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Logomarca de governo Michel Temer apela à sociedade e sinaliza ao mercado

Especialistas ouvidos por ODIA analisam os motivos que levaram a escolha do slogan e o estilo da marca.

23/05/2016 07:17

A logomarca do governo do presidente interino Michel Temer (PMDB) foi divulgada nas primeiras horas após o Senado aprovar a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). A equipe que cuidou da marca gráfica do novo governo apostou no slogan “Ordem e Progresso”, que para especialistas ouvidos por ODIA, é um termo ligado ao positivismo, que aposta no conservadorismo, e simboliza uma forma de apelar à sociedade por uma paz social, pedindo paciência por um momento, enquanto também sinaliza ao mercado que será criado um cenário político e econômico voltado para as condições de segurança nos investimentos.

O sociólogo Francisco Mesquista, professor da Universidade Federal do Piauí, explica a origem do termo. Segundo ele, o pensador social Augusto Comte, no século XVIII, cunhou o termo para se referir ao processo pós-revolução francesa, em que, segundo sua interpretação, havia uma sociedade desorganizada e uma nação que não estava conseguindo progredir, por conta do processo revolucionário do período.

Fotos: Elias Fontenele/ODIA

“Pela teoria em que o lema Ordem e Progresso foi proposto, era necessário ordenar a sociedade para que ela pudesse progredir. Nada de revolução, de guerra civil, de luta entre trabalhador e patrão. Isso significa dizer que é preciso estabelecer regras e normas que pudessem reorganizar a sociedade dentro de uma perspectiva de um novo projeto político e socioeconômico”, pontua o professor.

Para o especialista, no ponto de vista sociopolítico e histórico, o termo Ordem e Progresso se revela conservador e reacionário, pois tem como base a necessidade de por fim a revoluções que tinham como objetivo, levar a classe trabalhadora ao poder. Mesquita argumenta ainda que no contexto atual, a escolha do novo slogan não é feita à toa. “Podemos colocar que passamos por 13 anos de um governo progressista, de um presidente que vinha das classes populares e conseguiu eleger uma mulher para presidência. O novo governo quer comunicar exatamente um recado para a sociedade, no sentido de é preciso de ordem e tempo para começar algo positivo”, pontua.

O sociólogo argumenta que em seu ponto de vista, o slogan demonstra que o governo está regredindo ao invés de avançar. “Esse lema vem exatamente de um processo de discussão conservador, e tem muito a comunicar, mas ressalte-se que não é de causar estranheza porque todos os setores que apoiaram o debate sobre o impeachment era de certa reacionário e conservador”, conclui.

“Não traz nada de inovador e é pouco criativa”, avalia publicitário piauiense sobre logomarca

Desde o instante em que foi divulgada, a logomarca do governo interino de Michel Temer recebeu uma série de críticas. Uma das primeiras, e provavelmente a mais grave, foi relacionada ao fato da identidade visual criada pelo publicitário Elsinho Mouco possuir o mesmo globo presente da bandeira nacional, mas com apenas 22 estrelas, quando o correto seria 27, que representam todos os Estados e o Distrito Federal. A bandeira que utilizava apenas 22 estrelas é referente a Quarta República (1946-1964) e da Ditadura Militar (1965-1985).

Elsinho argumenta que se tratava apenas de um layout, apresentado equivocadamente. Equívoco ou erro, o fato é que essa situação acabou gerando interpretações variadas. Para o publicitário piauiense, Netto Carvalho, que trabalha como designer gráfico desde 1995, o que aconteceu foi “uma grande mancada” da equipe do marqueteiro Elsinho Mouco. “Aparentemente um erro básico de pesquisa, ainda na formulação do projeto, um mero descuido, nada intencional”, disse.

Por outro lado, há quem defenda que esse “erro” tenha realmente o propósito de fazer uma referência ao passado, época da ditadura militar, mas como não foi bem recebida, divulgaram que vão fazer as correções.

Slogan

Sobre o “Ordem e Progresso”, Netto Carvalho faz a seguinte avaliação: “Embora pouco criativo, já que ele simplesmente se apossou do lema já escrito no nosso símbolo oficial, é forte, e traz, pelo menos na teoria, um sentimento de civismo, necessário nesse momento de descrédito, sobretudo da população com a classe política”.

O publicitário acrescenta ainda que outra meta fundamental ao explorar esse slogan é fazer uma contraposição ao posicionamento do governo anterior deixando subentendido que esse é o momento de “ordenar a bagunça e fazer o país progredir”.

"Ordem é condição necessária para estabelecer projetos", diz cientista político

Para o cientista político Cleber de Deus, também professor da Ufpi, apesar do histórico do tema ser ligado principalmente ao processo de instalação da proclamação da independência no país, a principal marca do discurso do novo governo é que em meio ao clima de instabilidade política, a ordem é condição necessária para criar a estabilidade, com a qual será estabelecida parâmetros e projetos visando estabilizar a economia.

“Qualquer estado de direito precisa de ordem mínima para alcançar seus objetivos e conseguir buscar e implementar medidas que ele defende. Vivemos uma instabilidade política e o principal objetivo hoje é garantir ordem interna, para que a partir de hoje possa lutar pelas mais diversas ordens. A própria ordem na economia através de estabilidade contribui para implantar uma ordem democrática”, pontua o professor.

Ele argumenta ainda que é essa ordem que pode gerar condições econômicas e sociais positivas e refuta qualquer ideia de traço autoritário com o slogan da logomarca do novo governo.

De acordo com o sociólogo Francisco Mesquita, a corrente ideológica que expressa a ordem e o progresso é uma espécie de bandeira do capitalismo. “O capitalismo sempre trabalhou para que tivesse ordem e progresso. Ele precisa de estabilidade, de um ar de tranquilidade, para que tranquilamente o mercado possa produzir”, conclui.

*A matéria completa você confere na edição desta segunda do Jornal O DIA.


Por: João Magalhães e Marcelo Costa - Jornal O DIA
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