da água produzida é perdida, muitas vezes, antes mesmo de chegar ao consumidor final.

“Embora sendo muito alto, esse índice não está muito longe da meta de 38% de perdas constatadas em todo o Brasil. O recomendado seria apenas 35% e nós trabalhamos para isto. O desperdício na Agespisa já chegou a ser de 60%, o que é muito alto. Nos últimos anos, temos trabalhado com a troca das redes de amianto e ferro fundido, já foram substituídos 200 quilômetros em Teresina”, explica o engenheiro da Agespisa, Simon Bolivar.

Atualmente, a Agespisa está produzindo 235 milhões de litros de água por dia em seu complexo de produção, que inclui as três estações de tratamento de água. A produção de água em Teresina também é reforçada por 74 poços existentes em vários bairros, com uma concentração maior na região da Santa Maria da Codipi, zona Norte. Com os poços, a produção diária total de água na cidade chega a 250 milhões de litros.

Segundo o último levantamento anual feito pela companhia, em todo o Piauí, são produzidos 526 milhões de litros por dia. As perdas em todo o Estado coincidem com as perdas na capital, e chegam a 52%. “Temos equipes que atuam, diariamente, na correção de vazamentos. Caso o cidadão tenha conhecimento de algum desperdício de água, basta entrar em contato conosco que rapidamente o problema é resolvido”, destaca o engenheiro.

Outro método para evitar que a população desperdice água é a utilização do hidrômetro. Com a instalação de medidores nos últimos anos, o índice de hidrometração no Piauí subiu de 64% para 85%.

A educação também é forte aliada para reduzir o índice de perda. A Agespisa possui um corpo de profissionais que realizam trabalho de conscientização dos usuários para evitar o desperdício de água. Através de palestras em escolas, entidades e nas comunidades, eventos em praças e mercados públicos, as assistentes sociais da empresa chamam a atenção para a importância do uso racional da água.

Unesco prevê que demanda por água crescerá 55% até 2050

A tendência mundial do fluxo de pessoas que saem do campo para morar em grandes centros tem sido determinante para o aumento do consumo de água. Este fenômeno planetário, e preocupante, é identificado pela Unesco, no Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2015. Nesse cenário, a demanda por água no mundo crescerá 55% até 2050.

Os Brics, países em desenvolvimento formados por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, têm influenciado nessa realidade. O impacto vem apoiado em números: a população mundial deve subir de 7,2 bilhões para 9,1 bilhões em 2050, sendo que 6,3 bilhões viverão em áreas urbanas.

O documento alerta para o risco de agravamento do déficit de água e das disputas por recursos hídricos. Os mais ameaçados, diz a Unesco, são os pobres, as mulheres e as crianças.

“Percursos de desenvolvimento insustentável e falhas de governança têm afetado a qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos (...). A não ser que o equilíbrio entre demanda e oferta seja restaurado, o mundo deverá enfrentar um déficit global de água cada vez mais grave”, aponta o relatório.

Por: Glenda Uchôa
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