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Às vésperas do Dia do Trabalhador, milhões sonham com vaga no mercado formal

Nos últimos 12 meses, 6.779 postos de trabalho foram fechados no Piauí e os desempregados seguem em busca de trabalho.

29/04/2017 09:24

Modesto Farias saiu de casa bem cedo na última quinta-feira acompanhado de toda a esperança que pudera carregar. O senhor de 51 anos avançava pelo caminho da rua de sua casa, quase que compassado com a chegada dos primeiros raios de sol daquele dia. Seu destino também estava claro: o prédio do Sistema Nacional de Emprego (Sine-PI), no Centro de Teresina.

Modesto era mais um entre as dezenas de pessoas que amanheceram o dia em busca de uma vaga de emprego através do Serviço. Dados do Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged) revelam o porquê da frequência dessa busca: 6.779 postos de trabalho foram fechados nos últimos 12 meses no Piauí.

Os setores mais responsáveis pelo crescimento do desemprego no Estado são a Construção Civil e a Indústria de Transformação, que registraram quedas de 5.393 e 1.172 no número de empregados, respectivamente. Modesto foi atingido diretamente por essa redução dos postos de trabalho da Construção Civil, já que é ser vente de pedreiro.

Desde quando saiu do último emprego com carteira assinada em uma grande construtora da cidade, o profissional busca se realocar no mercado formal. Missão que parece cada vez mais difícil, mesmo com um ano de busca incansável.

Modesto era mais um entre as dezenas de pessoas que amanheceram o dia em busca de uma vaga de emprego através do Serviço. (Foto: Assis Fernandes/Jornal ODIA)

“O problema é que não tem vaga, porque eu sempre estou de olho no que possa aparecer. Nunca pensei que seria tão difícil voltar ao mercado de trabalho e, o pior, é que as coisas só andam se fechando”, constata. Na casa onde mora com uma enteada e a esposa, ele diz que tem sobrevivido com ajuda de parentes, já que a mulher também não tem emprego formalizado, apenas bicos. “Se não for a família ajudando, não sei como seria, porque só os bicos não conseguem custear a nossa vida”, afirma.

“São exigidas muitas qualificações”

Edileuza Cunha não conhecia o senhor Modesto, mas ambos dividiam o mesmo espaço de espera da sala do Sine-PI. Para ela, a procura por emprego representa não só uma forma de ter uma renda, mas a esperança de mudança de vida.

Durante toda a vida, Edileuza tem se dedicado aos trabalhos domésticos como forma de sobrevivência, mas agora afirma ‘buscar algo melhor’. “Eu sei que meu trabalho era digno, mas trabalhar em casa de família é bem difícil, agora eu estou procurando algo melhor, mas não está fácil. São exigidas muitas qualificações”, afirma.

A senha de espera que segurava na mão era vista como um passaporte de vida. Depois de dois meses à procura de emprego, naquele dia, a jovem passaria por uma seleção para a vaga de auxiliar geral de uma empresa. 

Edileuza conseguiu concluir o Ensino Médio, mas ficou longe do sonho de entrar na universidade. “Tive que trabalhar logo cedo. Minha sorte é que ainda não tenho família para cuidar. Eu estou com esperanças que vou conseguir algo melhor”, finaliza.

Dados do IBGE apontam desemprego recorde no país

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografa e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego do Brasil aumentou para 13,7% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com os 10,9% registrados no mesmo período de 2016. Essa é a maior taxa de desemprego desde o início do levantamento em 2012. Ao total, são 14,2 milhões de desempregados no país, um recorde, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.

O levantamento mostra ainda que o número de ocupados (88,9 milhões de pessoas), o nível de ocupação (53,1%) - percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar - e o número de empregados com carteira assinada (33,4 milhões) são os menores da série da Pnad Contínua.

Há um descompasso evidente no país. A população na força de trabalho, ou economicamente ativa (PEA), cresceu em 1,395 milhão de pessoas (1,4%) ante o primeiro trimestre de 2016. Na comparação com o quarto trimestre daquele mesmo ano, o aumento foi de 519 mil (0,5%). Esse contingente que entrou na força de trabalho não encontrou emprego.

Os números refletem que o cenário de desemprego avança no país, precisamente cerca de três milhões de pessoas no primeiro trimestre para 14 milhões de pessoas. Na comparação com o último trimestre de 2016, quando havia 12,342 milhões sem ocupação, o aumento foi de 1,834 milhão, ou 14,9%.

Piauí

No Piauí, os últimos dados divulgados pelo Caged mostram que, nos últimos 12 meses, foram criadas 93.849 vagas formais de trabalho, enquanto 100.628 trabalhadores foram demitidos. O Estado perdeu 6,7 mil vagas de emprego no período.

De acordo com os dados, os setores de serviços, com a criação de 979 vagas de trabalho a mais que os demitidos, e a agropecuária, com saldo positivo de 136 vagas, ajudaram a minimizar os efeitos do fechamento de vagas. 

Sala de espera do SINE lotada de pessoas em busca de vagas. (Foto: Assis Fernandes/Jornal ODIA)

O Caged do mês de março foi considerado negativo, principalmente porque ele vem após o de fevereiro ter registrado bons números. Em todo o Brasil, foram mais de 63 mil postos de trabalho fechados só no mês de março. Os dados do Piauí contrastam com os dados nacionais no que diz respeito aos setores que geram empregos.

Procura por trabalho informal cresce como opção de fonte de renda

Para conseguir ter renda mesmo fora do mercado de trabalho formal, as pessoas têm recorrido a iniciativas empreendedoras. A saída é investir em algo que possa gerar receitas a curto, médio e longo prazo, como forma de se manter durante os períodos de incertezas do mercado.

Esse é o caso de Maria dos Remédios, que fez da atividade de cozinheira autônoma uma forma de sustentar as necessidades dela e de sua família. No caso da senhora de 52 anos, que já exerceu trabalho como doméstica e auxiliar de restaurante, a questão é que ela nunca teve a carteira assinada durante toda a vida.

“Eu nunca tive a carteira suja. Antes, não me preocupava com isso, porque não pensava na aposentadoria, mas hoje, com minha idade, eu sei que vai ser complicado para conseguir me aposentar”, lembra. O trabalho que exerce como autônoma é na venda de beiju caseiro na zona Norte de Teresina. Todas as manhãs, Maria acorda cedo para preparar as guloseimas que são vendidas, principalmente, para os motoristas e transeuntes que se aproximam da Praça do Marquês.

Maria dos Remédios vende beiju caseiro na zona Norte de Teresina. (Foto: Jailson Soares)

É com a renda apurada na banca que ela consegue responder às demandas alimentícias, domiciliares e também contribuir para a educação do filho, que recentemente ficou desempregado, aos 26 anos. “Eu só peço que Deus me tire da vida, mas, até o último momento, me deixe trabalhar. Eu amo o que eu faço e tenho orgulho de conseguir responder minhas necessidades assim”, comenta vitoriosa.

Optando pelo mercado informal, o vendedor de acessórios para celulares, Antônio Fagner, diz que perdeu o emprego há seis meses e viu nas vendas ambulantes uma oportunidade. “A gente não pode se dar ao luxo de ficar parado, porque tem conta para pagar. Eu vejo que o que aconteceu comigo acontece com muita gente. Não tem emprego de carteira assinada, o jeito é se virar de outras formas”, relata.

Busca por profissionalização é ponte para inserção e reinserção no mercado de trabalho

Estar preparado para assumir os postos disponíveis no mercado de trabalho é, sem dúvidas, o sonho de muitas pessoas que tentam entrar ou se reinserirem no mercado de trabalho. Para isso, a procura por cursos profissionalizantes e de capacitação torna-se atitude indispensável para lidar com um mercado cada vez mais disputado.

Referência na oferta de cursos profissionalizantes, o Senac, atualmente, capacita mais de seis mil pessoas apenas em Teresina, com a oferta de cursos em diversas áreas do saber. Para a supervisora pedagógica Amanda Irene, a qualificação é essencial para alavancar as chances de conseguir uma vaga no mercado de trabalho.

 Senac, atualmente, capacita mais de seis mil pessoas apenas em Teresina. (Foto: Jailson Soares)

“Hoje em dia, o mínimo exigido é você ter um curso de informática, um curso de línguas, estar preparado, porque a concorrência realmente é muito forte e não é mais uma diferença você ter um curso, é necessidade”, argumenta.

Um dos eixos oferecidos pela instituição é o de capacitação na área de informática. A professora Kelly Braga falados diferentes perfis de alunos que buscam qualificação. “Temos turmas com pessoas de mais idade, que ou saíram do mercado e estão se preparando para voltar, ou que querem se qualificar para se manter nos postos. Também temos de jovens, adolescentes, que já buscam ter um conhecimento bom para poder disputar as vagas do mercado”, afirma.

Este ano, em todo o Piauí, a instituição já capacitou cerca de 30 mil pessoas entre cursos e ações extensivas, o que mostra o real interesse das pessoas em estar preparadas para as exigências do mercado.

Direitos do trabalhador devem ser assegurados, diz advogado

Por conta do debate sobre as mudanças da legislação trabalhista se tornar cada vez mais intenso, tomar conhecimento dos conceitos a respeito dos reais direitos garantidos pela CLT, ou Consolidação das Leis Trabalhistas, se torna cada vez mais imprescindível.

Entender os principais pontos é relevante para o trabalhador e para o empresário, já que só com essa informação que se pode regularizar as relações, garantindo proteção e segurança jurídica a todos os envolvidos.

O advogado Gilberto Bento destaca aspectos importantes nas relações de trabalho, como, por exemplo, a carteira de trabalho assinada desde o primeiro dia de serviço. “Não existe aquela história de esperar para conhecer o trabalho do funcionário antes da contratação efetiva, a carteira de trabalho deve ser assinada obrigatoriamente ao iniciar os trabalhos”, afirma.

O especialista lembra dos exames médicos de admissão e demissão, já que a saúde do trabalhador deve ser uma preocupação constante, prevenindo situações de riscos e, por isso, sendo primordial que a empresa saiba previamente como essa se encontra e, posteriormente, ao fim do contrato de trabalho também, é uma garantia jurídica.

A questão salarial também entra em destaque. “O salário deve ser pago até o quinto dia útil do mês. Pode parecer difícil obter caixa para cumprir em dia com essa obrigação, mas está na lei. A empresa não pode atrasar esse pagamento, caso contrário, poderá ser alvo até mesmo de processos”, esclarece.

Já para o décimo terceiro, a primeira parcela deve ser paga até 30 de novembro, e a segunda parcela até 20 de dezembro. “Essa é uma dúvida muito frequente e um ponto que frequentemente ocorre atraso, lembrando que as parcelas deverão ser divididas igualmente em duas”, finaliza

Preocupados com reformas, jovens buscam inserção precoce em postos de trabalho

Maria Eduarda só tem 14 anos, mas sua visão é clara quanto à necessidade para o presente e futuro: “com essas novas leis, sei que vai ser difícil se aposentar, então quanto mais cedo entrar no mercado, melhor”. Assim como Eduarda, outros jovens também despertaram o interesse de se inserirem no mercado de trabalho.

Para Maria Eduarda, buscar a profissionalização e capacitação é o primeiro passo para conseguir uma vaga de emprego mais à frente. (Foto: Jailson Soares)

Na casa de cinco pessoas, Eduarda é uma das poucas que não trabalha. Para ela, buscar a profissionalização e capacitação é o primeiro passo para conseguir uma vaga de emprego mais à frente. “Eu quero trabalhar para poder ajudar na minha casa e poder ter um pouco mais de conforto para minha vida. Por isso, procurei o Senac, sei que é preciso se capacitar para isso”, explica.

O jovem João Islan, que também só tem 14 anos, pensa da mesma forma. “Nos cursos, a gente aprende coisas que são exigidas lá fora. Trabalhar é mesmo uma necessidade para poder melhorar de vida e ter chances de crescer”, considera. 

No Senac, os cursos são ofertados em diversas áreas, tais como: gestão, comunicação, segurança, informática, beleza, artes, oficinas e Workshops, hospitalidade, entre outros.

Por: Glenda Uchôa - Jornal ODIA
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