Com o tema “Pelos Sertões”,
o Festival Artes de Março abre
espaço para a cultura nordestina
entrar em cena. As apresentações
de shows musicais estão
acontecendo no mall do Teresina
Shopping, reunindo nomes
consagrados desse cenário. Na
valorização da produção regional,
a programação hoje recebe
Maciel Melo, artista do sertão
pernambucano e reconhecido
no cenário nacional.
Natural da cidade de Iguaraci,
Maciel Melo é visto não
apenas como um cantor e compositor.
Ele, que recriou o forró
nos anos 90, tornou-se uma referência
da música nordestina,
cuja estrutura revolucionou a
partir do xote Caboclo sonhador,
popularizado por Flávio
José e Fagner, e pelo próprio
autor.
O primeiro disco de Maciel
Melo foi lançado em 1989, de
nome “Desafio das Léguas”.
Na estreia o artista sabia que
a caminhada não seria fácil.
Um trabalho ousado para um
desconhecido. O trabalho
contou com a participação de
Vital Farias, Xangai, Dominguinhos,
e Décio Marques, em
um reconhecimento ao talento
de Maciel.
Assim como “Baião” foi
composta por Luiz Gonzaga e
Humberto Teixeira num prédio
comercial no Centro do
Rio, “Caboclo sonhador” foi
feita por Maciel Melo no Centro
de São Paulo, onde passou
algum tempo. O sucesso surgiu
em um dia que lhe vontade
de voltar ao Nordeste, saudades
da família, e, sobretudo, a
resistência para não se enquadrar
num emprego convencional
e largar a música.
Com o passar dos anos,
Maciel Melo foi aperfeiçoando
sua poesia de repente. Se
aprimorou não apenas como
um melodista e letrista, mas
também como um grande cantor,
e não só de suas próprias
composições. O artista faz releituras
de “O Menino e os Carneiros”,
de Geraldinho Azevedo
e Carlos Fernando, “Fuxico” de
Dinho Oliveira, “Flor mulher”
de Aracílio Araújo e Pinto do
Acordeom e “Serrote Agudo”
de José Marcolino (interpretada
da forma como foi composta
originalmente, antes de Luiz
Gonzaga gravá-la, um aboio, a
capella), ou “Chororô”, de Gilberto
Gil.
O forró pé de serra de Maciel
Melo não se limita à sanfona,
zabumba e triângulo. Vale-se
também de violão com baixaria,
sopros, cavaquinho e até
banjo. O artista também não
dispensa a violão ou guitarra
elétrica, nem deixa de reverenciar
a música urbana do litoral.
Mas não é só a instrumentação
que marca o trabalho de
Maciel Melo. A temática de
suas letras é fundamental para
a continuidade do forró que
tem bases em Luiz Gonzaga.
Em suas músicas, as alegrias
e desventuras do amor, o lúdico
e a poesia da cantoria de
viola, que é o DNA do forró,
estão presentes. Seu forró abriga
diversos ritmos, do baião ao
xenhenhem, xaxado, torrado,
arrasta-pé e rojão. E assim se
faz sua música, atemporal.
Além das atrações musicais,
que continuam ao longo
da semana, o Artes de Março
conta com as exposições “Nos
Sertões dos Poetas” do artista
Marcos Pê e “Santo Sertão”
de Sérgio Carvalho. Marcos
Pê mostrará o sertão em cores,
tintas e versos e Sérgio Carvalho
apresentará a religiosidade em
torno de Padre Cícero.