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Bons relacionamentos garantem mais felicidade do que salário, diz pesquisa

Investigando o sentimento de felicidade no ambiente de trabalho, pesquisadora piauiense chegou à conclusão de que um bom relacionamento é a chave para a satisfação profissional.

19/03/2017 08:41

A máxima “dinheiro não traz felicidade” foi comprovada por uma pesquisa desenvolvida pela administradora piauiense Marina Simão, entre os meses de julho e outubro de 2016. Investigando as relações interpessoais desenvolvidas dentro do ambiente de trabalho, ela chegou à conclusão de que não é o dinheiro que estimula o colaborador de uma organização, não é a remuneração mais alta, e sim o bom relacionamento com os colegas neste ambiente de trabalho. 

A pesquisa foi feita com 280 colaboradores de empresas, com um questionário com mais de 40 perguntas dos mais diversos tipos. Duas delas chamaram bastante a atenção: uma acerca das possibilidades de repensar as escolhas feitas ao longo da vida e a outra sobre o que torna as pessoas felizes em seu ambiente de trabalho. A grande maioria dos entrevistados respondeu que se tivesse a chance de voltar alguns anos, teriam estudado mais e casado mais tarde, porque sabem que o que recebem é diretamente compatível com seu grau de instrução. Com relação à felicidade dentro da empresa, mais de 60% responderam que o que mais os faz feliz no trabalho é o bom relacionamento com os colegas de profissão.

Marina Simão explica que essa sensação de bem-estar e realização profissional está diretamente ligada às questões de liderança e bom convívio dentro das instituições. “Muitas vezes o tipo de líder que temos impacta num bom relacionamento ou num mau relacionamento, causando, inclusive, muitas vezes, um adoecimento no trabalhador”, diz. Ela destaca três tipos de lideranças e como elas afetam a relação entre os profissionais: o líder autocrático, do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”; o líder democrático, que faz junto e é parte da equipe; e um líder liberal, que deixa tudo na mão da equipe e quando vai buscar o controle, já o perdeu faz tempo.

Pesquisa feita pela administradora Marina Simôes mostra que bons relacionamentos valem mais do que dinheiro (Foto: Assis Fernandes/ O Dia)

O líder autocrático e o liberal, segundo a pesquisadora, contribuem para gerar estresse e muitas vezes a falta de felicidade dentro de uma organização, tornando o convívio um tanto quanto problemático, provocando discussões entre os colegas. No entanto, Marina destaca que a decisão de ser verdadeiramente feliz (e isso vale para o ambiente organizacional ou não) é do próprio indivíduo. Este foi um outro quesito relacionado à felicidade que ela diz ter encontrado durante sua pesquisa: são os valores individuais, as crenças particulares, que tornam as pessoas felizes ou infelizes. É aquilo que elas trazem da sua vivência, e que pode afetar o ambiente profissional.

“A gestão tem tudo a ver com o tipo de ambiente que a empresa tem. O gestor impacta diretamente com suas atitudes nos resultados da empresa. Agora é importante ressaltar que existem aquelas pessoas que são infelizes por natureza. Existem aquelas pessoas que carregam consigo um fardo muito pesado sobre as costas, e que ela pode ter a pessoa mais amável do lado dela, ela pode ter o gestor mais humano do lado dela, mas ela sempre vai reclamar”, pontua Marina.

Conjunto de ações e resultados

Felicidade, sensação de bem-estar no ambiente de trabalho e produtividade são pontos diretamente proporcionas nas relações dentro de uma organização empresarial. O caminho para que essa tríade se torne concreta, segundo Marina Simões, é entender que, apesar de uma empresa ter as máquinas mais modernas, a tecnologia de ponta, a melhor localização, o melhor produto e a melhor clientela, é conseguir verdadeiramente compreender que são as pessoas que formam a organização. São elas que vendem a imagem sobre “a empresa ser a melhor para trabalhar ou não”.

“Para que nós possamos ter um ambiente organizacional mais feliz, a gente precisa desenvolver as relações dos colaboradores, valorizando o eu de cada um. Não é um brinde geral que vai motivar todos os colaboradores, porque cada um de nós possui a nossa essência, cada um de nós tem o nosso fator motivador, e só conversando e tendo uma gestão de RH bem desenvolvida para conhecer a fundo o perfil de cada colaborador, é que nós vamos implementar um ambiente organizacional feliz”, ressalta Marina.

A pesquisadora destaca que os fatores higiênicos (ambiente de trabalho limpo, salário, remuneração, tíquetes e outros benefícios financeiros e estruturais) não podem ser confundidos com os fatores motivacionais, que são o desenvolvimento humano, a preocupação com o eu do colaborador através da valorização pessoal, ressaltando suas qualidades, lhe tratando com dignidade, com respeito e humanidade.

“Foi o que me chamou a atenção na pesquisa. O que te faz feliz no ambiente de trabalho? Nenhum entrevistado citou que é o tíquete, que é a sala de repouso, que é isso ou aquilo. Eles citaram o bom relacionamento com os colegas, eles citaram o momento de lazer com os colegas, as festividades que a empresa promove, os vínculos, é criar relacionamentos. Porque passamos a maior parte da nossa vida no nosso ambiente de trabalho, e se eu trabalho num campo com as pessoas que eu não gosto, automaticamente eu estou adoecendo. Resumindo, amor. Amor, carinho dentro de uma empresa. Esse é o ponto”, finaliza Maria Simões.

Reformas trabalhistas podem contribuir para aumento do estresse

O Brasil vive atualmente um cenário de indefinição e incertezas em vários campos de atuação do poder público, e um deles diz respeito ao projeto de reforma trabalhista, que tramita no Congresso. Um dos pontos relaciona-se à “negociação” prevalecer sobre a “legislação”, ou seja, os amparos legais previstos pela CLT podem ser colocados em segundo plano em favor dos acordos entre o trabalhador e o patrão.


Sobre este ponto, a advogada trabalhista da OAB-PI, Camila Fernandes, faz uma crítica: “isso pode significar redução de direitos, mas são suposições ainda com relação às mudanças efetivas que poderão vir. Mas de uma coisa nós podemos ter certeza: as entidades de classe serão obrigadas a ter uma participação mais efetiva porque isso vai interferir diretamente na vida do trabalhador”.

A advogada acredita que as mudanças propostas pela Reforma Trabalhista trarão um pouco mais de estresse para a vida profissional das pessoas, uma vez que vai colocar nas mãos deles e dos seus respectivos sindicatos todas as negociações relacionadas a horas extras, licenças e férias. “Pode ter uma flexibilidade maior? Pode. Mas isso coloca muitas questões nas mãos do profissional, além das preocupações que ele já tem todos os dias. Isso acaba afetando a produtividade, o trabalho do dia-a-dia, porque a carga de estresse aumenta. Ao mesmo tempo em que desempenharia sua função, ele teria ainda que observar o cumprimento daquilo que foi negociado e que, atualmente, está amparado pela lei”, pontua Camila Fernandes.


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Um caminho para que essa situação seja atenuada, ela afirma, seria a criação de organizações de classe mais unidas, que procurem trabalhar em conjunto, com mobilizações pelos interesses comuns. “No Piauí ainda temos muito aquela cultura do ativismo pela internet. Tem que se organizar para bater de frente, porque a reforma, do modo como está proposta, não garante nada”.

Empresas brasileiras não estão no Top 5 das melhores para trabalhar

Uma pesquisa feita pela Top Employeers Brasil mostrou, no ano passado, quais são as 26 melhores empresas para se trabalhar no país, em termos de planejamento de mão de obra, integração, aprendizagem e desenvolvimento, e remuneração. Apesar do estudo ser feito no Brasil, nenhuma empresa genuinamente brasileira figura no top 5 do ranking.

Das corporações com os melhores ambientes de trabalho detectados pela Top Employeers, duas são americanas (Deloitte e SAS Institute), uma é japonesa (Takeda), uma indiana (Tata Consultancy) e uma francesa (Valeo).  Das 26 empresas apontadas pela consultoria como as melhores do país para trabalhar, apenas três são brasileiras: o Banco do Brasil, a CCB Brasil e a empresa automobilística Sousa Cruz.

Por: Maria Clara Estrela
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