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Homem sofre acidente de moto e aguarda cirurgia há mais de 72 horas no HUT

Nesta terça, MP-PI divulgou uma nota defendendo o fortalecimento dos hospitais regionais.

19/05/2015 16:56

A superlotação do Hospital de Urgência de Teresina Dr. Zenon Rocha (HUT) é um problema que tem sido observado desde a inauguração da unidade de saúde, em 2008, prejudicando o atendimento aos pacientes e, por consequência, colocando suas vidas em risco.

A situação extrema ocorre porque desde que o hospital municipal abriu suas portas a rede de saúde da capital já era deficitária. E, para piorar, o HUT ainda recebe, todos os dias, dezenas de pacientes oriundos de outros municípios do Piauí e até mesmo de outras unidades da Federação.

No último final de semana, o mecânico Ramon Cardoso de Sousa somou-se às milhares de pessoas que já sentiram na pele as consequências da crise no atendimento do HUT.

No sábado, por volta das 17 horas, Ramon sofreu um acidente de motocicleta no bairro Memorare, zona Norte da capital. Ele foi atendido pelo Samu e encaminhado ao hospital no mesmo dia, sendo submetido a exames de sangue, raio X e ressonância magnética.

O atendimento ao paciente parou por aí. Segundo a esposa de Ramon, Valdinéia Sousa Moraes, o marido fraturou o maxilar e quebrou alguns dentes, sendo necessária a realização de uma cirurgia. No entanto, até a tarde desta terça-feira, 72 horas após o acidente, o procedimento ainda não havia sido realizado, e não havia sequer uma previsão de quando Ramon seria encaminhado para o centro cirúrgico. "Sempre que eu falo com as enfermeiras, elas explicam que o hospital só tem um médico de plantão que faz cirurgia no maxilar, mas até agora ele não teve tempo para atender meu marido", relata Valdinéia, que é cuidadora de idosos e, para não faltar ao trabalho, precisou pagar a uma amiga para acompanhar o marido no hospital nesta terça-feira.

Por conta das fraturas e ferimentos que sofreu, Ramon não consegue se alimentar e sente fortes dores. Além disso, a família reclama que ele não está, sequer, recebendo soro na veia para evitar a desidratação e a inanição.

Coincidentemente, nesta terça-feira o Ministério Público do Estado divulgou uma nota manifestando seu posicionamento acerca da superlotação no Hospital de Urgência de Teresina e da carência de leitos de UTI na unidade. 

O MP-PI pontua que "não só o HUT, mas toda a rede de atendimento não é capaz de dar vazão à demanda existente, especialmente às urgências e emergências". 

Para solucionar uma parte dos incontáveis problemas observados na saúde pública de Teresina e do Estado, o Ministério Público considera que os hospitais regionais precisam ser melhorados, tanto no aspecto estrutural quanto no setor de recursos humanos.

"A Procuradoria Geral de Justiça criou um Grupo de Trabalho Especializado que tem atuado, sobretudo, no fortalecimento dos hospitais regionais no interior do Estado, de modo que o atendimento possa se dar na região de domicílio dos pacientes, e não só na capital, sendo encaminhadas para o HUT apenas as urgências e emergências mais complexas. Foram firmados vários termos de ajuste de conduta, tendo sido cumpridos muitos dos compromissos assumidos. Aqueles que não foram cumpridos, com a mudança de gestão estadual,  vêm tendo os prazos para cumprimento negociados", diz a nota.

O Ministério Público Estadual enumera, ainda, outros fatores que têm debilitado ainda mais a saúde, como o desinteresse de trabalhar no interior, demonstrado por alguns profissionais. "No que respeita à carência de leitos de UTI, esta é uma realidade de todo o país, decorrente de vários fatores, entre os quais, a falta de estrutura dos hospitais do interior da rede para atender a alta complexidade; a carência de profissionais intensivistas no país, uma vez que até mesmo os cursos de formação em terapia intensiva são menos procurados pelos profissionais médicos, e a dificuldade de fixar profissionais intensivistas no interior", pontua o MP.

Dados da Sociedade de Terapia Intensiva do Piauí (Sotipi) mostram que centenas de pessoas morrem a espera de uma vaga de UTI no maior pronto-socorro do Piauí, o Hospital de Urgência de Teresina (HUT). Essa mortes ocorrem, sobretudo, no Setor 1” da unidade de saúde, que recebe pacientes graves que chegam ao hospital e também aqueles que esperam por uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Apenas no período de 10 de abril a 11 de maio deste ano, 193 pessoas perderam a vida no Setor 1. No ano passado, segundo a Sotipi, em três meses 510 pessoas perderam a vida no mesmo local.

Outro lado

Por meio de sua assessoria de imprensa, o hospital explicou que a cirurgia de Ramon Cardoso não foi realizada até agora porque o paciente precisa primeiro ser medicado com antibióticos e anti-inflamatórios, durante sete dias, para que o rosto desinche.

Segundo o diretor geral do hospital, Dr. Gilberto Albuquerque, esse procedimento é comum no setor buco-maxilo-facial. "Esse prazo de sete dias tomando a medicação é necessário antes da cirurgia para reduzir o risco de o paciente ter o rosto deformado, após a intervenção", informa a assessoria de imprensa do HUT.

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