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Major avalia que paredes de distribuidora incendiada estão comprometidas

Corpo de Bombeiros fez uma vistoria do edifício na manhã desta segunda-feira, e concluiu que não há risco de haver um novo incêndio no local.

23/10/2017 12:01

Moradores de um dos condomínios que ficam ao lado da distribuidora que incendiou neste domingo (22) estão preocupados com o risco de desabamento do prédio, que ficou bastante danificado por conta da altíssima temperatura.

Na manhã desta segunda-feira (23), uma equipe do Corpo de Bombeiros comandada pelo major Egídio Leite esteve no local novamente para realizar uma inspeção e verificar se há risco de haver um novo incêndio, por conta dos resquícios das chamas aplacadas ainda na tarde do domingo.

O major Egídio Leite comandou uma vistoria no prédio da distribuidora atingida destruída por incêndio no domingo (Foto: Moura Alves / O DIA)

"As pessoas, com toda razão, têm uma certa preocupação de que o incêndio recomece. Mas a nossa análise é que não há o menor risco. Observamos que ainda há dois focos com pequenas chamas, num restante de material que ainda está em combustão, mas não tem pra onde se propagar, porque não tem mais o que queimar. Quando esses pequenos focos consumirem esse material que ainda existe, haverá a extinção completa das chamas. A princípio, não é necessário fazermos um novo combate [às chamas]", afirma o major.

Egídio também falou que os moradores devem ter cuidado para não inalar a fumaça que ainda é produzida pelas poucas chamas que restam. Todavia, ele acredita que não é necessário que os moradores deixem suas residências, pois a área tem uma "boa ventilação".

Moradores precisaram deixar seus apartamentos às pressas, por conta da altíssima temperatura provocada pelo incêndio no prédio que fica ao lado do condomínio (Foto: Moura Alves / O DIA)

Sobre a estrutura do prédio, o major afirmou que dificilmente ele poderá ser aproveitado, por conta dos graves danos causados pelo fogo. "A nossa análise deve se prender ao incêndio, e só um engenheiro pode efetivamente falar sobre esse risco de desabamento. Mas, pela nossa experiência como bombeiros, observamos que boa parte das paredes, indiscutivelmente, precisarão ser demolidas, porque as rachaduras que nós verificamos inviabilizam o aproveitamento. Pode ser discutido se mantém ou não as vigas de concreto, mas quanto às paredes não há condições. Tem paredes rachadas, outras com uma curvatura muito acentuada, tudo em decorrência da temperatura elevada a que elas foram submetidas", opina o major.

Na manhã desta segunda-feira, os moradores do condomínio que foi mais afetado pela fumaça e pelo calor ainda estavam bastante assustados com o incêndio.

A pedagoga Marília Rodrigues é uma das moradoras do condomínio que foi tomado pela fumaça do incêndio (Foto: Moura Alves / O DIA)

"Foi desesperador. Uma criança pulou do primeiro andar e quebrou o pé. A gente tinha a certeza de que os blocos mais próximos [da distribuidora] seriam atingidos. Foi estarrecedor! Vários recipientes de aerosol voaram em nossa direção, e muitos foram parar até do outro lado da avenida. Quando a fumaça tomou a área do condomínio, todo mundo começou a correr, carregando crianças, animais. Foi um momento de pânico! [...] E a gente aproveita esse momento de angústia pra denunciar a situação do Corpo de Bombeiros. Eles têm uma boa vontade enorme, mas eles não têm equipamentos. O governo tem que olhar pra população, porque numa situação dessas a gente fica completamente vulnerável. Trouxeram toda a estrutura disponível, que eram três ou quatro carros, mas foi insuficiente. Além disso, faltou água em diversos momentos", detalha a pedagoga Marília Rodrigues.

O major Egídio diz entender a aflição dos moradores, mas reitera que eles não precisam se preocupar com a possibilidade de haver um novo incêndio. "É uma distribuidora que tinha vários tipos de produtos, como aerosóis, fraudas e papéis higiênicos. Então, em alguns pontos em que esses materiais se acumularam, depois que os bombeiros saíram, as chamas ressurgiram. Viemos para dar uma tranquilidade aos moradores, que, com toda a razão, estão assustados. O Corpo de Bombeiros entende que as pessoas não enfrentam situações como essa todos os dias, embora para nós, bombeiros, isso seja rotineiro. Elas ficam preocupadas, tanto pela sua integridade física e dos seus familiares, quanto pelo seu patrimônio. Então eu vim, como supervisor deste plantão, para definir se haveria a necessidade de um novo enfrentamento às chamas, o que constatamos que não é preciso", conclui o major Egídio.

Segundo major, praticamente todas as paredes do prédio estão ficaram comprometidas, por conta da alta temperatura, e precisam ser demolidas (Foto: Moura Alves / O DIA)

Ao final de vistoria, major Egídio Leite, do Corpo de Bombeiros, afirmou que risco de incêndio ressurgir está descartado (Foto: Moura Alves / O DIA)

Pessoas que inalaram fumaça devem procurar atendimento médico mesmo que estejam sem sintomas

otorrinolaringologista Victor Campelo diz ser recomendável que as pessoas expostas à fumaça por mais tempo procurem um atendimento médico o quanto antes, mesmo que não estejam apresentando sintomas.

Ele explica que em incêndios como o que ocorreu na distribuidora, em que houve a combustão de produtos químicos variados, a fumaça é ainda mais tóxica que a produzida, por exemplo, pelo fogo numa vegetação.

"Os gases cianeto e o monóxido de carbono agem de forma semelhante, e são os principais vilões nesse tipo de incêndio. Eles são produzidos a partir da combustão de materiais como lã, seda, poliuretanos, poliacrilonitrilas, náilon, resinas de melamina e plásticos. Depois dessa exposição, o ambiente pode ainda ter oxigênio, e o paciente consegue respirá-lo, mas os pulmões não conseguem levá-lo plenamente ao sangue, às células e aos tecidos do organismo, pois as hemoglobinas estão 'ocupadas', preenchidas com essas outras substâncias, pois o cianeto e o monóxido de carbono têm uma afinidade com as hemoglobinas muito maior que a do oxigênio", explica Victor Campelo.

O médico afirma que o calor da fumaça também pode provocar lesões nas vias respiratórias superiores ou até mesmo nos pulmões. "Em locais onde houve incêndios, a saturação de oxigênio no ar fica bastante diminuída. Então, a pessoa já tem a respiração prejudicada nesse aspecto. E ainda há outro fator a ser considerado, que é a possibilidade de formação de edemas nas vias aéreas, provocados tanto pelo calor quanto pelos próprios compostos químicos, o que gera uma obstrução, que reduz ainda mais a passagem do ar. Por isso, as pessoas que são submetidas a ambientes como esse devem procurar atendimento médico mesmo que não apresentem sintomas após a exposição, porque essas manifestações podem surgir mais de 24 horas depois do incidente", explica Victor Campelo, acrescentando que, nestes casos, os pacientes devem fazer a inalação de oxigênio a 100%, por meio de máscaras, para reverter os danos eventualmente causados no sistema respiratório.

O otorrino acrescenta que o risco de danos à saúde é ainda maior para crianças e idosos. E recomenda que, em casos de incêndio, as pessoas afastem-se o máximo possível da região onde há fumaça. "A gente observa que muitas pessoas ficam nas imediações do incêndio, observando ou mesmo filmando, quando o correto seria se afastar o quanto for possível", detalha.

Funcionários da distribuidora acompanharam a vistoria do Corpo de Bombeiros; o proprietário da empresa também estava no local, mas não quis falar com a imprensa (Foto: Moura Alves / O DIA)

    

Por: Cícero Portela
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