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A teimosia em se produzir uma revista literária no Piauí

Mesmo sem muito apoio financeiro, professores e escritores se esforçam em fazer a arte reverberar

26/03/2015 17:52

Fazer a produção artística circular. Com dedicação, coragem e muita teimosia. Esta é a intenção de duas das principais revistas literárias produzidas no Piauí. As revistas não têm um retorno financeiro considerável e quase nenhum patrocínio. Para seus criadores, só trazem dívidas – proporcionais à satisfação de ver mais uma edição finalizada depois de muito esforço.

Sem muitos recursos, os professores de Letras, Adriano Lobão e Wanderson Lima, já haviam produzido uma revista impressa que durou somente cinco números. Então viram que uma versão on-line teria um alcance muito maior. Foi assim que surgiu a Revista Desenredos. “Quando estava criando o primeiro modelo da página on-line, eu pensei: ‘preciso desfazer esse enredo’. Imediatamente lembrei-me do conto de Guimarães Rosa, Desenredo, e batizei o novo projeto de dEsEnrEdoS”, explica Adriano.

Professor Adriano Lobão, um dos criadores da revista dEsEnrEdoS (Foto: Arquivo Pessoal)

A revista foi ao ar pela primeira vez em 2009 e atualmente já está em sua 22º edição, com uma periodicidade irregular de três a quatro edições por ano. Para Adriano, disponibilizar uma revista gratuitamente na internet, traz uma maior proximidade com possíveis colaboradores de outros estados e também de outros países, como Finlândia, Portugal e Itália.

Desenredos traz textos de diversos gêneros, como poemas, resenhas e artigos e recebe inúmeros textos de colaboradores. Mas o grande desafio para seus editores é ler tudo isso com cuidado, sobretudo os textos de autores iniciantes. Na revista, os autores renomados estão dispostos ao lado daqueles menos conhecidos, deixando claro que somente a escrita importa.

Mais que divulgar o trabalho de outros autores, para Adriano, a revista é uma produção viciosa, remédio tarja preta, que ele jamais vai conseguir viver sem. “Às vezes sinto que é amor, à vezes sinto que é vício. O que eu sei é que não consigo me imaginar deixando de editar a Desenredos” conclui.

Essa necessidade em não deixar a literatura parar de circular, também atingiu por completo dois poetas piauienses, Thiago E e Demetrios Galvão. Eles já participavam de movimentos artísticos que tiveram curta duração de tempo, o suficiente para fazer surgir a Revista Acrobata. Com eles, embarcaram neste circo, o professor Aristides Oliveira e a artista plástica Meire Fernandes.

Eles foram ainda mais corajosos. Desde o inicio, não abriram mão da versão impressa da revista, apesar de disponibiliza-la gratuitamente no blog. Quase todos os gastos são tirados dos próprios bolsos, com único apoio de Leonardo Dias, proprietário de duas livrarias em Teresina. A revista física é vendida por R$ 15,00 reais. A arrecadação com a venda tem a finalidade de arcar com os custos de impressão.

Thiago E, Demetrios Galvão e Aristides Oliveira, editores da Revista Acrobata (Foto ao lado: Aldenora Cavalcante)

A revista transita da literatura para as artes plásticas e a fotografia. “A nossa proposta era ter uma publicação própria que pudesse construir pontes e dialogar com os diversos cenários literários e do audiovisual brasileiro contemporâneo”, explica Demetrios. Com essa intenção, a Acrobata surgiu em 2013: independente e se equilibrando em sua própria arte.

Três primeiras edições da Revista Acrobata (Foto: Aldenora Cavalcante)

A cada número, a revista vem adentrando novos espaços e ganhando mais leitores. Em sua quarta edição, já totalizou mais de 80 colaboradores de diversas partes do Brasil. Editar a Acrobata, para Demetrios, é uma forma de resistência contra a cultura hegemônica.

Com tanto esforço e sem conformismo, a revista vai seguindo. Além do prazer de divulgar artistas e escritores, a produção é motivada, sobretudo pela falta de apoio. “A ação de não se conformar com o cenário de abandono da cultura piauiense, me mobiliza a sair da comodidade e do conformismo e me lançar na luta por meio da linguagem e das articulações artísticas”, conclui.

Edição: Nayara Felizardo
Por: Aldenora Cavalcante (estagiária)
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