Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

246 cágados já morreram na Avenida Boa Esperança em 2017

Além do risco de atropelamentos, os animais também são mortos por pescadores que utilizam sua carne para a pesca.

30/09/2017 08:29

A passos lentos, o animal passa pela via ignorando o movimento constante dos carros e um motorista desatento acaba por atropelar o bicho. Esse cenário, infelizmente e fatalmente, é muito comum na zona Norte de Teresina, onde a morte dos cágados de barbicha, espécie comum na região das lagoas e no entorno do Parque Lagoas do Norte, é uma realidade preocupante. De acordo com o Instituto Socioambiental Cágado de Barbicha, já foram contabilizadas a morte de 246 cágados este ano na região.

A presença de animais silvestres nas áreas urbanas vira ocorrências diárias dos órgãos especializados na proteção da fauna. “Infelizmente, por conta do crescimento desordenado da cidade e a falta de um estudo ambiental, temos muitos lugares que têm a presença de animais silvestres, que são mortos por motivos variados”, explica a ambientalista e presidente do Instituto Cágado de Barbicha, Jacqueline Lustosa.


Cágados habitam região das lagoas da zona Norte e são atropelados ao atravessar a avenida (Foto: Jailson Soares/O Dia)

No caso dos cágados da zona Norte de Teresina, além do risco de atropelamentos, os animais também são mortos por pescadores que utilizam a carne do animal para a pesca. Para o primeiro fato, o poder público colocou placas de sinalização que alertam para a presença dos animais na pista. No segundo caso, há uma tentativa de conscientização da comunidade, através do Programa Lagoas do Norte, para a conservação da fauna local.

Outros casos

Mas o problema envolvendo animais silvestres em Teresina não se resume à zona Norte. A indevida retirada de animais de seu habitat natural para criação em sítios e residências afeta todo o equilíbrio do ecossistema local.

“No Mocambinho, por conta do Jardim Botânico, algumas pessoas pegam soins e até filhotes de bicho preguiça. Essa época, quando acontece a reprodução das preguiças e em virtude dos galhos que estão grandes no Parque, as pessoas acabam por retirar esses animais, o que é um erro gravíssimo”, alerta Jacqueline.

A transmissão de doenças é um dos riscos alertados pela ambientalista. Os animais silvestres podem transmitir doenças, entre elas a raiva, que coloca os seres humanos em risco de morte.

O que diz a lei

A captura e a criação de animais silvestres, apesar de serem práticas comuns, são terminantemente proibidas, como determina o artigo 1º da Lei de Proteção à Fauna. “Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedade do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha”.

Falta de sinalização põe bichos em risco

A falta de sinalização e o excesso de velocidade são fatores que, juntos, têm causado a morte de animais silvestres nas vias urbanas de Teresina. Para a ambientalista Jacqueline Lustosa, a fixação de placas de alerta poderia diluir o risco de mortes desses bichos. Entre os locais que mais registra fluxo de animais em Teresina, Jacqueline ressalta trechos como os da proximidade da Avenida Universitária e da Ponte da Primavera; toda a extensão da Avenida Cajuína e na frente dos parques públicos da cidade, onde a flora e fauna ainda são preservadas.


Soin morto na Avenida Petrônio Portela, próximo ao Rio Poti, após atropelamento

“Só temos sinalização na zona Norte e precisamos que os poderes públicos se mobilizem para garantir uma melhor cobertura e cuidado com os animais da nossa cidade”, explica.

O mototaxista Fernando Mangabeira, que mora nas proximidades da Avenida Dom Severino, na zona Leste de Teresina, relata que o fluxo de iguanas na via é preocupante. “Têm épocas que aparecem muitas e elas acabam sendo atropeladas ou atrapalham os carros aqui na Avenida”, destaca. Segundo a ambientalista, seis iguanas já foram resgatadas na região.

Diferenças entre animais silvestres e exóticos

Os animais de estimação são comuns nas residências de todo o mundo, mas o desejo por criar bichos diferenciados acaba fazendo com que as pessoas alimentem a rede de tráfico de animais, que é proibida no país.

Para criar animais silvestres é preciso ter uma autorização do Ibama. Por exemplo, pássaros nativos em cativeiro, têm que ser credenciados no Sispass, que é um sistema de passeriformes. Segundo a capitã Liliane, do Batalhão Ambiental, no Piauí, não existem criadores autorizados.

Os animais silvestres são aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do Território Brasileiro, é o caso do papagaio, aranha, jacaré, jabuti, tamanduá e tantos outros.

Já os animais exóticos são aqueles cuja a distribuição geográfica não inclui o Território Brasileiro. As espécies ou subespécies introduzidas pelo homem, inclusive domésticas, em estado selvagem, também são consideradas exóticas.

Criar animais silvestres ou exóticos sem permissão é considerado crime pela Lei 9605/98. E quem infringir esta lei pode ser multado e sofrer detenção que pode ir de seis meses a um ano.

Projeto alerta para cuidados e riscos envolvendo animais silvestres

A difusão de informações no combate ao tráfico de animais silvestres e suas zoonoses. Este é o objetivo do projeto Jandaia Sol, realizado através do Ibama Piauí em parceria com a Prefeitura de Teresina, na sensibilização de mais de sete mil crianças da rede municipal de educação de Teresina. O nome do projeto faz referência a uma ave, instituída como símbolo de Teresina, através de um decreto assinado em 1999.

Fabiano Pessoa, veterinário e analista ambiental do Ibama, destaca que a sensibilização das crianças é uma medida capaz de provocar uma verdadeira transformação social.


Foto: Assis Fernandes/O Dia

“As crianças assimilam a mensagem muito rápido. Entender que os animais silvestres têm direito de viverem em liberdade e têm necessidade de se manterem em seus ecossistemas, é fundamental para uma sociedade melhor”, destaca.

Isso porque o tráfico e a captura indevida de animais trazem danos incalculáveis para a biodiversidade, além de expor o ser humano a mui tas doenças.

Nas escolas, as intervenções pedagógicas, que contam com apresentações de fantoches, musicais e palestras, fomentam a necessidade de manter o equilíbrio do ecossistema para as crianças em idade escolar.

De autoria da Superintendência do Ibama no Piauí, o Jandaia Sol é desenvolvido com o apoio da Secretaria Municipal de Educação (Semec) e Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semam).

Por: Glenda Uchôa - Jornal O Dia
Mais sobre: