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Amantes da literatura criam Sebos para satisfazer paixão pelos livros

Jovens se preocupam em ampliar seu acervo e vendê-los a preços acessíveis

08/05/2015 17:40

As lojas de livros literários usados, os Sebos, é uma espécie em extinção na cidade. Quem vende afirma que o mercado não gera lucros. Por isso, os amantes da literatura sempre têm dificuldades para encontrar livros antigos e raros com preços acessíveis. Em Teresina, essas obras são vendidas por R$ 25,00 em média. Os preços variam de acordo com o estado de preservação e sua antiguidade.

Cada publicação tem uma história especial. O autor tece personagens, cidades, situações, tudo junto em um produto diagramado, organizado, muitas vezes em capítulos, e exposto na vitrine. Só que um livro acaba sendo muito mais que um mero reprodutor de histórias. Se a obra for profunda e, de alguma forma, atingir o leitor, ele indica o livro para outras pessoas e, se ele não for muito apegado ao objeto físico, acaba repassando-o a amigos, como uma maneira de dividir sensações. Dessa forma, o livro, muito além de seu conteúdo, acaba se fazendo uma história.

Sentindo a necessidade de compartilhar tudo isso, a professora de Literatura, Laís Romero, decidiu criar um Sebo literário dentro de seu apartamento. Entre os brinquedos do filho, Luís, e os gatos que cria no pequeno espaço, Laís arrumou um lugar para pessoas iguais a ela, que sempre estão com sede de boas leituras. Ela faz isso há um ano e afirma que é por prazer. “A venda dos livros não me traz uma renda extra e o que ganho eu não conto como algo relevante. Eu me satisfaço apenas em trocar experiências literárias”, afirma.

A professora de Literatura, Laís Romero, resolveu fazer de seu apartamento um Sebo Literário

O Sebo é visitado por poucas pessoas. “Eu tenho em torno de 20 clientes fieis, muitos deles são amigos”, explica Laís. Com um ano de existência, seu acervo aumenta gradativamente. Laís está sempre a procura de livros e, geralmente, quando vê uma coleção de obras literárias posta de lado e esquecida na casa de alguém, mostra interesse em adquirir.

 Ela também tem uma preocupação especial com seus visitantes. “Algumas pessoas descobrem pelas redes sociais a página que eu vendo livros e me procuram, pedem para ver meu acervo. Eu ofereço café e um bom papo. Muitas vezes elas entram no meu apartamento com um livro especifico na cabeça, mas acabam levando dois, três a mais”, esclarece.

A paixão pelos livros também estimulou e aproximou dois jovens universitários. Romário Farias e Ariadne Chaves vendem livros em feiras literárias desde 2012, época em que começaram a namorar. Mas somente em 2015, o casal resolveu “oficializar” a venda de livros e criaram a página Paranoia Livros. “Sabemos da força que as redes sociais, bem como os grupos de comercialização e troca de itens possuem e como ainda não possuímos um espaço físico, nós encontramos no mundo virtual um primeiro passo para isso”, explica Romário.

 O lucro que é obtido pela venda dos livros, é destinado para a ampliação do acervo. “O objetivo é desenvolver, aumentar o acervo e futuramente dar um espaço físico para os livros e leitores ou pra quem só quer apreciar um café e uma boa conversa”, afirma o universitário.

“O ‘empreendimento paranoico’ do qual estamos investindo, é fundado em amor aos livros e nos mundos criados por eles e que numa sequência de produção, recepção e apropriação transformam vidas e nos fazem encontrar uns aos outros nas discussões sobre as leituras”, conclui Romário.

 Enquanto o mercado de livros na cidade é voltado para o próprio mercado, saber que existem pessoas que tratam da literatura como uma forma de estreitar laços, é sentir que, no final, quem acaba ganhando é o leitor, que entra em contato direto com um dos sentidos da literatura: transformar a vida de alguém.

Livros escolares e paradidáticos geram mais lucros

Pela falta de Sebos físicos dedicados somente a livros literários na cidade, os leitores acabam não tendo muitas opções disponíveis. É fato que encontrar bancas de livros usados no Centro de Teresina é uma tarefa fácil, mas a maioria dessas banquinhas tem todo seu acervo voltado a livros escolares, apostilas e paradidáticos, quase sempre usados e com um preço mais acessível.

Bancas de livros usados que ficam localizadas na Praça do Fripisa priorizam vendas de livros didáticos

Ceiça Ferreira é livreira a mais de 20 anos. A pedagoga de 46 anos é dona de uma loja de livros, junto com mais 7 amigos. Cada dono é responsável por uma parte da loja, além de manterem uma banca de livros escolares na Praça do Fripisa. A loja física só existe a pouco mais de 2 anos, mas durante duas décadas, Ceiça já levou seu acervo para diversas feiras dentro e fora do estado. Ela afirma que consegue se sustentar apenas com a venda de livros. Entretanto, isto só é possível por que em sua loja, ela oferece todos os tipos de livros. “Por mais que eu goste de literatura e sinta prazer em indicar bons livros para os meus clientes, eu sei que nenhum Sebo se sustentaria sem oferecer livros escolares e paradidáticos”, explica.

Fotos: Elias Fontenele/ODIA

Loja da pedagoga Ceiça Ferreira, lucra mais com a venda de livros escolares e paradidáticos

Para algumas pessoas, a compra do livro usado tem uma diferença do livro novo, que está muito além do preço. Para a estudante do ensino médio, Raíssa Muniz, de 17 anos, um livro usado tem toda uma simbologia por trás de sua história. “Uma obra que pertenceu a uma outra pessoa, já conta por si uma história. Trazer consigo um livro usado é como se apropriar das memórias alheias. E isso quase sempre é uma experiência rica e divertida”, pontua.

Edição: Nayara Felizardo
Por: Aldenora Cavalcante (estagiária)
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