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Entenda como é feito o abate e por onde a carne passa até chegar à mesa

O Portal O DIA traçou a rota da carne em Teresina. Desde o abatedouro, verificamos como é feito o controle de qualidade desse alimento; veja fotos e vídeo.

26/03/2017 07:43

No último dia 17, a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, deixou a população em alerta para o produto que é distribuído e consumido no país. Pensando nisso, o Portal O DIA acompanhou a rota da carne em Teresina. Desde o abatedouro até o momento em que chega à mesa do consumidor final, verificamos como é feito esse controle de qualidade e quais as garantias de que estamos consumindo um produto em bom estado.

Ao todo, existem cerca de quatro abatedouros de animais regulamentados e fiscalizados pela Superintendência de Desenvolvimento Rural, somente na capital. Destes, um abatedouro é destinado para aves, dois para bovinos, e um para bovinos, caprinos e suínos.

Apesar da fiscalização, o médico veterinário e fiscal da Superintendência de Desenvolvimento Rural (SDR) da Prefeitura Municipal de Teresina (PMT), Domingos Urquiza, destaca que ainda é possível encontrar abatedouros clandestinos na capital. “Não existe cobertura total de todos os abatedouros de caprinos, suínos e aves. No entanto, acreditamos que de bovinos não temos nenhum abatedouro ilegal na cidade. Além dos fiscalizados pelo município, também temos um abatedouro sob fiscalização do Estado”, esclarece.


Foto: Elias Fontinele/O Dia

No maior abatedouro de bovinos do Piauí, localizado no bairro Vamos Ver o Sol, na zona Sul de Teresina, a produção oscila. De segunda a quinta-feira são abatidos cerca de 140 animais. Já durante os finais de semana, esse número aumenta para até 220 animais por dia. Toda carne produzida no local é consumida somente no município de Teresina. Quase a totalidade dos animais abatidos vem dos estados do Maranhão, Pará e Tocantins.

De acordo com o gerente do abatedouro, Maurício Neto, a carne é enviada para os açougues e supermercados de Teresina. Também é destinada para os mercados públicos, como o do Parque Piauí e do Dirceu. É importante frisar que aqui nós apenas abatemos o animal, a carne é distribuída por marchantes que contratam os serviços de abate”, destaca o gerente.


Maurício Neto explica que o abatedouro destina-se apenas ao abate do animal, e que a distribuição da carne é feita por marchantes (Foto: Elias Fontinele/O Dia)

Abate

Na marchantaria, os animais desembarcam em uma rampa localizada no curral. Nesse local, os bois consomem somente água por um período de, no mínimo, 24 horas. O curral é dividido em dois espaços: o de chegada e o de matança.

Segundo o médico veterinário, Domingos Urquiza, os animais só são abatidos caso possuam o Guia de Trânsito Animal (GTA). “Esse documento atesta se esse boi saiu da fazenda vacinado e traz todo o seu histórico. De posse do GTA fazemos um exame anti-mortem para verificar se os animais estão bem. Se eles chegam caídos ou apresentam algum sintoma, é feito um exame clínico mais apurado em que pode ser permitido o abate ou não”, afirma o veterinário.  Caso não seja permitido o abate, o animal é encaminhado para outra unidade da empresa para ser convertido em carne e osso para utilizar em ração animal.

Nos casos em que o abate é autorizado, o animal é encaminhado para um espaço chamado de espaço de atordoamento. Nesse local, um funcionário do abatedouro utiliza uma pistola pneumática para diminuir a sensibilidade do boi. A partir dessa etapa, apenas o coração e os pulmões permanecem funcionando. Ao sair desse espaço, o animal é destinado para uma área de vômito, onde será suspenso por um guincho motorizado para escoamento da água.


O médico veterinário Domingos Urquiza explica que os animais só são abatidos caso possuam o Guia de Trânsito Animal (Foto: Elias Fontinele/O Dia)

Logo após, o animal é encaminhado para a sangria, e só então será abatido. Nessa etapa, é cortada a jugular e a carótida para escoar todo o sangue e assim assegurar a qualidade da carne que será consumida posteriormente. A partir disso, é feita a esfola do animal para retirada do couro e das vísceras. Desde a retirada da cabeça, inicia-se um serviço de inspeção em cada órgão do animal, incluindo o sistema linfático, além da carcaça dianteira e traseira.

Uma equipe de auxiliares procede os exames de rotina e todas as peças que estão suspeitas de apresentarem algum problema são encaminhadas para uma região chamada departamento final, em que o médico veterinário dará o destino para essas peças. “Mesmo após o abate, se for constatado algum problema, poderá ser feita a rejeição parcial ou total do animal abatido”, explica o médico veterinário, Domingos Urquiza.

Ao ser liberada a carcaça do animal, ou seja, os ossos e carnes que serão vendidos para os mercados, açougues e supermercados, é carimbada com um selo do Serviço de Inspeção Municipal. “Se for um frango, ele é resfriado e colocado em um saco com o símbolo do Serviço de Inspeção, se for um bovino é um carimbo. Todos eles têm um número de inspeção”, pontua o médico veterinário.

Comércio

Após sair do abatedouro, a fiscalização passa ser feita pela Vigilância Sanitária Municipal. As carnes carregadas nos caminhões que saem dos abatedouros, seguem para serem comercializadas em diversos pontos da capital. As equipes da Vigilância Sanitária fazem visitas de rotina ou atuam por meio de denúncias dos consumidores, para verificar e atestar a qualidade das carnes vendidas na capital.

O fim da tarde e a madrugada são os horários em que as carnes chegam nesses frigoríficos. “Temos duas equipes que fazem esse controle de qualidade, vendo a estrutura dos estabelecimentos, as condições de armazenamento, e principalmente, verificamos se a carne é clandestina ou não”, destaca o fiscal da Vigilância Sanitária Municipal, Roberto Sérgio.

Segundo o fiscal, a punição para os estabelecimentos onde for constatada a venda irregular de carnes em Teresina, é inicialmente a apreensão da mercadoria. “Nós fazemos a apreensão no sentido de evitar que essa carne imprópria seja colocada para o consumo das pessoas. Além disso, dependendo da ocasião, se houver reincidência, os estabelecimentos podem ser multados ou interditados”, revela Roberto Sérgio.

Saúde

O consumo de carnes fora das normas estabelecidas pela Vigilância Sanitária pode ocasionar diversos problemas de saúde para a população. Segundo a nutricionista Michelle Santos, os principais problemas de saúde estão relacionados às alterações no sistema gastrointestinal dos consumidores. “A pessoa pode ter uma infecção intestinal, ou ficar com o intestino deficiente e não conseguir combater qualquer problema que possa ser causado pela ingestão de alimentos que podem ou não estar estragados”, ressalta.

Além disso, a nutricionista destaca que é comum a manifestação de vômitos, ânsias, diarreias ou dores de cabeça. Em casos de doenças acometidas pelo animal, a nutricionista diz que o contágio vai depender do sistema imunológico de cada indivíduo. “Às vezes pode ser que a pessoa não apresente nada ou apresente uma infecção leve, ou até desenvolver problemas associados com o animal, ou não”, declara.

Todavia, de acordo com a nutricionista, o consumo de carne é indispensável para o bom funcionamento do organismo. “Tudo em excesso pode fazer mal. Pode acontecer de as pessoas apresentarem uma indisposição intestinal por causa da própria digestão da carne. Por isso nós recomendamos um maior consumo de carne branca, porque a carne vermelha demora mais tempo para ser digerida”, conclui.


Consumidor

Fato é que não há como garantir a total qualidade da carne que chega à mesa, pois a contaminação pode ocorrer quando o animal ainda está vivo, ou no momento do abate, ou ainda no transporte para os locais de venda. Nestes, a manipulação errada também pode contaminar o produto.

Por causa desses riscos, muitos consumidores evitam consumir carne de determinados locais. É o caso da assistente administrativa Gardênia Silva, que evita comprar carne em mercados públicos por medo da exposição dos produtos em locais abertos.


Fotos: Elias Fontinele/O Dia

Ela conta que no Mercado do Parque Piauí, a carne chega à noite e fica exposta até o outro dia de manhã, quando é a feira. “Por isso, sempre evitei comprar lá e comprava nos supermercados. Mas agora, com essa operação, nem a carne que a gente compra nos supermercados está livre de contaminação. O consumidor fica em um beco sem saída, sem saber o que fazer”, lamenta.

O fiscal Roberto Sérgio alerta para algumas situações que podem ser verificadas pelos próprios consumidores. Entre elas, a estrutura e higiene dos estabelecimentos, a forma como a carne é manipulada e exposta nos frigoríficos e ainda o uniforme utilizado pelos funcionários responsáveis por manipular o produto. “É importante ficar atento também à cor e ao cheiro que a carne exala”, acrescenta.

Em caso de denúncias, o consumidor pode entrar em contato com a Vigilância Sanitária através do número (86) 3215-9102.

Por: Nathalia Amaral
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