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Banalização do corpo pode levar a exibicionismo de adolescentes

Sexualidade aflorada e mal orientada tende a resultar em atitudes precipitadas dos jovens

07/04/2013 15:26

Ousadia frente às câmeras fotográficas. O que ao longo de décadas era, e ainda é, um tabu social, começa a ser tratado com normalidade pela nova geração. Tirar a roupa e divulgar estas imagens, em parte dos casos, passou a ser associado ao status e sinônimo de fama instantânea. Entretanto, tal fenômeno pode camuflar uma falha de educação, que, na perspectiva de terapeutas sexuais, precisa ser corrigida.

Para Noronha Filho, médico de crianças e adolescentes, a sexualidade tem que ser discutida dentro de casa desde os primeiros anos de vida, já que ela se manifesta a partir do momento em que a criança nasce. “Sexualidade é diferente de genitalidade. Enquanto a primeira é psíquica, a segunda é orgânica e só começa a se manifestar na puberdade, quando os hormônios sexuais iniciam seu funcionamento”, distingue.

Noronha Filho, que também é terapeuta sexual, alerta os pais para a repressão dos estímulos sensuais que pode culminar em distúrbios futuros nos filhos. “A criança com quatro anos de idade, por exemplo, começa a se tocar e sentir prazer. É nesse momento que se precisa trabalhar o respeito a essa manifestação sensual. Contudo, quando os pais veem seu filho pegando nos genitais logo proíbem e dão um grito, dizendo que aquilo é feio, e aí começa a repressão sexual. Até se beijar na frente dos filhos, os pais evitam”, diz.

Médico Noronha Filho afirma que sexualidade tem que ser discutida em casa já nos primeiros anos de vida (Foto: Assis Fernandes / O DIA)

Ainda que os adultos tentem coibir as descobertas sensoriais dos filhos, o médico destaca que, em contraposição, as crianças entram em contato diário com a mídia que explora basicamente a genitalidade, abordando a cultura de desrespeito ao corpo, tratando-o apenas como objeto. “Ainda que dentro de casa ou nas escolas não se converse sobre sexualidade, o desejo sexual uma hora ou outra vai aflorar e não adianta você inibir aqui, porque ele estoura ali ou aculá”, pondera.

Segundo Noronha Filho, um exemplo claro do somatório da falta de orientação mais imaturidade e banalização do corpo é o que ocorreu, no final do mês passado em Teresina, quando imagens de pelo menos dez adolescentes vazaram na internet. As fotografias mostravam garotos e garotas, em idade entre 14 e 16 anos, exibindo seus corpos nus.

De acordo com uma das menores envolvidas no escândalo, as imagens foram publicadas em um grupo, formado por jovens estudantes de Teresina, no “Whatsapp”, aplicativo de mensagens instantâneas para celulares. As fotos então teriam vazado para as redes sociais, sendo compartilhadas entre os usuários.

“O que sai na mídia? Mulheres que ficam famosas por posar nua, por fazer um filme pornô e lançar ou vazar na internet. Aí chega uma adolescente, acompanhando estes casos, vendo o que torna uma pessoa famosa, em uma sociedade altamente competitiva, que eu tenho que ganhar do outro, que a religião é o consumo, e aí, como ela não tem um contraponto, uma educação, maturação sexual, combina de tirar a roupa com as amigas e jogar na internet”, destaca o médico pontuando que essa mesma mídia que dá visibilidade é a que também vai condenar a atitude juvenil.

Contrariando o argumento do terapeuta sexual, no que diz respeito à falta de orientação sobre o tema sexualidade em casa, a adolescente teresinense envolvida no escândalo das fotos disse a equipe de reportagem do Jornal O DIA que lidou muito bem com o imprevisto. “Aqui em casa a repercussão foi normal, pois este é um assunto bem resolvido e discutido com a minha mãe”, afirmou.

Por: Virgiane Passos / Jornal O DIA
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