É em uma pasta azul, dentro da gaveta de uma cômoda no
município de Pio IX, no sertão piauiense, que o adolescente Vítor Alencar
Gonçalves, de 13 anos, guarda as mais de 40 poesias escritas por ele para um
dia realizar o seu maior sonho: lançar um livro. Inclusive, este já até tem um
nome: "Vai que dá, oxe!”. Uma referência ao lema de vida do jovem escritor
que não pretende desistir apesar das dificuldades. A leitura e a poesia são
suas bases de sustento psicológico.
“São os locais de refúgio para minhas mágoas, tristezas, alegrias e felicidades. Além de ser um meio de busca para as questões que me deixam incomodado. Ou seja, leitura e poesia representam para mim, refúgio. Não sei o que seria de mim sem elas”, descreve.
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal
Aluno da escola pública estadual Francisco Suassuna de Melo, que fica no Centro de Pio IX, Vítor começou a ler aos quatro anos de idade e a versar aos oito com o auxílio da mãe, sua maior inspiração, que sempre gostou de ler para ele. Essa atitude o deixou mais íntimo com os livros.
“A minha mãe é a minha maior inspiração por ser uma mulher forte, doce e muito guerreira, que luta muito para pôr um sorriso no meu rosto e do meu irmão. Me inspiro também em meu primo Gustavo, menino criativo, que mesmo adotivo, é como meu irmão de sangue. Minha ex-professora Edilane Silva, apaixonada por poesias, abriu meus olhos para lutar pelas causas sociais, e que considero como minha segunda mãe. Além da minha tia Graça, mulher linda, forte e que ama ler meus poemas. A poetisa Socorro Pinho, nordestina de Pio IX, também é sem dúvidas uma grande inspiração para mim”, destaca.
Apesar do amor que tem pela leitura no ambiente escolar, o jovem escritor vive diariamente a realidade de uma biblioteca pequena, sem estrutura, com poucas obras à disposição daqueles que saem à caça de livros doutrinários. Mas para ele, o que importa são as grandes histórias que estão no local.
“A sala de leitura fica dentro da antiga sala de informática, os profissionais da área da economia, ficam juntos com a profissional da sala de leitura, todos na mesma sala. Não é uma sala própria. O que importa é o amor envolvido dentro dela, e as grandes histórias desde Monteiro Lobato, aos poetas da minha região, em destaque ao poeta Rômulo Maia, que também me inspira muito”, conta.
Com pai e mãe escolarizados, uma das maiores dificuldades para o lançamento do livro de Vítor, além da questão financeira da família, é o fato do município não ter uma editora. Ainda assim, o garoto não perde a esperança.
“A maior dificuldade é nunca ter conseguido lançar um livro, devido a situação da minha cidade, que não tem nenhuma editora, nada! Um livro é muito caro, acho que minha família não terá a quantia suficiente, apesar de não perder a esperança”, relata.
Atualmente, o pequeno poeta tem sentimentos pelas pessoas e muito amor pela família. Além de ser admirado na escola, todos adoram ouvir os poemas. Ele deseja ajudar a família e inspirar outras pessoas por meio dos seus versos, que falam sobre sentimentos, liberdades e sonhos.
“Quero ser uma pessoa que inspira por meio da escrita, que mexe com o sentimento dos leitores, e principalmente com a imaginação dos leitores, que nem os livros mexeram com a minha. Também quero ser professor, se tudo estiver ao meu favor, pois adoro ensinar. Meus poemas são sobre os sentimentos e a liberdade, liberdade essa que aguardo ter, sobre a busca da felicidade e os sonhos que um dia chegam a ser ilusão, e os outros motivos para continuar lutando por eles”, finaliza.
Bom aluno
A professora de História, Edilane Silva, conta a relação de aluno/professor que teve com o jovem.
“Ele é um menino que se porta diferente dos demais, principalmente pela educação, pela forma de tratar as pessoas, e sobretudo como desenvolve as atividades estudantis. O comportamento observador e crítico, faz com que ele tenha uma visão do mundo muito além dos adolescentes da idade dele. É impressionante a forma como ele discorre sobre temas polêmicos e como mantém uma opinião. Por sinal, essa é uma grande qualidade dele: não é influenciável”, conta.
Edilane ressalta ainda que ter Vítor como aluno é um presente. Uma das maiores alegrias da profissão. “Ter o Vitor como aluno é um presente. Na verdade, uma honra. Ele me faz constatar que escolhi a profissão certa. Em meio a tantas dificuldades que nós, professores enfrentamos, um aluno como o Vítor é um oásis, uma fagulha de esperança de que vale a pena lutar e acreditar na educação. Resumindo: ter o Vítor como aluno, para mim é uma das maiores alegrias da minha profissão”, ressalta.
“Sempre que ele fala de me ver como inspiração, sinto-me lisonjeada, mas sobretudo, ciente do tamanho da responsabilidade que isso tem. Acredito no poder transformador da educação, então, ter um aluno que vê em mim uma inspiração eu só posso ficar feliz e dar o meu melhor como educadora sempre, melhorar ainda mais e honrar esse carinho. Porque na verdade, quem inspira mesmo é ele, inspira a mim e a todos que o conhecem”.
Confira alguns poemas
Um feliz poético
Os raios de sol iluminam teu olhar
Os passarinhos se alegram
Ao verem você chegar
E, começam a cantar
Cantar e voar,
Meu dia de normal
Passa para feliz.
Qual é o teu dia normal?
Justo e eu-lírico
Quem escreveu esse poema não merece nada
Quem moveu a sua mão a escrevê-lo sim.
Quem escreveu essas frases não merece nada
Quem ditou elas sim.
Meu eu-lírico. Sofredor.
Tapas da vida
Para quê todos esses tapas que a vida me dá?
Decepções, ilusões, enganando corações e a vida me tapeando
Os seus tapas são tão fortes
que quebram a minha cara
Por: Jorge Machado, do Jornal O Dia