Os primeiros dias após a
implantação do novo valor da
tarifa de ônibus em Teresina
foram marcados por revolta
entre os usuários do sistema.
Desde a última sexta-feira, 6
de janeiro, os passageiros precisam desembolsar R$ 3,30
em cada viagem. O novo valor
é considerado abusivo pelos
usuários, já que o reajuste de
20% é bem maior do que a inflação medida pelo Índice de
Preço ao Consumidor Amplo,
que fechou 2016 em 6,18%.
“É um reajuste muito elevado e que prejudica demais os
trabalhadores que dependem
do transporte público. É uma
tremenda falta de respeito porque acabam tirando dinheiro
de pais e mães de família para
colocar no bolso dos empresários, donos das empresas de
ônibus”, avalia o aposentado
Francisco de Assis Ribeiro, de
66 anos, que utiliza todos os
dias o ônibus como meio de
transporte.
Teresinenses reclamam do impacto do aumento no final do mês (Foto: Moura Alves/ O Dia)
Para a auxiliar administrativa Fátima Reis, o reajuste é
incompatível com a realidade
econômica dos trabalhadores,
já que, em 2017, o salário mínimo sofreu um acréscimo de
apenas 6,47%, passando de R$
880 para R$ 937. “O trabalhador brasileiro não ganha o suficiente para pagar um reajuste
desse. Quem ganha salário
mínimo vai gastar muito mais
para poder se deslocar até o trabalho. Muitos vão ter que economizar em outras coisas para
poder pagar o ônibus”, avalia.
Para explicar a revolta dos
usuários do sistema de transporte coletivo em Teresina,
basta fazer um cálculo simples.
Com o reajuste, o trabalhador
que recebe um salário mínimo e utiliza o ônibus para se
deslocar até o trabalho, de segunda à sábado, passa a gastar
mensalmente R$ 158,40. O
valor é maior do que era gasto
pelo mesmo trabalhador até
dezembro, R$ 132.
Comparações
Outro dado que chama atenção é o fato de que, com o novo
reajuste, o trabalhador teresinense passa a gastar com passagens de ônibus 40% do valor
gasto com alimentação, levando em consideração dados do
Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que
apontam que o preço da cesta
básica em Teresina fechou o
ano de 2016 em R$ 378,95.
Dependendo da distância,
é muito mais viável para o trabalhador teresinense adquirir
uma motocicleta para se deslocar até o trabalho. Por exemplo,
uma motocicleta de 150 cilindradas percorre, em média, 40
km com um litro de gasolina.
Se a distância percorrida pelo
trabalhador for de 20 km por
dia, o gasto mensal com combustível vai ser de apenas R$
43,20, levando em conta o pre-
ço médio do combustível na
Capital, que, de acordo com
a Agência Nacional de Petróleo, é de R$ 3,60. Os outros
R$ 115 que seriam gastos com
passagem de ônibus podem ser
empregados no pagamento das
prestações do veículo.
Estudantes
Apesar do decreto assinado pelo prefeito de Teresina
manter o congelamento da
meia passagem em R$ 1,05,
os estudantes de Teresina permanecem mobilizados contra
o reajuste da tarifa inteira. A
principal pauta é a má condição da frota que presta o servi-
ço de transporte para os teresinenses. “É um reajuste que não
condiz com a realidade. Os ônibus são sucateados, as paradas
de ônibus são desconfortáveis.
É um sistema que só beneficia
os proprietários das empresas”,
avalia Brenda Marques, estudante de História, da Universidade Federal do Piauí.
Reajuste da tarifa de ônibus para R$ 3,30 também
causa impacto para os empregadores
Além dos usuários, os empregadores, que fornecem vale
transporte aos seus funcioná-
rios, também devem sentir no
bolso o reajuste da tarifa de
ônibus da Capital. Segundo o
vice-presidente do Sindicato
dos Lojistas do Piauí, Tertulino
Passos, os comerciantes devem
enfrentar dificuldades para
adequar o orçamento ao novo
valor da tarifa de transporte.
“O transporte do trabalhador é custeado pela empresa,
isso não tem como ser mudado. Esse reajuste de 20% ficou
muito cômodo para o município, mas para os empregadores
vai causar um impacto muito
grande, porque é um reajuste
bem acima do índice da inflação do período. Ainda não é
possível mensurar o impacto,
porque estamos nos primeiros
dias, mas com certeza vai ser
bem prejudicial. É um reajuste acima até do percentual das
negociações coletivas de trabalho”, pontua.
No caso do setor de comércio varejista, existe a possibilidade de os custos com
transporte dos trabalhadores
serem repassados aos preços
finais dos produtos. “É possível que isso aconteça, mas
não é possível dizer quando.
Esse aumento vai influenciar
bastante. A inflação do último ano ficou em torno de 6%
e o reajuste do transporte foi
de 20%. Para conseguir pagar
esse valor, de 12% de diferen-
ça, os empregadores podem
repassar para os preços dos
produtos”, avalia.
Edição: Virgiane PassosPor: Natanael Sousa