A cidade de Teresina ganhará, nos próximos meses, o
primeiro espaço público em
homenagem à cultura e às religiões de matriz africana, Umbanda e Candomblé. A Praça
dos Orixás vai ser erguida no
bairro São Joaquim e faz parte das intervenções realizadas
através do Programa Lagoas
do Norte.
A assinatura da ordem de
serviço para a execução da
obra aconteceu ontem (1º),
em uma solenidade realizada
no terreiro do Pai Oscar de
Oxalá, e contou com a presença do prefeito Firmino Filho,
do diretor do Banco Mundial
para o Brasil, Martin Raiser, e
de diversas lideranças religiosas que participam do movimento negro em Teresina.
Assinatura da Ordem de Serviço reuniu autoridades e militantes (Foto: Moura Alves/ O Dia)
Orçada em cerca de R$ 500
mil, a nova praça vai contar
com 13 esculturas de entidades representativas do Candomblé e da Umbanda, além
de um palco para apresentações artísticas e culturais.
De acordo com o secretário
municipal de Planejamento,
Washington Bonfim, a ideia
é valorizar as manifestações
culturais da cultura negra,
que, em grande parte, estão
concentradas na zona Norte
de Teresina.
“Uma grande conquista dos
povos de terreiro. A construção dessa praça é algo que vem
sendo discutido há muito tempo junto com as lideranças. É
um passo importante, porque
traz luz à tradição mais viva
da zona Norte da cidade, que
é a Umbanda e o Candomblé”,
destacou o secretário.
Líderes religiosos e militantes comemoram novo espaço
A ideia da Praça dos Orixás
começou a ser discutida em
2012, durante o Seminário
'Sustentabilidade e Cultura:
Um Norte para Teresina'. Em
2014, o projeto de concepção
do espaço foi apresentado aos
pais e mães de santo. Para Assunção Aguiar, do grupo Coisa de Nêgo, a construção da
praça vai ser fundamental para
a mudança de pensamento da
sociedade em relação às religiões de matriz africana.
Pais e mães de santo aprovam iniciativa (Foto: Moura Alves/ O Dia)
“Nosso povo, ao longo dos
anos, tem sido invisível. A
praça possibilita, para todos
nós, um espaço onde a gente
pode dizer para as pessoas os
significados das nossas divindades, além de desmistificar o
que as pessoas chamam de demoníaco”, avalia Assunção, ao
garantir que o acesso à Praça
dos Orixás não vai ser restrito
aos praticantes de religiões de
matriz africana. “A ideia é que
seja um espaço para todos”
pontua.
Para o pai de santo Rondinele de Oxum, coordenador do Centro Nacional de
Africanidade e Resistência,
a construção da Praça dos
Orixás representa um marco
na luta contra o preconceito
religioso no Estado do Piauí.
“A Praça dos Orixás é uma
conquista do movimento de
terreiros. É um momento
onde a gente vai combater
qualquer tipo de preconceito religioso, em um espaço
onde está concentrado o
maior número de terreiros,
que é a zona Norte de Teresina. Recebemos isso como
um presente”, destaca.
Para o babalorixá Flávio de
Iansã, um dos mais antigos líderes da Umbanda na zona Norte
da Capital, a construção da Praça dos Orixás vai contribuir para
aproximar a população das manifestações religiosas tradicionais
africanas. “O preconceito está
diminuindo, mas, infelizmente,
ainda existe em Teresina. Essa
praça vai ser fundamental na luta
contra o preconceito, além de ser
mais um cartão postal para nossa
cidade”, destaca.
Durante solenidade, moradores protestam contra desapropriação
A assinatura da ordem de
serviço para execução da obra
da Praça dos Orixás também
foi marcada por protestos.
Moradores da Avenida Boa
Esperança, que podem ser
desapropriados por conta da
execução das intervenções da
segunda etapa do Programa
Lagoas do Norte, levaram cartazes para questionar a viabilidade do projeto.
“Esse dinheiro, que vem do
Banco Mundial, deve ser utilizado para dar mais dignidade
à região e não para retirar as
pessoas de suas casas. A nossa reivindicação é que façam
o projeto, mas deixem as pessoas em suas casas”, afirmou
Isabel Jardim, moradora do
bairro Mafrense.
Manifestantes não querem sair do bairro (Foto: Moura Alves/ O Dia)
Segundo os manifestantes,
a Prefeitura não disponibiliza
informações concretas sobre
as intervenções que vão ser
realizadas na zona Norte. “As
pessoas estão ficando deprimidas, porque elas não sabem
qual é o futuro delas. Ninguém mais constrói, pinta, ou
faz qualquer coisa na sua casa,
porque não sabe se vai ficar ou
não” destaca.
Contraponto
Sobre as reivindicações dos
manifestantes, o secretário de
Planejamento, Washington
Bonfim, afirmou que nenhuma intervenção vai ser realizada na Avenida Boa Esperança e em outras áreas, antes
de uma definição através do
contato entre Prefeitura e população.
"Tenho certeza que vamos
chegar a bom termo, desde
que os interesses reais da população sejam respeitados. A
definição do prefeito é só iniciar algum tipo de intervenção física, após se chegar a um
consenso sobre o que fazer.
Esse debate está em andamento e a Prefeitura vai insistir no
debate”, declarou.
Edição: Virgiane PassosPor: Natanael Souza