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Bebida carrega traços da regionalidade e ganha espaço na preferência popular

Anualmente, o Piauí produz dois milhões de litros de cachaça, vindo a grande maioria de pequenas fábricas.

20/05/2017 10:13

Servida no copo americano, a bebida toma menos que 50ml do volume total do objeto. Ao ser apreciada, em um único gole, as sensações podem ir de uma suavidade revigorante a uma experiência gustativa de ardência instantânea. E é ofertando sensações diversas, que a cachaça tem alcançando a preferência popular. No dia 21 de maio é comemorado o Dia Nacional da Cachaça, bebida que ganha destaque na produção regional.

No Piauí, anualmente, são produzidos cerca de dois milhões de litros de cachaça distribuídos, em sua grande maioria, de pequenas fábricas instaladas nos municípios do interior do Estado. A informação é da Associação dos Produtores de Cachaça do Piauí (APCP), que também destaca que o Estado possui cerca de 600 produtores da bebida.

“Temos melhorado muito a qualidade dos nossos produtos e o Sebrae, nosso grande parceiro e apoiador, o único para falar a verdade, tem potencializado com que avancemos não só nessa qualidade, mas também na apresentação dos nossos produtos”, explica o presidente da APCP, Haroldo Ribeiro Lira.

Segundo o presidente, a maioria dos municípios piauienses dispõe de produção artesanal de cachaça, e o Estado conta, atualmente, com seis indústrias que tem certificação com padrão de exportação internacional da bebida.

A associação estima que o setor da cachaça gere cerca de cinco mil empregos no Piauí. “Nossas maiores fábricas hoje estão na região de Amarante, Castelo do Piauí, Palmeiras, Valença, Elesbão Veloso, Barras e tantos outros municípios que concentram muitas pequenas industrias, principalmente mais ao Sul do Estado. Uma produção que gera emprego e renda”, destaca.


A qualidade da bebida vem melhorando consideravelmente, segundo os consumido (Foto: Jailson Soares/O Dia)

História secular

Haroldo tem no sobrenome a história secular da bebida que já ganhou a preferência do consumo não só no Piauí, como outros estados do Brasil. A cachaça Lira, produzida na região do município de Amarante, Sul do Piauí, desde 1889, tem no plantio e manejo feitos de forma orgânica, sem uso de adubos químicos e agrotóxicos, um dos grandes diferenciais do resultado final do produto.

A tradição de fazer cachaça, herdada do bisavó e seguida até os dias atuais, é muito mais que um processo químico, na visão do cachaceiro. “Muita coisa está no DNA, na tradição, onde é fabricada a cachaça Lira, até hoje, era onde fabricava meu bisavô, meu avô, meu pai e agora estamos aqui. Muito mais que conhecimento, você tem que ter ligação com o produto, porque isso aqui conta uma história”, celebra.

Diz o produtor, que a Lira é armazenada em tonéis de Castanheira (madeira considerada o “carvalho” brasileiro) de 700 litros, onde permanece por um período mínimo de 12 meses. O resultado final do envelhecimento da Lira é o aprimoramento das características de sabor, aroma, brilho, maciez e cor.

A cachaça é vista como produto cultural brasileiro

Quando Aleidiano ganhou sua primeira garrafa de cachaça das mãos de uma amiga que, em 2012, viajara para o Estado de Minas Gerais, ele já sabia que com aquele litro iria iniciar a sua coleção de bebidas. De lá para cá, o colecionador viu não só o número de garrafas se multiplicar, mas também o conhecimento sobre a bebida que, para ele, representa um digno recorte da produção cultural brasileira.

Hoje, as cachaças colecionadas pelo apreciador da bebida se diversificam em pluralidade geográfica e também em representatividade afetiva. Isso porque, para fazer parte da coleção de Aleidiano, as bebidas têm de ser presenteadas ou adquiridas em viagens. Rigorosamente assim, porque regra é regra.

“A cachaça não é só uma bebida, mas um produto cultural brasileiro. E apesar de ainda ter muito preconceito, ela tem ganhado espaço e aceitação da população. A cachaça é para apreciar, por isso, na minha coleção, só tenho bebidas artesanais e que ganho de amigos que fazem viagens ou das minhas próprias”, destaca.

Os critérios escolhidos para nortear a coleção dão um tom ainda mais especial para cada bebida que se soma ao estoque colecionável. Todas elas, também, vem de estados conceituadamente produtores da cachaça, fazendo com que cada uma das bebidas represente a cultura do local de origem.


O colecionador Aleidiano deixa claro que sua coleção é somente de cachaças artesanais, "por ser um produto cultural" (Foto: Jailson Soares/O Dia)

Minas Gerais, Rio de Janeiro, Piauí, Ceará, Rio Grande do Sul e Pernambuco são algumas das regiões que já se destacam na coleção. “Quando um amigo vai viajar eu fico ‘atentando’ para ele trazer uma cachaça. Eu já cheguei a pagar mais de R$ 200 de excesso de bagagem por conta de alguns litros de cachaça que trouxe. Mas paixão é paixão”, explica entre sorrisos.

Aleidiano ainda tem outra regra, talvez a mais excêntrica, para a coleção. Ele não consome nenhuma das bebidas que tem no estoque. “As pessoas cobram muito para eu abrir as garrafas, mas para a coleção é importante manter o lacre e todas as características da garrafa. Mas, talvez, em alguma data especial eu possa escolher alguma para abrir”, explica.

O estoque cresce em quantidade e também em qualidade. A diversidade das cachaças de diferentes teores alcoólicos e métodos de produção formam um arcabouço de multiculturalidade da bebida legitimamente brasileira.

“Para não comprar qualquer uma, de qualquer tipo, eu sempre busco me basear por aquelas que são mais conceituadas em rankings feitos por especialistas e concursos nacionais. Eu sou realmente fascinado por conhecer a bebida e pelo que ela representa no contexto cultural do país”, finaliza.

Por: Glenda Uchôa - Jornal O Dia
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