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Jornal O DIA, 66 anos de informação e credibilidade no Piauí

Referência pela credibilidade conquistada ao longo de mais de seis décadas, ODIA acompanhou as mudanças, a evolução tecnológica, mas sem perder os princípios que nortearam sua linha editorial

01/02/2017 11:31

Era o ano de 1951: o Piauí vivia sob a efervescência política resultante de sua recém-saída da era do coronelismo que, em decorrência da distância territorial que o separava do centro do poder político federal, que até então se resumia aos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, respingava fortemente nas decisões que, de uma forma ou de outra, traçavam o futuro de uma população com altíssimo índice de analfabetismo, quase 70%. Em Teresina, com 149 anos de fundação e 90 mil habitantes – de acordo com o censo de 1950, o cenário era similar: a diferença gritante entre as classes sociais acentuava-se numa Capital que ainda respirava a fumaça dos incêndios clandestinos que ceifaram vidas e destruíram o pouco que cabia aos mais pobres. 

Fotos: Andrê Nascimento/ODIA

Em meio a tudo isso, dois partidos, PSD e UDN, disputaram as eleições gerais, saindo eleito governador do Estado o comerciante Pedro Freitas. É nesse contexto que surge o Jornal ODIA, fundado pelo empresário Raimundo Monteiro Leão, mais conhecido como Mundico Leão. Com propósitos de apoiar as ações do governo que se iniciava, o primeiro exemplar do jornal chega às ruas exatamente no dia da posse do novo inquilino do Palácio de Karnak: 1º de fevereiro.

Entretanto, em muito pouco tempo, esse acordo seria quebrado em razão de interesses contrariados dos que detinham o jornal recém-criado: de aliado, ODIA passou a atacar, sem trégua, todos os atos de Pedro Freitas. Até então, os exemplares chegavam às ruas apenas duas vezes por semana. Em 1963, o coronel e empresário Octávio Miranda adquire o Jornal ODIA, consciente de que Teresina precisava de um veículo de comunicação que noticiasse o dia a dia da cidade, passando a circular três vezes por semana. Depois de muito esforço e determinação, no dia 31 de março de 1964, ODIA passa a circular diariamente, para espanto de uma cidade que começava a ter contato com um mundo até então pouco conhecido: o das comunicações. 

A partir daí, a sociedade teria um grande aliado que lhe colocaria a par dos acontecimentos da cidade, do Brasil e do mundo. Aquele empreendimento que, aos olhos de quem via a capital piauiense como um vilarejo não vingaria, se constituiria nos olhos e ouvidos da sociedade, com informações, denunciando abusos, se irmanando à população em busca de uma liberdade apregoada há tempos, mas de forma teórica. ODIA passou a ser diário justamente no dia em que era instituída a ditadura militar no País, com a derrubada do Governo João Goulart e ascensão do poder da força que impôs a censura como arma central de uma época de medo e repressão. Mas o empresário e coronel Octávio Miranda, mesmo pertencendo às forças armadas, não se curvou aos crivos da ditadura, driblando a censura e deixando a população informada de todos os acontecimentos ocorridos, bem como de seus desdobramentos.

Em 1981, ao completar 30 anos em atividade, o pioneirismo de ODIA não parou por aí: ao mesmo tempo em que avançava na impressão gráfica do Piauí, cobria os fatos mais relevantes da política com jornalistas comprometidos com a verdade e que traziam o leitor para o centro desses acontecimentos. Criminosos, que antes se escondiam à sombra de padrinhos e compadres, agora eram expostos à avaliação pública em textos bem escritos, respaldados em fatos, nunca em suposições. Com o passar dos anos, ODIA veio se notabilizando pelas reportagens investigativas, entrevistas com personalidades locais e nacionais, grandes momentos da vida política e social eternizados em charges, cartuns e fotojornalismo.

ODIA cobriu amplamente o esfacelamento do crime organizado no Piauí, cuja teia era sustentada por braços vigorosos de setores estratégicos da sociedade. Embora sob ameaças, o jornal cumpriu com seu papel de agente social informando, denunciando, imprimindo com todas as tintas a necessidade de uma mudança urgente, visando livrar a população do avanço desenfreado da organização criminosa que deixava um rastro de sangue e destruição, que já dominava esquemas envolvendo políticos de todas as esferas, bem como instituições até então ilibadas. 

Na mesma linha de atuação, ODIA denunciou a máfia das internações nos hospitais da cidade, com envolvimento de pensões, médicos e outros que serviam de acessórios para enganar pacientes oriundos de vários estados, em busca da cura para suas mazelas, mas caiam na rede de espertalhões que lhes tiravam até o último centavo. Outro caso rumoroso, a morte da estudante Fernanda Lages, também ganhou as páginas de ODIA em reportagens pautadas na verdade revelada pelos fatos, pelas testemunhas, pela ação do Ministério Público. A violência ao cidadão comum foi outro assunto para investigação que contatou vítimas, o poder público e especialistas. Foram muitas as denúncias que resultaram em reação das autoridades competentes, em razão da coerência da linha editorial de ODIA, agora sob a responsabilidade de Valmir Miranda, com a morte de Octávio Miranda, em 2002.

Homicídios que geraram comoção popular ficaram documentados, graças ao trabalho investigativo de ODIA, dentre eles o crime que vitimou Lídia – por não querer manter relações sexuais com o assassino; o assassinato do carteiro Elzano e tantos outros que jamais serão esquecidos pela memória da cidade. Por outro lado, algumas matérias, pelo pitoresco, parecem saídas de folhetins, dentre elas a romaria que se formou no terreno em que havia um pé de cajá que se dizia conter “o coração de Nossa Senhora”. Voltando no tempo, nos anos 70, um homem – vindo ninguém sabe de onde - circulou pelo Piauí e foi chamado de Jesus Cristo por multidões que o acompanhavam em todas as cidades em que andou. No ano 2000, fanáticos espalharam a chegada do fim do mundo, levando muita gente a cometer atos insensatos para sua “salvação”. Mais recentemente, um homem que se diz profeta, arrebanhou famílias para uma casa e, por duas vezes, apregoou o final dos tempos. Tudo isso está registrado, mostrando que o jornal ainda é uma prova documental do cotidiano de uma cidade, de um país.

Com as exigências do mercado, o Jornal ODIA passa a integrar o Sistema ODIA de Comunicação aliando sua experiência às tecnologias mais modernas com a TV ODIA e o PortalODIA.com. Referência pela credibilidade conquistada ao longo de mais de seis décadas, ODIA acompanhou as mudanças, a evolução tecnológica, mas sem perder os princípios que nortearam sua linha editorial delineada por Octávio Miranda.

Por: Marco Vilarinho
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