Há mais de um ano e meio, cerca de 100 famílias ocupam um terreno no bairro Vale do Gavião, zona Leste de Teresina. Segundo os moradores da Comunidade Alto do Vale, o local estava desocupado e, como eles não tinham para onde ir, decidiram por invadir. Porém, a população que se instalou na terra tem sofrido, diariamente, com o medo de ser despejada.
De acordo com a moradora e uma das coordenadoras da invasão, Ana Márcia dos Santos Carvalho, de 32 anos, o terreno pertencia a um empresário que faleceu e, como não havia documento informando que a propriedade lhe pertencia, seu flho decidiu doá-lo aos moradores que invadiram.
“Quando o flho do dono soube da invasão, ele veio aqui conversar com a gente, mas viu que não tinha mais o que fazer. Então, foi na Prefeitura e viu que o terreno estava para doação. Depois dessa notícia, estamos até mais aliviados e reconhecendo a documentação das pessoas que moram aqui para, quando a Prefeitura vir fazer a regularização, a gente ter como provar que não tem condições de ir para outro lugar”, disse.
Porém, Ana Márcia destaca que o medo de serem despejados é frequente, sobretudo por não terem uma garantia de que o terreno será doado, de fato, para as famílias. Ela cita também que os moradores já ergueram as casas com barro e pau a pique, já outros estão construindo com tijolos; contudo, temem que possam ser removidos e tenham feito um investimento em vão.
Maria dos Milagres está grávida e não tem onde morar (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)
“Aquela pessoa que tem um trabalho mais fxo vai erguendo aos poucos, colocando um tijolo aqui e outro ali. A gente vai arriscando construir, esperando que não derrubem, porque já não temos dinheiro e, o pouco que tem, ser derrubado é muito triste”, fala. Os próprios moradores estão se organizando e fazendo um cadastro de quantas famílias estão ocupando o terreno, assim como a situação econômica de cada uma delas.
“Tem muita gente que ganha apartamento, casa e não precisa, e quem mora aqui é porque realmente não tem para onde ir. Eu morava em uma casa também invadida em José Freitas e passei muita necessidade lá; então, vim para cá. Eu sobrevivo vendendo dindin e fazendo faxina e é com isso que sustento meu flho de dois anos e, em breve, mais dois flhos meus vão vir morar comigo. Quando regularizar, vai ser muito bom para todo mundo”, acrescenta a moradora Ana Márcia.
Maria dos Milagres dos Santos Carvalho, de 36 anos, é irmã de Ana Márcia e também está ocupando um trecho do terreno. Grá- vida, ela conta que não tem onde morar e recorreu à invasão como sendo a única alternativa para conseguir uma moradia para ela e seu flho. “Eu morava na casa da minha outra irmã, mas ela fcava só pedindo de volta; então, eu vim para cá, casei e agora estou grávida”, relata.
Outro lado
Por sua vez, a Superintendência Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Semduh) informou que não há nenhum processo aberto na Secretaria sobre o terreno particular. Para a regularização ser efetivada, a Coordenação tem que ser acionada, mas isso não aconteceu ainda
Moradores temem ser despejados novamente
A situação do sucateiro Luiz
Rodrigues, de 58 anos, é um
pouco mais complicada. Ele e
outras dezenas de famílias invadiram um terreno, também
na região do Vale do Gavião,
que pertence à Prefeitura de
Teresina e, diferente do lote
ao lado, não está para doação.
Ele conta que os moradores
chegaram a ser despejados e
tiveram suas casas derrubadas por tratores três vezes.
Famílias erguem moradias de taipa e pau a pique para morar (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)
“Disseram que não podíamos ficar aqui porque o terreno seria usado para construir um hospital, depois uma
praça, depois falaram que era
área de risco e que não podíamos ficar. Mas como não
fizeram nada, acabamos voltando, porque não temos para
onde ir”, disse.
O sucateiro enfatizou que
morava de aluguel e não tem
para onde ir. A casa de barro,
que ele ergueu, serve de moradia e depósito par guardar
suas sucatas, que é sua única
fonte de renda. “Eu espero
que dê tudo certo, que alguém da Prefeitura diga que
podemos continuar aqui e
que não seremos retirados
das nossas casas”, finaliza
Luiz Rodrigues.
Contraponto
Em nota, a Superintendência de Desenvolvimento Urbano da zona Leste (SDU/
Leste) informou que uma
equipe de fiscalização já está
ciente da situação no bairro
Vale do Gavião. Em abordagem anterior, os invasores
foram retirados de forma
pacífica e informados que a
área ocupada é de domínio
da Prefeitura de Teresina. No
momento, a SDU/Leste está
mobilizando uma equipe para
efetuar o monitoramento e
controlar a invasão.
Por: Isabela Lopes - Jornal O DIA