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Cientista se surpreende com dentes em minhoca de 500 milhões de anos

Pesquisa analisou fóssil e descobriu características esquisitas da minhoca. Espécie tem sete pares de pernas e é coberta com espinhos sólidos.

25/06/2015 08:34

Este não é certamente o sorriso da Mona Lisa, mas essa descoberta tem encantado o pesquisador Martin Smith: Hallucigenia, uma das criaturas mais surreais do passado, uma minhoca com penas e patas, também tinha dentes ao redor da boca.

Ao considerar este velho fóssil de 500 milhões de anos com um microscópio eletrônico, Martin Smith, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Jean-Bernard Caron do Museu Real de Ontário, no Canadá, esperavam detectar os olhos.

"Ficamos surpresos ao encontrar não apenas os olhos, mas também um ar malicioso - uma série de dentes que sorriu para nós", contou Martin Smith à AFP.

A descoberta, publicada nesta quarta-feira (24) na revista britânica "Nature", permite ver as coisas um pouco mais claras sobre este estranho animal, agora extinto, que viveu no Cambriano - um período que viu a explosão de organismos multicelulares e uma significativa diversificação das espécies na Terra.

 Fóssil da minhoca 'Hallucigenia sparsa'  (Foto: Jean-Bernard Caron/Divulgação)
Fóssil da minhoca 'Hallucigenia sparsa' (Foto: Jean-Bernard Caron/Divulgação)

Os pesquisadores trabalharam em dezenas de fósseis oriundos de Burgess Shale, um local que já esteve submerso, localizado nas Montanhas Rochosas do Canadá.

Descoberta pouco depois de 1900, esta minhoca pré-histórica foi descrita precisamente pela primeira vez na década de 1970 por Simon Conway Morris que a batizou Hallucigenia - do latim "hallucinatio" (alucinação) - por causa de sua forma estranha. Desde então continua a intrigar os paleontólogos.

A minhoca, que mede entre 1 e 5 centímetros, se assemelha a um "bastão de hockey, equipado com sete pares de pernas e coberto com espinhos sólidos", disse Martin Smith. Ela morava no fundo da água entre 515 a 505 milhões de anos atrás.

Inicialmente, alguns cientistas pensavam que o animal caminhava sobre seus espinhos em suas costas e tinha tentáculos. Mas outros pesquisadores inverteram o diagrama, estabelecendo que os tentáculos eram realmente patas apoiadas no chão e munidos de garras enquanto os espinhos estavam na parte de cima.

  Ilustração mostra como seria minhoca Hallucigenia sparsa  (Foto: Danielle Dufault/Divulgação )

Ilustração mostra como seria minhoca Hallucigenia sparsa (Foto: Danielle Dufault/Divulgação )

Cabeça e cauda

Em seguida, o debate entre os especialistas se tornou acalorado em torno de onde estava sua cabeça e de onde estava sua cauda.

Ao analisar os fósseis de Hallucigenia alojados no Museu Real de Ontário em Toronto, Smith e Caron descobriram que uma forma de balão que tinha sido tomada como a cabeça do bicho, era na verdade um ponto escuro, feito de resíduos intestinais, para fora do ânus do animal. Existia, portanto, uma cauda.

Com seu microscópio, eles se dedicaram a descobrir a outra parte do corpo que poderia ser, de fato, a cabeça - após ter retirado o sedimento que a recobria. Foi assim que os olhos e o "sorriso" de Hallucigenia foi descoberto.

Os exames "mostraram que a boca de Hallucigenia era cercada por um anel de dentes, o que promoveria a aspiração de alimentos. Além disso, em sua garganta havia uma fileira de dentes afiados como alfinetes. Deveria agir como uma catraca para impedir que o bolo não voltasse", sugeriu Martin Smith.

Hallucigenia está próxima dos vermes-aveludados que vivem atualmente em algumas florestas tropicais. Eles fazem parte do vasto grupo Ecdysozoa, cujo desenvolvimento ocorre através das metamorfoses (minhocas, lagartas...).

Os dentes de Hallucigenia "parecem com o que foi observado nos primeiros animais que se metamorfizavam. Isto sugere que eles tinham um ancestral comum que possuía este tipo de dente na garganta", considera Jean-Bernard Caron.

Fonte: G1
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