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Jovens da rede pública e privada estudam mais de 14 horas por dia para o Enem

Estudantes revelam diferenças entre escolas estaduais e particulares.

22/05/2015 13:01

Considerado um desafio a ser vencido no último ano de escola, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se tornou a porta de entrada de estudantes de todo o Brasil ao Ensino Superior desde 2009, ano em que foi transformado em uma espécie de vestibular.

Em pesquisa divulgada pelo Ministério da Educação (MEC), em janeiro deste ano, tendo como base as notas finais dos candidatos, ficou comprovado que alunos de escolas federais têm as melhores médias nas cinco áreas de conhecimento cobradas pelo Enem. A rede privada de ensino aparece em segundo lugar no desempenho das notas e, logo depois dela, a rede municipal. A rede estadual ficou em último lugar. A pesquisa pontuou ainda que pelo menos 73% dos estudantes que fizeram a prova era da rede estadual.

Fotos: Assis Fernandes/ODIA

O PortalODIA conversou com estudantes do 3º Ano do Ensino Médio que vão prestar o Enem este ano, sendo um de uma instituição privada de ensino, e um de uma instituição pública. Tanto as instituições estaduais quanto particulares já apresentam os simulados Pré-Enem em sua grade curricular, embora os das escolas privadas sejam realizados com mais frequência. Por outro lado, a escola pública oferece cursinho pré-vestibular gratuito.

Outra diferença em relação às escolas públicas e privadas é a quantidade de disciplinas ofertadas, que são reduzidas pela metade na grade curricular das unidades educacionais do Estado, de acordo com estudantes e professores. Nas escolas particulares existem disciplinas mais específica, como é o caso da área de exatas. Matemática, Física, Química e Biologia, por exemplo, são divididas em 1 e 2. Para os professores, isso permite que o aluno se aprofunde mais em um tema específico dentro da disciplina.

Estudantes ficam 11 horas na escola de Tempo Integral

Ritha Maria Marques, 18 anos, estudante do 3º ano no CEMTI Didácio Silva, em Teresina, conta que passa pelo menos 11 horas por dia na escola. Desse total, nove horas ela fica em sala de aula, e as outras duas horas, está em Horário de Estudo (HE), que é um tempo reservado para que os alunos façam as atividades passadas pelos professores em sala. A aluna assiste a nove aulas por dia com a duração de 50 minutos cada.


Sala de aula na escola de tempo integral, Didácio Silva

Além disso, a estudante faz ainda um cursinho pré-Enem oferecido pelo próprio CEMTI que acontece três vezes semanalmente, sendo um dia no final de semana, com duração de três horas cada. “É um complemento àquilo que eu vejo em sala e uma chance que eu tenho de me aprofundar mais em temas específicos para a área que eu quero”, diz Ritha Maria. A estudante pretende cursar Psicologia em uma Instituição de Ensino Superior.

Ritha conta ainda que vai começar a fazer um preparatório de Redação porque acredita que uma apuração na escrita e um bom texto são decisivos na contagem da nota final do candidato. “A Redação, sozinha, vale 1.000 pontos e aí você percebe o peso que essa nota tem no desempenho total, e eu não quero fazer feio. Sei que se eu treinar, me dedicar, posso fazer um bom texto e sair da prova mais tranquila e com a sensação de dever cumprido”, completa a estudante. O curo preparatório será oferecido pela própria escola no valor de R$ 50,00 por aluno e terá as aulas ministradas na quinta-feira à noite.


Ritha estuda 11 horas por dia na escola e ainda faz cursinhho pre-Enem

Estudando em uma sala com mais 45 alunos, Ritha conta que tem tido um bom acompanhamento por parte de seus professores que estão sempre à disposição para lhe tirar dúvidas e dar dicas para enfrentar as cinco horas de prova do Enem. “A gente sabe que é muito cansativo. Tem hora que parece mais uma prova de resistência, mas os professores estão sempre por perto para mostrar que o Enem não é esse bicho de sete cabeças que todo mundo acha e, mesmo sendo uma turma grande, já deu pra perceber que eles procuram tratar cada um individualmente conforme as nossas dificuldades”, afirma Ritha Maria. Além do tempo que passa na escola, a adolescente se dedica aos estudos por pelo menos mais duas horas em casa, no período da noite.

Sobre o acompanhamento dos alunos, o diretor do CEMTI Didácio Silva, professor Alberto Vieira (foto abaixo), diz que a preparação dos candidatos começa desde o 1º ano do Ensino Médio, ficando o 3º Ano apenas para uma espécie de revisão geral. A escola vai implantar nos próximos meses um curso de Redação Básica preparatório para o Enem para dar mais segurança ao aluno.

“Nosso alunos de 3º ano tem 12 disciplinas com acompanhamento individual de cada um. Como é tempo integral, eles passam mais tempo na escola e isso nos dá a oportunidade de acompanhar mais de perto o seu desenvolvimento acadêmico. É claro que ainda há muitas dificuldades, mas nós estamos melhorando pouco a pouco”, diz o professor Alberto Vieira.

Alunos de escola particular estudam em média 14 horas por dia

Diferentemente de estudantes do CEMTI Didácio Silva, os alunos de uma escola particular localizada na Frei Serafim, Centro de Teresina, contam que fazem simulados duas vezes por semana como uma forma de treinamento para a prova do Enem, além das aulas que assistem.

Os estudantes da turma do 3º ano têm aula das 7h da manhã até as 13h30min e simulados duas vezes por semana à tarde, sendo um com 5h de duração e outro com duas a três horas de duração, além das aulas nos dias de sábado, o que totaliza uma média de 14h por dia.

“Na segunda-feira nós fazemos 50 questões de matemática ou de Ciências da Natureza e na sexta-feira nós fazemos simulados estilo Enem mesmo, com todas as áreas do conhecimento e a redação”, explica a estudante Victoria Luiza, 16 anos, que fará a prova este ano e pretende cursar medicina.


Victoria Luíza e Raissa Martins estudam em casa para reforçar o conhecimento

Sua colega de turma, Raissa Martins, 18 anos, completa dizendo que mais da metade de seu dia é dedicado aos estudos. “São sete horas aqui na escola, e, quando chego em casa, descanso um pouco e começo a estudar umas 15 horas. Vou até as 19 horas, faço uma pausa pro jantar, volto às 21 horas  e fico em média até as 23 horas”, relata.

Apesar da rotina ser considerada cansativa, para os professores ela é necessária, uma vez que a concorrência no Enem está cada vez maior e os temas abordados são os mais diversos, exigindo mais conhecimento e competência por parte do aluno.

O professor de Matemática, Neto Ceará (foto abaixo) afirma que o 3º ano é uma espécie de revisão de todo o conteúdo visto na escola e, que se o aluno não tiver uma base ou apresentar alguma deficiência, poderá acabar se prejudicando mais na frente. “Tem gente que pensa que é muita aula, muito simulado, mas nós professores cobramos muito deles porque tem que ser cobrado mesmo. E se o aluno tem alguma dificuldade, a gente tem que ir lá sanar”, diz o professor.

“Redação representa um problema porque faz o aluno escrever”

Para o professor Alex Romero, uma das grandes dificuldades do candidato que faz a prova do Enem é colocar no papel aquilo que pensa e entende sobre um determinado tema, através da redação. O professor pontua que os meios digitais de hoje, ao mesmo tempo em que auxiliam com ferramentas de pesquisas poderosas, acabam atrapalhando a escrita do aluno que se acostumou a teclar.

“Tem aluno que consegue passar até dois meses sem praticar uma redação e acredita que na hora vai fazer milagre. Não vai fazer não. Redação não cai do céu, tem que ter um conhecimento prévio daquilo, tem que conhecer o tema, tem que ler muito. Muitos alunos pecam na leitura, acham que só saber articular a gramática é suficiente. A redação é uma prova à parte e vale tanto quanto as outras áreas do conhecimento juntas. Não adianta o candidato se sair bem em humanas e matemática se na redação ele vai mal. É eliminado”, afirma o professor Alex Romero.

Sobre os treinos com a redação, a estudante Raissa Martins diz que procura sempre treinar a escrita em casa e tenta ampliar ao máximo o leque de assuntos a serem lidos. “Quanto mais informação a gente tiver, melhor a redação e maior a pontuação. Eu creio que o aluno tem que saber quais as competências que aquele tema abrange pra poder formatar o nosso texto no padrão Enem”.

Inscrições do Enem 2015 começam na próxima segunda (25)

As inscrições para o Enem 2015 começam na próxima segunda-feira (25), a partir das 10 horas da manhã, e vão até as 21h59min do dia 10 de junho. Este ano, a taxa de inscrição será de R$ 63,00 e não mais os R$ 43,00 cobrados nas edições anteriores. O candidato deve ficar atento para a confirmação da inscrição, que só ocorrerá após a efetuação do pagamento da taxa no sistema MEC.

Estarão isentos da taxa de inscrição os estudantes da rede pública de ensino que estejam cursando o 3º ano do Ensino Médio e que comprovem carência conforme as regras do edital. Alunos que forem isentos da taxa de inscrição e não comparecerem à prova perderão a isenção no próximo Enem.

As provas deste ano vão ser aplicadas nos dias 24 e 25 de outubro. Os portões de acesso ao ponto de aplicação fecham às 13 horas, horário de Brasília. No primeiro dia serão quatro horas e meia de avaliação e no segundo dia são cinco horas e meia, por conta da Redação.

Edição: Nayara Felizardo
Por: Maria Clara Estrêla
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