A Polícia Civil do Rio vai convocar para depoimentos representantes da empresa que forneceu os módulos para o centro de treinamento do Flamengo para obter maiores informações sobre o material com que as instalações foram feitas.
Serão convocados também dirigentes do Flamengo. O incêndio, ocorrido no início da manhã de sexta (8) deixou dez mortos e três feridos, todos jogadores das categorias de base do clube.
Os módulos habitacionais forma fornecidos pela empresa NHJ, com sede no Rio. Segundo o site da companhia, são montados com painéis de chapa de aço com núcleo de poliuretano injetado.
Altamente inflamável, o poliuretano foi apontado como um dos fatores que agravou o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que deixou 242 mortos em 2013. Naquele caso, porém, o material estava exposto, usado como revestimento acústico nas paredes.
A suspeita de que materiais inflamáveis podem ter acelerado a propagação do incêndio no centro de treinamento do Flamengo foi levantada pelo Jornal Nacional, da TV Globo, em reportagem que diz que o forte cheiro de solvente em uma das vítimas indicaria a presença de material inflamável.
O delegado responsável pelo caso, Mário Petra, disse à reportagem que ainda não é possível fazer relação entre as dimensões do incêndio e o material usado e que está aguardando o resultado da perícia.
"Mas o laudo da perícia talvez não consiga identificar, em razão do estado de destruição", ponderou o delegado. Isso reforça a necessidade de depoimento dos fornecedores dos módulos.
Até agora, a polícia ouviu funcionários do clube e os 13 jogadores que estavam no módulo e conseguiram fugir. Eles contaram que o incêndio começou em um aparelho de ar condicionado em um dos quartos.
O alojamento era formado por nove módulos habitáveis, cada um com três beliches. Segundo a prefeitura, o clube não tinha autorização para instalação dos contêineres no local.
Por falta de alvará de funcionamento, o Flamengo recebeu 31 multas e chegou a receber ordem de interdição, que não foi cumprida. Em pronunciamento na tarde de sábado (9), o clube não negou a falta de licenças, mas defendeu que não há relação com o acidente.
"Temos providências a tomar para que o CT seja legalizado. Estamos trabalhando para isso", afirmou o CEO do clube, Reinaldo Belotti. "Precisávamos de nove certificados, já temos oito. E estamos trabalhando com os bombeiros para ter esse último alvará."
O Corpo de Bombeiros diz que o certificado de aprovação do centro de treinamento do Flamengo não foi emitido por "falta de cumprimento pleno da legislação vigente". "Existem pendências de execução do sistema de segurança e pânico", disse o órgão.
O clube deu entrada no projeto de segurança contra incêndio em 2010 e, desde então, os Bombeiros vêm realizando vistorias. Mas a corporação diz que a estrutura provisória onde ocorreu o incêndio não constava do projeto original e não foi vistoriada.
A reportagem ainda não conseguiu contato com a empresa NHJ.
Fonte: Folhapress