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Evento discute gênero e sexualidade nas escolas

Semana do Orgulho de Ser levanta debates para por fim ao preconceito e desnaturalizar machismo

27/08/2015 07:26

A 11ª Semana do Orgulho de Ser tem como tema “Arranjos familiares na contemporaneidade: quem ama cuida” e entre as discussões do evento, que ocorre ao longo desta semana, destacou-se a mesa redonda sobre “Gênero e Sexualidade no Cotidiano Escolar”. O debate trouxe aspectos importantes sobre a importância de preparar as escolas para derrotar o preconceito e desnaturalizar práticas de machismo e homofobia. 

Marinalva Santana, fundadora e coordenadora do Grupo Matizes, fala sobre a importância de debater o tema e levar a questão para a sociedade. “Recentemente, o termo referente às lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros foi retirado do Plano Municipal de Educação pelos vereadores de Teresina, tomado por uma onda forte de ideologia da bancada religiosa”, cita, acrescentando que levar esses temas para a educação é a única maneira de combater o prconceito no ambiente escolar. 

Para Marinalva, sufocar o debate fomenta o machismo e a homofobia, fazendo com que a violência se mantenha frequente. “Casos como o da garota que sofreu estupro coletivo em um evento acadêmico em Teresina, ou até mesmo o das meninas de Castelo, continuarão sendo recorrentes em nossa sociedade enquanto não conseguirmos desconstruir esses preconceitos”, declara. 

Foto: Assis Fernandes/ ODIA

Para esclarecer sobre o que é gênero, identidade e sexualidade, entre outros temas que abrangem este universo, o projeto Gênero e Sexualidade na Escola, coordenado pela professora doutora Andréa Cronemberger Rufino, é levado aos professores inclusos no Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica. 

De acordo com a especialista, diferente da ideia equivocada de que a inserção do projeto de educação sexual iria ensinar as crianças a serem homossexuais ou a praticarem sexo mais cedo, a educação sobre gênero e sexualidade na escola tem com objetivo mudar o curso da história de repressão sexual e tornar o ambiente escolar para alunos LGBTs confortável, receptivo e acolhedor, promovendo respeito e inclusão da pessoa humana, em sua diversidade. “A homofobia existe na escola e pode ser muito perversa em um momento muito cedo da vida do aluno”, declara. 

Segundo Andréa Cronemberger, a autoimagem de indivíduo é construída também a partir daquilo que dizem a seu respeito. E quando, no ambiente escolar, onde esse indivíduo passa grande parte da sua vida, ele recebe um reforço negativo, através de diversos mecanismos de discriminação, como apelidos e piadas de mau gosto, que tornam o ambiente escolar tão opressor, a pessoa pode até desistir da vida escolar. E, além disto, pode ser a porta de entrada para atos de violência física. Por isto, entre outros fatores, há grande evasão escolar de alunos LGBTs. 

Nesse processo, o papel do professor é de extrema importante, pois, em situações de manifestação de intolerância e desrespeito, quando preparados para lidar, eles podem intervir. Segundo Andréa Cronemberger, quando o educador silencia ao presenciar manifestações de intolerância ou desrespeito de seus alunos, ele favorece a violência discriminatória que constrange alunos LGBTs e trazem sequelas negativas, como baixa autoestima, isolamento, dificuldade de aprendizado e até evasão escolar. 

 Discussão deve ser levada para sala de aula 

A professora Elizete Gomes da Silva trabalha na zona rural do município de União e participou do curso “Gênero e Sexualidade na Escola”. Ela relatou situações em que os conhecimentos adquiridos no curso foram aplicados no cotidiano escolar. “Um dia, uma aluna chegou chorando porque, na hora do recreio, a colega havia lhe chamado de ‘viada’ ‘macho e fêmea’, porque preferiu brincar de pega-pega com os meninos, ao invés de brincar de amarelinha com as meninas. Nisso, eu vi uma oportunidade de tratar do assunto com eles”, declara.

Terminado o recreio, a professora organizou uma roda de discussão com seus alunos para questioná-los o porquê de terem chamado a colega de ‘viada’. “As crianças responderam que ‘viada’, ‘macho e fêmea’ é quando a menina prefere brincar brincadeiras de meninos”, conta. A partir disto, a professora desenvolveu atividades. “Pedi que eles pesquisassem no dicionário o que significa a palavra ‘veado’ para que eles vissem que não era aquilo que pensaram; além disto, pedi que eles colocassem no quadro quais são as brincadeiras de menino e quais são as de menina”, disse Elizete, acrescentando que, em seguida, mostrou aos alunos que não deve haver restrição, que todas as brincadeiras podem ser jogadas por todos, desconstruindo um estigma que é arraigado nestas práticas sociais.

Por: Ana Paula Diniz- Jornal O Dia
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