A votação e aprovação da
Reforma Trabalhista, tanto
na Câmara como no Senado,
acendeu polêmicas, manifestações e discussões sobre o futuro dos trabalhadores no Brasil.
Sancionada pelo presidente
Michel Temer (PMDB), as
alterações quanto à legislação
que baseia a relação entre empregador e empregado devem
entrar em vigor em novembro
deste ano, mesmo sem que todos os envolvidos entendam o
que de fato vai mudar.
O governo defendia a necessidade da reforma em prol
do controle e organização das
contas públicas e geração de
emprego. A oposição criticou
as manobras para colocar, em
urgência, a votação e alegou
um retrocesso à legislação
trabalhista, afirmando que
haverá perdas de direitos conquistados durante anos pelos
trabalhadores.
Paulo bezerra reconhece que, nos últimos anos, trabalhadores estão se distanciando dos sindicatos (Foto: Moura Alves/ O Dia)
Mas, diante das mudanças
na jornada de trabalho, no período de férias e de descanso,
banco de horas e as definições
do negociado acima do legislado, muitos têm questionado
como será, agora, a atuação das
centrais sindicais. A função desempenhada pelos sindicatos,
iniciada ainda no século XVIII
na Europa, é de defender os interesses comuns dos empregados. Os governistas garantem
que nada vai mudar.
Para Paulo Bezerra, presidente da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), o momento deve, apesar de diminuir a ação dos sindicatos,
atrair cada vez mais filiados.
Isso porque, segundo ele, os
trabalhadores sentirão a necessidade da presença de representantes nas negociações.
“Vamos buscar, com a política
de convencimento, mostrar
que o sindicato é importante nas conquistas e direitos, e
na representação na hora do
fechamento de contratos. O
sindicato é o instrumento de
luta para melhoria da classe”,
ressaltou.
Paulo Bezerra admite que,
nos últimos anos, os trabalhadores tenham se distanciado
dos sindicatos que representam
suas categorias. Para ele, o intenso debate de questões políticas é o principal motivo para
a baixa adesão. “Tivemos o distanciamento porque as centrais
começaram a militar com questões políticas, com o objetivo
de defesa de partidos e políticas
de governo. Isso não pode, não
deve acontecer” disse.
Além disso, de acordo com
o presidente, um dos pontos
que deve afetar diretamente
as centrais é com relação ao
financiamento, a desobrigação
do imposto sindical, que, para
ele, enfraquece a organização.
“Nossa alternativa [da CUT]
é a taxa negocial, discutida em
assembleia com os trabalhadores. Mas, o mais importante
é os sindicatos serem financiados pela taxa associativa, onde
os sindicatos têm que buscar
a filiação dos trabalhadores,
o que aumenta, inclusive, a
questão da representatividade”, defendeu.
Em protesto, as principais
organizações sindicais em
todo o país estão promovendo o “Grito dos Excluídos” a
fim de coletar de assinaturas
em apoio a um projeto de lei
de iniciativa popular que visa
revogar a nova legislação trabalhista. O documento será
entregue à Câmara dos Deputados com o objetivo de fazer
com que as alterações aprovadas na reforma se somem a outras 11 leis revogadas por meio
desse instrumento.
“Política consciente para favorecer
lucros empresariais”, afirma cientista
Os pontos mais polêmicos da Reforma Política é
em relação ao negociado
prevalecer sobre o legislado
e o fato dos desligamentos
ou demissão deixarem de
ser homologadas pela entidade sindical. O cientista político Egmar Oliveira
acredita que a aprovação
dessa nova legislação beneficia apenas o empregador,
uma vez que tanto o governo quanto os congressistas
são financiados em campanhas eleitorais por empresas, que, às vezes, também
são de propriedade de políticos.
Para Egmar Oliveira, problema maior será ampliar a mobilização e atrair novos filiados (Foto: Divulgação)
Para o cientista, a entidade sindical perde força de
representação porque não
terá mais como o trabalhador questionar por meio
do sindicato e da justiça
do trabalho, uma vez que a
flexibilização dos direitos
trabalhistas permite que o
empregador negocie com
o empregado, como, por
exemplo, férias e salário.
“Além disso, o processo de
demissão de funcionários
será tratado por meio de
uma comissão de empregados, retirando essa função do sindicato. Antes da
aprovação da reforma trabalhista, toda demissão era
homologada pela entidade
sindical”, explicou.
Sobre a questão do imposto sindical, que deixa de
ser obrigatório, Egmar Oliveira acredita que esta não
influencia na força de representação sindical, uma
vez que cria uma dependência dessas centrais para
sobreviverem. “O imposto
sindical representa também
a política de conciliação
de classe entre sindicato e
governos à medida que a
criação do imposto sindical
tinha o caráter de atrelar as
entidades sindicais ao governo, e este ter o controle
sobre aquelas”, pontuou.
O cientista confronta ainda a Reforma Trabalhista
com o movimento sindical
aliado a aprovação da lei
das terceirizações. Segundo
Egmar Oliveira, a tendência é a terceirização consumir as atividades fins, o
que pode enfraquecer ainda
mais a representação sindical já que o terceirizado, de
acordo com ele, não possui
estabilidade no emprego e
geralmente seus sindicatos
acatam todas as exigências
da patronal.
Agora, o desafio que se
coloca para o movimento sindical independe de
luta. Diante desse quadro,
o problema maior, para Egmar Oliveira, será ampliar
a mobilização por meio da
desburocratização dos sindicatos e trazer os filiados.
“Será necessário intensificar a formação política e
sindical do filiado para que
o sindicato se mantenha firme no combate a qualquer
tipo ataque por parte da
patronal com o que ainda
resta de recursos quanto ao
que resta da representação
sindical, como greves e mobilizações”, finalizou.
Para advogado trabalhista, reforma
implicará na extinção de sindicatos
Os sindicatos surgiram no
Brasil no século XIX e, desde
então, têm aumentado cada vez
mais o número de entidades
no país. Em maio, o Ministério
do Trabalho lançou um portal
para acompanhar a atuação das
centrais sindicais. De acordo
com os dados apresentados no
site, o Brasil tem 17.183 entidades que arrecadaram, em 2016,
R$ 3,5 bilhões.
Para o advogado trabalhista Mattson Dourado, o fim
da obrigatoriedade do pagamento do imposto sindical deve resultar na redução
desses números. Isso porque,
segundo ele, a tendência será
a perca da principal fonte de
recursos, que é a contribuição. Mas, além disso, o não
recolhimento deve ter como
consequência maior o fim de
algumas entidades.
“Há dados objetivos, inclusive, que mostram que os
sindicatos possuem vários
empregados e um dos maiores impactos será a demissão
desse pessoal, consequentemente, a estrutura vai ficar
mais deficitária e, claro, a
atuação ficará mais precária.
Há muitos sindicatos no país
e a tendência é que aqueles
que estão mais desorganizados, que não tem uma direção
mais proativa, percam espaços, restando apenas aqueles
mais atuantes”, explicou o advogado.
Ainda segundo o advogado, não há uma fiscalização
intensiva com relação à arrecadação dos impostos e como
ele é aplicado. Com a possibilidade de diminuição da
receita, as centrais terão que
racionalizar seus gastos.
Mattson Dourado afirmou
que o momento vai exigir
mais criatividade das centrais sindicais para conseguir
a contribuição voluntária de
seus filiados. “A grande questão dessa não obrigatoriedade
vai ser os sindicatos criarem
meios de se tornarem mais
atrativos para os trabalhadores. Agora, eles terão que
criar novos meios de arrecadação para que o trabalhador
tenha o interesse de contribuir levando em conta a atuação”, disse.
Com isso, o advogado Mattison Dourado acredita que
a Reforma Trabalhista terá
como conseqüência principal
o enfraquecimento dos sindicatos e, consequentemente, a
redução da defesa dos direitos das categorias.
Servidores temem ser atingidos por reformas
Além da reforma trabalhistas, os servidores públicos
temem ser atingidos pelas demais reformas que estão em
pauta no Congresso, como a
Reforma da Previdência. De
acordo com Paulo Bezerra,
que também é presidente do
Sindicato dos Servidores Públicos do Piauí (Sinsep), as
medidas do governo federal
visam diminuir a responsabilidade do estado e reduzir o número de servidores públicos.
“Somado a tudo isso, ainda há a suspensão de reajuste
para os servidores e a redução
da realização de concursos públicos, que o governo está trazendo juntamente com a proposta de privatização para os
serviços públicos. Vai ficar no
estado mínimo e a população
vai ser penalizada”, disse.
Para o presidente, outro agravante é a Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 241,
que limita os gastos públicos.
“Quem vai ficar com esse prejuízo é população, que não vai
ter qualidade no serviço público prestado. Além da proposta de concursos públicos
reduzidos, argumentando que
o serviço público ganha mais
do que na iniciativa privada,
isso vai gerar uma terceirização exacerbada de serviços”,
criticou.
Atualmente, no Piauí, há
cerca de 16 mil servidores públicos federal, somando os da
ativa, os aposentados e pensionistas.
Por: Ithyara Borges