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Mães de diferentes gerações contam o que mudou na educação dos filhos

Mulheres modernas adiam a maternidade e criam os filhos para o mundo.

07/05/2015 16:17

“Menino, desce daí! Está doido pra cair, não é?”. “E essa menina, meu Deus... Vive mexendo nas minhas coisas, atrás do quê, eu não sei!”. “Não pode ver um sapato quieto que quer botar nos pés e sair desfilando no meio da casa”. Quem nunca ouviu frases assim alguma vez na vida? A impressão é de que as mães são realmente iguais, pelo menos em relação ao instinto protetor, que não desaparece por mais que os tempos sejam outros.

Fotos: Jailson Soares, Marcela Pachêco e Yuri Ribeiro

Lysa e Lucy (de pé), Vicência e Luciana (sentadas) foram quatro gerações da família

“Eu não quero sentir a distância deles. Se ligo e não me atendem, já fico pensando que aconteceu alguma coisa. Aí depois eles retornam e eu digo que só liguei pra saber se estava tudo bem. Aí sim, fico em paz”. A dona da frase, dona Vicência de Araújo, 74 anos, é mãe de oito filhos e não esconde que vê-los crescendo para o mundo foi uma dos maiores desafios de sua vida. “Foi difícil o afastamento. Eu achei que todo mundo ficaria comigo, que se casariam e moraríamos todos em uma casa só. E ninguém se separaria. Nunca”.

Lucy Feitosa, 50 anos, filha de dona Vicência, revela ter o mesmo sentimento da mãe ao se referir a sua própria filha, Lysa Feitosa Maciel. “Eu lembro que quando a Lysa casou, minha casa ficou num vazio enorme e foi um pouco difícil no começo pra me acostumar. Eu ligava quase todo dia e até sabia que devia estar incomodando, mas queria saber se estava tudo bem com ela. Pra mim, são os filhos que preenchem o lar”, conta.


Lucy observa a mãe, Vicência, que tem 74 anos e teve oito filhos

Já Lysa diz ser bem diferente da mãe e da avó. Ela conta que, desde cedo, foi educada por Lucy com uma responsabilidade muito grande e teve que conviver com um pouco da ausência da mãe que trabalhava em um negócio próprio junto com seu pai. “Eu acho que tenho criado meus filhos para que eles se tornem independentes, então eu não faria isso que a vovó e a mamãe fizeram. Eu acredito que estou criando meus filhos para o mundo e não para mim”, diz Lysa, 28 anos. Ela teve seu primeiro filho aos 21 anos.

A avó, dona Vicência, lembra que só começou a trabalhar após a morte de seu marido, porque teve que sustentar os filhos. “Era uma coisa que eu nunca tinha imaginado fazer, já que ele era o provedor da casa e eu me dedicava mais às tarefas domésticas”, conta.

Diferentes gerações discordam sobre a melhor forma de educar

A fala das três gerações de mães da família de dona Vicência mostra o quanto os valores passados dos pais para os filhos podem mudar ao longo das décadas. Enquanto os mais velhos prezavam, e ainda prezam, pela família reunida e os filhos por perto, os mais novos preferem a liberdade de viver intensamente cada momento e garantem que quando suas mães lhes deixam fazer isso, demonstram confiança.


Lysa educa a filha, Luciana, para viver de forma independente

Lucy define essas novas concepções como “inversão de valores” e tece críticas. “Eu acho errado, porque hoje os filhos vivem muito com a ausência dos pais. As crianças passam tanto tempo na escola, que a família só se vê na horas das refeições”. Para a mãe de Lysa, a geração que está surgindo é individualista e dá valor demais à falta de convívio familiar.

Já Lysa diz acreditar que a falta de convívio é resultado das muitas cobranças que a sociedade impõe sobre mães e filhos. “Eu digo muito pro meu marido que ser mãe, mulher, dona de casa e esposa é ser ninja. Você é cobrada pra ser uma boa mãe, cobrada pra ser uma boa filha, você tem que seguir um padrão de beleza, andar arrumada, tem que ter tempo de levar o menino no médico e ainda tem que arrumar tempo pra ficar com seu marido também. Aí as relações se desgastam por falta de convívio e ainda colocam a culpa na mãe que, tecnicamente, é quem deve manter a família reunida”, afirma.

Tempos modernos, maternidade tardia

Para o doutor André Luiz, médico e dono de uma clínica de fertilização em Teresina, as mulheres têm adiado cada vez mais a realização do sonho de ser mãe por conta das inúmeras cobranças que a sociedade lhes impõe em determinados períodos da vida. Segundo ele, mais da metade das mulheres que lhe procuram para fazer tratamento e engravidar estão na faixa etária dos 35 ou acima dos 40.

Isso acontece porque outros planos ganham espaço antes de ser mãe. “Quando muito novas, as mulheres querem primeiro terminar os estudos, depois vem a preocupação em ingressar no mercado de trabalho pra conseguir a independência financeira, então montam uma casa, casam e quando vão pensar em ter filho. Mas aí, infelizmente, o corpo nem sempre responde mais”, diz o doutor André Luiz.


Ele explica que o diagnóstico da infertilidade é um dos maiores baques que uma mulher pode sofrer na vida e um dos maiores desafios a serem vencidos diariamente pela medicina. De acordo com o doutor André Luiz, quanto mais cedo for constatado o problema, maiores são as chances da mulher engravidar e menos dispendioso pode ser o tratamento, uma vez que os métodos utilizados podem ser mais simples.

Cláudia Maria da Silva é um exemplo de mulher que conseguiu engravidar após procedimentos com medicina reprodutiva. Aos 48 anos, ela está numa gestação de três meses, após três anos tentando engravidar. O tratamento feito por ela consiste em uma “ovodoação”, em que a paciente recebe o óvulo de outra mulher por que seu organismo já não tem mais a capacidade de produzi-los.

A alternativa da medicina deixou Cláudia confortável e extremamente feliz. “Pode ser o óvulo de outra mulher, mas essa criança está nascendo em mim, sendo gerada por mim e sou eu que estou lhe nutrindo e lhe dando condições de se desenvolver e isso compensa tudo. É meu filho, independente da forma como foi gerado e vai nascer num ambiente de muito amor e carinho”, diz.

Jovens e mães

Mãe aos 22 anos, a estudante Cindy Elane (foto abaixo) tomou um grande susto quando soube que estava esperando um filho. O seu principal receio era de como dar a notícia aos seus pais. “Eu fiquei muito nervosa, mesmo já estando em um relacionamento de nove anos. Mas ao mesmo tempo eu sabia que nada podia dar errado. Era meu filho, eu estava gerando uma vida. Foi assustador, eu não esperava, mas algo me dizia que tudo ia ficar bem”, diz a estudante.

Ela teve sua filha, Maria Laura Rodrigues Soares, há apenas um mês e 10 dias e se diz a mulher mais feliz do mundo. “O mundo está mundo difícil, então, eu sei que vou ter que preparar minha filha pro que der e vier, pra ser uma pessoa vitoriosa na vida”, finaliza Cindy.

Dalila Leite (foto abaixo), estudante de Engenharia, também não quis esperar muito para ser mãe. Ela engravidou logo após ter se casado, aos 19 anos. “Aa gravidez  é um momento em que passam mil coisas pela sua cabeça, mas você só consegue pensar na vida que está gerando”.

A estudante, que também trabalha como administradora de uma churrascaria, teve que aprender a organizar melhor seu tempo para dar atenção a sua filha. “Eu sei o quanto pode ser difícil para muitas mães de primeira viagem, como eu, mas comigo foi tão natural que tudo que eu faço agora é pensando na Clara. Ela estava em mim e, quando veio ao mundo, me trouxe muitas responsabilidades, mas eu gosto disso, dessa sensação de segurança que eu transmito pra ela.”, finaliza Dalila.

Toda mulher é ‘Mãe desde o primeiro dia’

Pensando na saúde e bem estar das mamães de Teresina, o Sistema O Dia de Comunicação está promovendo, desde ontem (06) o Workshop ‘Mães desde o primeiro dia’. O evento acontece as 19 horas na Praça de Alimentação do 2º Piso do Teresina Shopping e vai até o próximo dia 09 contando com a participação de profissionais especializados no cuidado das mães e dos bebês. O bate papo é gratuito e aberto ao público e será conduzido pelas jornalistas Clarissa Carvalho e Elizângela Carvalho.

Edição: Nayara Felizardo
Por: Maria Clara Estrêla
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