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Namoros mutáveis: amores modernos, iguais e maduros

Em véspera do Dia dos Namorados, O Dia conversa com casais de diferentes realidades e épocas para saber como o namoro é entendido.

10/06/2017 08:42

Imaginar um casal apaixonado que, sentados lado a lado, trocam olhares afáveis, conversas despretensiosas e constatam afinidade entre si, é uma cena que pode acontecer tanto nos dias atuais, como poderia ter acontecido há 50 anos. No entanto, a cena que atravessaria o tempo é uma das poucas constantes quando se trata de relacionamento. A forma de se relacionar afetivamente mudou. Novos comportamentos foram sendo solidificados ao longo do tempo, e o namoro ganha formas novas buscando a mesma receita: vivenciar um grande amor.

O flerte, tido como um ritual de conquista entre um casal enamorado há algumas décadas, deu lugar a uma forma de conquista bem mais rápida, direta, não necessariamente presencial.

Do portão da casa, o namoro migrou para a tela do computador. E os relacionamentos livraram-se de interações sociais difíceis ou complicadas, por exemplo, e tornaram-se muito mais fáceis graças à internet - mas também, muitas vezes, menos duradouros.

É por isso que vivenciar uma relação é, de uma forma cada vez mais comum, uma escolha feita com liberdade e sem pressão de esferas outras da sociedade. Nos tempos modernos, foram superadas as relações por conveniência, que eram arranjadas entre famílias e sobrepunha-se a afinidade do casal. Há algumas décadas, mesmo que os casais arranjados quisessem se aproximar, não tinham sequer direito à privacidade.

Hoje, os relacionamentos servem para solidificar a certeza de um possível compromisso maior, seja ele um casamento oficializado ou apenas o convívio diário de ambas as pessoas. E é por decisão de cada indivíduo e, caso não dê mais certo permanecer na relação, a pressão social para a manutenção do laço afetivo já é bem menor do que foi antes.

Nesta reportagem, O Dia conversa com casais de diferentes realidades e épocas para saber como o namoro é entendido. As três histórias, apesar de se distanciarem em contextos de vida, mostram que há sempre uma constante: o amor.

Amor moderno

Não é preciso muita observação para notar a afinidade nutrida de forma recíproca pelos jovens Maria Clara, 16, e Flavio Anderson, 20. Foi nas conversas que se complementam, no gosto musical similar e na visão de mundo parecidas, que o casal viu que estar junto era sempre melhor que viver separados. Do encontro de certezas, nasceu um namoro. “A gente lembra a primeira vez que se viu”, comenta Flávio.

São poucos meses desde a oficialização do compromisso que começou na internet. Como um casal de jovens do século XXI, as ferramentas do ciberespaço ocupam um lugar de importância na vida de cada um deles. “Eu fui pedir que ela votasse em um concurso que minha banda estava concorrendo e, depois disso, a gente não parou mais de conversar. Eu já a achava interessante, mas pensava que não tinha chances”, relembra Flávio.

Um mês de conversas na rede social até acontecer o primeiro encontro, que serviu para solidificar a afinidade do casal. “Ele inventou uma desculpa para o primeiro encontro, que queria que eu o ajudasse em uma sessão de fotos e iria me ensinar a manusear a câmera, mas no dia, ele nem levou a máquina”, conta Maria Clara entre sorrisos.


Maria Clara e Flávio Anderson

A desculpa foi mais que bem aceita e, ao final do encontro, o primeiro beijo quem deu foi a jovem, que relata a situação ao se gabar da atitude. A liberdade feminina em também ter vez e voz dentro de uma relação, é mais que uma marca dos namoros atuais.

“Quando entrei em casa ele já mandou mensagem dizendo que adorou o encontro e, a partir dali, não paramos mais de sair e nos encontrar”, explica a jovem. Sem pedidos oficiais entre o casal, o namoro dos jovens foi sendo consolidado com o tempo. “A gente foi ficando e um dia o Flávio me apresentou como namorada dele para um amigo. A gente ainda não tem data comemorativa”, acrescenta.

As formalidades passam longe de ser prioridade no namoro dos jovens, que continuam guiados pelo amor, a grande força motriz da relação. “Eu amo muito a Maria Clara e quero muito que nossa relação dê certo”, destaca Flávio em tom apaixonado.

Do mundo real para o virtual, com liberdade e respeito, os jovens mostram que permanecer juntos é uma escolha feita diariamente. “Estamos cada vez mais próximos e acredito que isso só ajuda a manter o namoro”, finaliza Maria Clara.

Amor igual

“Qualquer maneira de amor vale a pena. Qualquer maneira de amor vale amar”. O trecho é de uma música do compositor baiano Caetano Veloso, mas os versos se aplicam muito bem na história de amor dos jovens universitários Claudean Araújo e João Guimarães. Para os jovens, a relação é uma afirmação constante de que, sim, qualquer maneira de amor vale amar.

Há cinco anos e três meses em um relacionamento sério, o casal se conheceu a partir das redes sociais. “Eu adicionei o João no facebook e ele me aceitou. Logo depois trocamos MSN e ficávamos horas conversando. Eu tinha receio do encontro, porque enfim, nunca havíamos nos vistos, mas uma amiga em comum facilitou que a gente se conhecesse pessoalmente”, resgata.

Foi em um show durante um evento cultural que o casal se viu pela primeira vez, e conversou e, de pronto, se apaixonou. Dali em diante, os outros poucos encontros serviram para deixar claro que ambos se sentiam à vontade para começar uma relação mais séria.


Claudean Araújo e João Guimarães

O namoro, apesar de aceito pela família, não foi recebido da mesma forma por toda a sociedade. “Trocamos o relacionamento no facebook e logo depois começamos a receber muitas ameaças e o meu perfil foi parar até em uma página de humor negro. Tivemos que excluir por um tempo”, relembra Claudean.

Olhares tortos e carinhos contidos ainda fazem parte do ambiente de convívio do casal. “As coisas melhoraram muito, as pessoas têm aceitado mais, mas eu ainda evito muita coisa. Sou militante e sempre procuro mostrar que casais homossexuais existem e ninguém mais pode viver dentro do armário, por isso, acho que as coisas vão mudando”, comenta.

E tal como avançam em mostrar para a sociedade que não há diferença entre os tipos de amor, a relação do casal também tem ganhado amadurecimento. O namoro, na visão de Claudean, prepara ambos para um passo a mais, o do casamento.

“O João é meu porto seguro e a gente quer sim casar, acredito que o namoro tem mostrado isso, só precisamos nos estabelecer financeiramente. Mas, por amor, não falta planos”, destaca.

Os jovens mantém uma relação permeada pela certeza de que enquanto houver amor, um casal pode manter-se unido, por mais que outros fatores insistam em duvidar.

Amor maduro

Há mais de meio século juntos, Mércia Moraes e Francisco Miguel sabem do que é preciso para fazer uma relação perdurar por tanto tempo: “é o amor”, constata a senhora. O casal se conheceu em uma época onde, para estarem juntos, não só o interesse recíproco era preciso existir, mas, principalmente, a aprovação familiar.

“Era tudo muito diferente do que é hoje, a gente mal podia pegar na mão um do outro. Abraço? Beijo? Não tinha isso. Meu pai sempre foi muito rígido”, destaca Mércia. A conduta rígida do pai, no entanto, não impediu que o casal se formasse.

Após se apaixonar pela mulher que seria mãe dos seus seis filhos, Francisco Miguel, o Chico, como era conhecido, tomou coragem em pedir a mão da pretendente à família. “Meus colegas falavam que o pai dela era zangado e ofereceram para ir comigo, porque eu era muito tímido. Mas recusei. Fui conversar com ele e pedir a mão da sua filha em casamento”, relembra.

Só com a permissão da família, o casal pôde ter um convívio mais próximo. Mesmo assim, à época, isso apenas significava horas sentados na calçada ou em rápidos passeios supervisionados nas praças da cidade.


Chico Miguel e Mércia Moraes

Foi um ano mantendo o noivado, tempo em que ambos afirmam terem aumentado o sentimento de admiração e amor que sentiam um pelo outro. Para Chico, Mércia era a mulher mais bonita do universo. Para ela, ele era o rapaz mais encantador.

“Casamos em casa e ele me proporcionou muita coisa. Sempre quis viajar e, hoje, já conheço quase todo o Brasil e também a Europa. Não conseguimos dormir separados. É uma relação que eu considero ser, realmente, baseada no amor”, afirma Mércia.

Mas nem sempre houve só momentos bons, a vasta experiência do casal mostra que é possível superar também as brigas e desentendimentos que acontecem no cotidiano. Da fórmula da relação, o ingrediente principal tem sido o amor. “Eu era muito ciumenta, mas o tempo vai ensinando. Hoje é só felicidade em ver nossa família toda bem encaminhada”, comenta.

E a afeição de Chico Miguel pelas letras transformou a história do casal em livros de histórias e poesias. Tendo a esposa como musa inspiradora, no poema intitulado Amor, Sempre Amor, o poeta explica o que tem significado todo o tempo de convívio.

“Mudam-se tempos, vidas e pesares, mas, como outrora, a amar continuaremos. Amo-te mais, não queiras nem saber, amas-me mais, agora é como sempre".

Por: Glenda Uchôa - Jornal O Dia
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