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Construção de praça dá visibilidade à cultura negra

Praça dos Orixás será o primeiro espaço público em homenagem à cultura e às religiões de matriz africana

02/11/2016 09:12

A cidade de Teresina ganhará, nos próximos meses, o primeiro espaço público em homenagem à cultura e às religiões de matriz africana, Umbanda e Candomblé. A Praça dos Orixás vai ser erguida no bairro São Joaquim e faz parte das intervenções realizadas através do Programa Lagoas do Norte. 
A assinatura da ordem de serviço para a execução da obra aconteceu ontem (1º), em uma solenidade realizada no terreiro do Pai Oscar de Oxalá, e contou com a presença do prefeito Firmino Filho, do diretor do Banco Mundial para o Brasil, Martin Raiser, e de diversas lideranças religiosas que participam do movimento negro em Teresina. 

Assinatura da Ordem de Serviço reuniu autoridades e militantes (Foto: Moura Alves/ O Dia)

Orçada em cerca de R$ 500 mil, a nova praça vai contar com 13 esculturas de entidades representativas do Candomblé e da Umbanda, além de um palco para apresentações artísticas e culturais. De acordo com o secretário municipal de Planejamento, Washington Bonfim, a ideia é valorizar as manifestações culturais da cultura negra, que, em grande parte, estão concentradas na zona Norte de Teresina. 
“Uma grande conquista dos povos de terreiro. A construção dessa praça é algo que vem sendo discutido há muito tempo junto com as lideranças. É um passo importante, porque traz luz à tradição mais viva da zona Norte da cidade, que é a Umbanda e o Candomblé”, destacou o secretário. 
Líderes religiosos e militantes comemoram novo espaço 
A ideia da Praça dos Orixás começou a ser discutida em 2012, durante o Seminário 'Sustentabilidade e Cultura: Um Norte para Teresina'. Em 2014, o projeto de concepção do espaço foi apresentado aos pais e mães de santo. Para Assunção Aguiar, do grupo Coisa de Nêgo, a construção da praça vai ser fundamental para a mudança de pensamento da sociedade em relação às religiões de matriz africana. 

Pais e mães de santo aprovam iniciativa (Foto: Moura Alves/ O Dia)

“Nosso povo, ao longo dos anos, tem sido invisível. A praça possibilita, para todos nós, um espaço onde a gente pode dizer para as pessoas os significados das nossas divindades, além de desmistificar o que as pessoas chamam de demoníaco”, avalia Assunção, ao garantir que o acesso à Praça dos Orixás não vai ser restrito aos praticantes de religiões de matriz africana. “A ideia é que seja um espaço para todos” pontua. 
Para o pai de santo Rondinele de Oxum, coordenador do Centro Nacional de Africanidade e Resistência, a construção da Praça dos Orixás representa um marco na luta contra o preconceito religioso no Estado do Piauí. “A Praça dos Orixás é uma conquista do movimento de terreiros. É um momento onde a gente vai combater qualquer tipo de preconceito religioso, em um espaço onde está concentrado o maior número de terreiros, que é a zona Norte de Teresina. Recebemos isso como um presente”, destaca. 
Para o babalorixá Flávio de Iansã, um dos mais antigos líderes da Umbanda na zona Norte da Capital, a construção da Praça dos Orixás vai contribuir para aproximar a população das manifestações religiosas tradicionais africanas. “O preconceito está diminuindo, mas, infelizmente, ainda existe em Teresina. Essa praça vai ser fundamental na luta contra o preconceito, além de ser mais um cartão postal para nossa cidade”, destaca. 
Durante solenidade, moradores protestam contra desapropriação 
A assinatura da ordem de serviço para execução da obra da Praça dos Orixás também foi marcada por protestos. Moradores da Avenida Boa Esperança, que podem ser desapropriados por conta da execução das intervenções da segunda etapa do Programa Lagoas do Norte, levaram cartazes para questionar a viabilidade do projeto. 
“Esse dinheiro, que vem do Banco Mundial, deve ser utilizado para dar mais dignidade à região e não para retirar as pessoas de suas casas. A nossa reivindicação é que façam o projeto, mas deixem as pessoas em suas casas”, afirmou Isabel Jardim, moradora do bairro Mafrense. 

Manifestantes não querem sair do bairro (Foto: Moura Alves/ O Dia)

Segundo os manifestantes, a Prefeitura não disponibiliza informações concretas sobre as intervenções que vão ser realizadas na zona Norte. “As pessoas estão ficando deprimidas, porque elas não sabem qual é o futuro delas. Ninguém mais constrói, pinta, ou faz qualquer coisa na sua casa, porque não sabe se vai ficar ou não” destaca. 
Contraponto 
Sobre as reivindicações dos manifestantes, o secretário de Planejamento, Washington Bonfim, afirmou que nenhuma intervenção vai ser realizada na Avenida Boa Esperança e em outras áreas, antes de uma definição através do contato entre Prefeitura e população. 
"Tenho certeza que vamos chegar a bom termo, desde que os interesses reais da população sejam respeitados. A definição do prefeito é só iniciar algum tipo de intervenção física, após se chegar a um consenso sobre o que fazer. Esse debate está em andamento e a Prefeitura vai insistir no debate”, declarou.
Edição: Virgiane Passos
Por: Natanael Souza
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