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Cantora Ana Larousse sofre ataques e exclui perfil no Facebook

Sem blusa, artista se apresentou em evento do Coletivo Salve Rainha e começou a receber mensagens de ódio e de cunho machista nas redes sociais.

21/09/2016 15:46

Após sofrer uma série de ataques nas redes sociais, com mensagens de ódio de cunho machista, a cantora Ana Larousse (foto ao lado) decidiu excluir definitivamente seu perfil pessoal do Facebook. Ela se apresentou, junto com o cantor Leo Fressato num evento promovido pelo Coletivo Salve Rainha no último domingo (18) no Parque Cidadania. O show levantou polêmica entre os teresinenses por conta da nudez dos artistas no palco.

Em seu último post, Ana disse não entender porque a nudez chocou tanto em um evento que tratava justamente sobre a união e o respeito uns aos outros. “Por que não são essas violências contra as quais lutamos que revoltam as pessoas? Por que a nudez feminina só é aceita quando é a favor do desejo masculino?”, disse a cantora.

Ana Larousse questionou ainda porque não existe censura em cima da violência verbal que ela vem sofrendo e do discurso de ódio do qual tem sido alvo. A cantora acrescenta ainda que não consegue compreender porque “um corpo nu é alvo de indignação”. Ela defende que a nudez é hipersexualizada e só é aceita quando é a favor do desejo masculino.

Com relação à nudez no palco, Ana Larousse afirmou que se tratou de “um ato bonito e cheio de amor contra a violência. Um ato que acabou sendo motivo de raiva” por parte de alguns grupos. Ela questionou também por que os atos que realmente fazem mal às pessoas não discutidos. “Temos tantas coisas com as quais nos preocupar. Problemas reais. Isso está errado. Vamos focar no que precisa da gente de verdade. Por exemplo, a violência contra a mulher”, finalizou a cantora.

Ana Larousse afirmou ainda que, apesar das consequências que está sofrendo, segue apoiando o Salve Rainha e pede que os teresinenses ofereçam apoio ao coletivo para que a iniciativa não tenha seus trabalhos prejudicados.

O Coletivo Salve Rainha utilizou as redes sociais para se manifestar sobre o assunto. No comunicado, o grupo reiterou que “não faz ingerências sobre o que é exposto, apenas uma curadoria ao que é produzido anteriormente, sem nenhuma forma de censura”. O Salve Rainha destacou ainda que qualquer forma de censura à expressão artística vai contra a natureza do coletivo e que proporciona ao público um diálogo pacífico e respeitoso.

Confira a nota na íntegra

"O Salve Rainha é uma tecnologia social de valorização do Patrimônio Cultural de Teresina. Assim sendo, sempre se propôs a ocupar áreas públicas e abraçar situações de vulnerabilidade, mobilizando centenas de artistas e possibilitando ao público acesso livre e gratuito às mais diversas formas de expressão e o contato com os seus criadores.

Recebemos manifestações artísticas variadas, da galeria ao palco, em dois anos de (r)evolução e força. E cada talento recebido se mostra e se revela de acordo com a sua verdade, da maneira que achar mais conveniente e apropriada para expressar a sua arte. Nós não interferimos nas apresentações, exposições, intervenções ou performances. Não fazemos ingerência sobre o que é exposto, apenas uma curadoria ao que é produzido anteriormente, sem nenhuma forma de censura. No caso de um show, por exemplo, isto seria até mesmo impraticável, por ser algo que acontece de imediato no palco e não temos como intervir previamente.

Nossos métodos não poderiam ser diferentes, afinal, qualquer forma de censura à expressão artística iria contra a natureza do nosso coletivo. Proporcionamos ao público um diálogo pacífico e respeitoso sobre os temas que são trazidos ao nosso espaço. Nós acreditamos na liberdade de expressão consagrada pela Constituição Federal, inclusive a liberdade aos artistas, como consta no Art. 5o, inciso IX: é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.

No domingo do dia 18 de setembro recebemos com muita alegria na primeira Bienal do Salve Rainha a nossa, também primeira, atração nacional, em um local específico para manifestações artísticas. Uma mulher feminista, que estava protestando por igualdade de direitos, utilizando o corpo dela, após as 22h. Um homem gay vestido de drag queen, levantando a bandeira da desconstrução.

O que presenciamos foi a livre manifestação política dos artistas, em um momento em que o país vive uma conjuntura especial. Existe uma onda de protestos por todo o Brasil, não apenas em Teresina. Ações vem acontecendo em qualquer tipo de evento, bem como nas Casas Parlamentares e em frente ao Supremo Tribunal Federal. Haver um protesto de artistas e do público no Parque da Cidadania faz parte desta conjuntura nacional.

O coletivo Salve Rainha não tem o poder de barrar esses movimentos, que também receberam o apoio das pessoas presentes, entre homens, mulheres, cis, gays, trans e todas as chamadas minorias. Por isso, não vamos nos abater ou recuar diante dos que tentam deslegitimar uma ação que se desenvolveu na mais completa paz. Estamos conscientes dos nossos direitos e não vamos permitir desrespeito com o nosso público.

Estamos juntos, seguimos em paz e com muito amor nos nossos corações. Mantemos sempre o nosso lema: resistir, insistir e existir".

Por: Maria Clara Estrêla
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