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MP vai ingressar com mais uma ação contra plano de subconcessão da Agespisa

Promotor defende que estado busque novas alternativas para solucionar problema de abastecimento

30/05/2016 07:06

O promotor Fernando Santos, representante do Ministério Público do Piauí que acompanha o caso da subconcessão dos serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto de Teresina, conversou com O DIA sobre o plano do Governo em repassar os serviços para uma empresa privada. Até o momento, ações na Justiça inviabilizam o Governo de colocar em prática o plano da subconcessão. Além de três ações que já tramitam na Justiça Estadual, na Justiça Federal e na Justiça Trabalhista, o promotor confirmou que o Ministério Público vai ingressar com mais uma, questionando que o Instituto de Águas não tem condições de funcionar sem ter funcionários efetivos e sem equipe técnica necessária para atuar. Na avaliação do membro do Ministério Público, o Governo comete um erro ao não ter várias soluções os problemas da Agespisa. “O Governo se fechou na questão do Instituto de Águas. Ele deveria ampliar a discussão com a sociedade e buscar vários caminhos”, relata Fernando Santos. Confira a entrevista:


Foto: Assis Fernandes/ODIA


O Governo quer repassar a concessão para uma empresa privada. O Instituto assumiria e repassaria para uma empresa privada. O Ministério Público é a favor ou contra este repasse?

O Ministério Público não tem posição contra ou a favor da subconcessão. O que temos é uma questão jurídica que antecede a questão de ser contra ou a favor. E são vários pontos que discutimos. A primeira é que, como Teresina faz parte da Região Integrada (Ride), essa decisão não cabe somente a Teresina, ela cabe a todos os municípios que compõem a grande Teresina. Aprovada a subconcessão da forma que está, ela já afeta a cidade de Demerval Lobão, por exemplo, no qual o Estado já vem há vários anos construindo uma adutora para levar água daqui para lá. A segunda é que o próprio contrato de celebração entre Teresina e Agespisa permite a subconcessão, só que subconcessão é parcial. Enquanto que o que foi aprovado pela câmara municipal, é praticamente a concessão completa, já que ficará com a Agespisa apenas a zona rural, que é uma pequena demanda. Na verdade, essa subconcessão da forma que está aprovada possui essas ilegalidades.

O que foi votado na Câmara descumpre o que foi votado no município e Agespisa?

Descumpre

Como isso pode ser mudado?

Na verdade, se for mantida essas decisões, como já requeremos, pois é importante esclarecer que são três ações que têm, mas cada uma com fundamentação diferente. São três ações distintas. Uma ação do Ministério Público Estadual com essa fundamentação, tem uma na Justiça Federal de uma construtora, porque alguns anos atrás a Agespisa firmou um contrato com a construtora Jole para fazer parte desse trabalho que o Município quer subconceder. E existe uma ação na Justiça do Trabalho, no qual a Justiça do Trabalho entende que essa subconcessão é uma terceirização da atividade fim.

A gente sabe que Teresina tem um problema de abastecimento. Em alguns bairros, a água só chega de madrugada. Em outros, ela não chega. Às vezes, chega e a população reclama da qualidade. O Governo alega que não tem recursos para fazer investimentos e a solução seria exatamente a subconcessão. Quando o Ministério Público intervém e diz que há irregularidades nesse processo, ele estaria, de certa forma, inviabilizando essa suposta solução apontada pelo Governo. Como solucionar isso?

Bem, nós temos dito que, antes mesmo do Governo iniciar esse processo de subconcessão, já alertávamos o Governo desses problemas jurídicos. O Ministério Público, antes mesmo de o Governo iniciar esse processo, já alertava que existiriam esses contratos que impediriam a solução apontada pelo Governo. Porém, o Governo insiste que existe essa única possibilidade. No nosso entendimento, o Ministério Público está muito cavalheiro, porque assim que o Governo tomou posse e iniciou essa proposta, o MP já advertiu de que existiam esses problemas jurídicos que impediam essa solução do Governo. Ou seja, a partir disso, era necessário que o Governo estudasse outras possibilidades. E aí o que nos preocupa é que o Governo está vendo que há uma demanda judicial que pode ser resolvida amanhã, mas ela pode ser resolvida daqui um ano ou dois anos. E o Governo, mesmo assim, não procura outras soluções para esse problema do abastecimento de água. O que nos preocupa na verdade é que essa é uma questão que possa demandar muito mais tempo. E isso inviabiliza toda e qualquer proposta. Ou seja, a nosso ver, o Governo já deveria ter buscado outras soluções justamente para resolver esse problema. Porque veja bem, em uma das propostas do Governo, ela já adota imediatamente o aumento na taxa de esgoto, ou seja, a empresa que assumiria já entraria com uma arrecadação que a Agespisa não tem hoje. Porque que o governo não adota isso imediatamente e permite que a Agespisa possa ter uma arrecadação para resolver ou minimizar esses problemas. Porque o Governo não atua no próprio controle da Agespisa, que hoje possui uma perda de água muito grande, porque ele não adota medidas para que essa perda de água diminua. Ou seja, existe uma série de soluções técnicas que o governo pode adotar imediatamente para que solucionasse esse problema já hoje.

O Governo alega que não tem dinheiro para esses investimentos e que como a empresa possui um grande número de dividas de impostos. O caminho então seria a empresa privada fazer o investimento necessário, e ao longo do tempo, além de uma espécie de indenização que o governo pagaria a empresa, ela criaria condições propões de arrecadar e se manter?

Entendemos que o aumento da taxa de esgoto, por exemplo, já é uma arrecadação. Porque o Governo não faz isso agora, só quando a nova empresa assumir. Ou seja, o Governo está deixando de arrecadar hoje algo que ele propõe para empresa privada. E ainda tem outro problema que o governo não tem dado conta, que é o seguinte: nós estamos olhando para Teresina, onde há um problema de água e de esgoto seríssimos, mas se Teresina tem esses problemas, o resto do Estado tem muito mais. E no resto do estado temos muito mais problemas de água e quais são as medidas que o governo tem adotado para resolver isso? E neste aspecto, o sistema hoje da Agespisa ela funciona como esse todo no Piauí. No momento que o Estado separar Teresina do restante, se o Estado não tem condições de resolver hoje Teresina, ele vai ter para o resto do Estado? Ou seja, nós podemos ter a subconcessão e uma situação de caos no interior do Estado, onde temos uma situação pior. Ninguém, em nenhum momento do Estado, falou da situação do esgoto no interior do Estado. Só se preocupam que Teresina tem problema de esgoto e é verdade, mas no interior também tem. E quais são as medidas que o governo propõe para o resto do estado. O governo alega que na medida em que deixar de aplicar em Teresina, vai investir no interior, mas a arrecadação de Teresina é o que sustenta as demais. Ou seja, nós temos hoje um sistema de subsidio cruzado que é o que transmite fazer esse intercâmbio de Teresina para outros municípios. Nós entendemos que do ponto de vista jurídico, que essa solução não é adequada. Mas também do ponto de vista da solução técnica, ela pode trazer mais problema do que soluções. Claro que no momento em que você subconceder o sistema de Teresina, você de fato pode resolver o de Teresina, mas você vai deixar todo o resto do estado em situação gravíssima. E veja bem, quando o governo pensa no estado, ele pensa só em abastecimento de água, ele não pensa em esgoto. Ele pensa esgoto apenas em Teresina. Em nenhum momento se ver isso. Um outro dado importante é o seguinte, o governo alega que a subconcessão vai ter um bilhão de investimentos, mas esse um bilhão é em 40 anos. Esse um bilhão não vai vir em 2017. Esse um bilhão não vai vir em 2016, 2017 e 2018, vai ser em 40 anos. Depois, apenas segundo o próprio cronograma do estado, nós teremos totalmente cobertura de agua daqui a três anos, de esgotamento sanitário isso vai ser ao longo dos anos. Não vai ser imediato. Muitas vezes precisamos ter em mente os números que o estado coloca e o que vai ser em 2016, em 2017, em 2018. Então temos esses problemas que a gente precisa realmente de fato refletir sobre isso.

O Sindicato dos Urbanitários, juntamente com o Sindicato dos Engenheiros, diz que o problema da Agespisa é apenas de gestão. Que tem como se resolver, fazendo investimentos e dizem que a maior parte da divida da Agespisa é de juros e tem como resolver. Eles também acusam que a Agespisa é usada politicamente e possuem pessoas despreparadas ocupando cargos importantes. Além disso, afirmam que o Governo estaria “desmantelando de proposito” a empresa para justificar a subconcessão. Como é que pode ser encontrada a verdade nessas discussões? Como definir quem tem razão?

Eu não posso dizer quanto a essas afirmativas dos sindicatos. Porém, nós temos um dado hoje que será motivo de ação judicial. O Estado tem alegado que uma grande importância é o Instituto de Águas, que deveria substituir a Agespisa. O Instituto de Águas tem 20 funcionários, todos comissionados. Entre essas comissionados estão ex-prefeito municipal, a ex-presidente da Fundac, você tem várias pessoas que não possuem a competência técnica necessária para trabalhar no Instituto de Águas. Ou seja, na verdade, você discute a competência da Agespisa e do Instituto de Águas, mas você não dota esses órgãos de uma equipe necessária para fazer frente a uma questão que é extremamente técnica. Nesse aspecto, nós entendemos e já estamos inclusive com uma ação em andamento porque entendemos que como o Instituto de Águas não tem um cargo efetivo, ele não tem a menor possibilidade de funcionar. Se o Governo alega que a Agespisa não tem condições, o Instituto tem menos ainda.

Nessa ação que está sendo elaborada, o Ministério Público vai questionar a falta de funcionários efetivos do Instituto de Águas ou a falta de competência técnica necessária do pessoal do Instituto de Águas?

A ausência de cargos efetivos. E isso nos coloca uma outra preocupação que é a de que o Governo diz que o a Agespisa não tem condições de levar os serviços para frente, mas ao mesmo tempo cria um outro órgão em que você não dá a estrutura necessária para isso. Ou seja, os dois acabam não tendo competência para fazer. E aí, como vamos resolver os problemas se temos dois órgãos que não tem a competência necessária para solucionar os problemas. E se a gente olhar qual o problema da Agespisa hoje, é de fato uma grande dívida. Neste aspecto, o Sindicato tem razão porque são dívidas previdenciárias, tributarias e trabalhistas, que foram acumuladas ao longo dos anos. Mas será que não é possível o Governo do Piauí discutir essas dívidas junto ao Governo federal para sanar a Agespisa e adotar uma gestão técnica na empresa. O governo não deixou de nomear para cargos comissionados na Agespisa, continua nomeando diretores para cargos comissionados, ou seja, o governo, até o momento, onde eu saiba, não adotou nenhuma medida para solucionar os problemas de Agespisa, do ponto de vista técnico. E você vai matando a Agespisa por inanição, porque não vai adotar as medidas para sanar os problemas e dar ao outro órgão as condições para que ele possa resolver. Ou seja, nós podemos ter lá na frente, se de fato, a Agespisa ser extinta vamos ficar acéfalos em termo de um órgão na questão do abastecimento de água no resto do Piauí? Porque não teremos nenhum órgão com essa capacidade técnica para fazer isso.

No meio de todos esses argumentos, do Ministério Público, do Governo, dos Sindicatos, enfim, há uma população precisando de ampliação do sistema. Quem não tem água quer ter o serviço regularmente. Na sua opinião, a solução para isso teria que ser dada pelo Governo? Não é papel do Ministério Público também apresentar essas soluções?

Exatamente. Nosso papel é fiscalizar a aplicação da lei. O que nós temos alertado, desde o início, é que a solução por ele posta tem problemas jurídicos. Que inviabilizam a prestação efetiva desses serviços de abastecimento de água.

O que dizer para a sociedade neste momento de impasse entre as instituições (Governo, Ministério Público, Sindicatos)?

Se eu tenho um problema, que é o que o Governo enfrenta hoje, já que existem essas três ações que inviabilizam a subconcessão no momento, eu vou insistir nisso e se por acaso essa demanda durar dois, três, quatro anos? O que é mais sensato não seria adotar outras medidas alternativas? Então, eu acho que hoje o Governo deveria procurar outras soluções. E deveria também para iniciar buscar outras soluções junto com os próprios sindicatos do setor, ampliar a discussão com a sociedade para buscar essas soluções. Porém, o governo se fechou numa solução que pode dar certo para Teresina, pode não dar certo para o resto do Estado, mas pode também nem vir a acontecer por conta dessa demanda judicial que foi instalada.


Por: João Magalhães e Robert Pedrosa - Jornal O DIA
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