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'Não somos racistas', diz grupo que usa bandeira confederada em SP

Entidade celebra todo ano imigração ao Brasil após Guerra Civil nos EUA. Para descendentes em Santa Bárbara (SP), massacre 'semeou discórdia'.

25/06/2015 08:54

Crianças vestidas com uniformes e vestidos da Confederação dançam durante festa para comemorar o 150º aniversário do fim da Guerra Civil Americana em Santa Bárbara d' Oeste, no interior de São Paulo (Foto: Andre Penner/AP)

Crianças dançam durante Festa Confederada em Santa Bárbara d'Oeste (Foto: Andre Penner/AP)

A bandeira confederada, centro de polêmica nos EUA após o massacre em que nove pessoas morreram em uma igreja da comunidade negra de Charleston, na Carolina do Sul, simboliza "família", "união" e "amizade" para um grupo de descendentes americanos em Santa Bárbara d'Oeste (SP). "Não somos racistas", diz o presidente da Fraternidade Descendência Americana na cidade, Marcelo Sans Dodson.

Há 150 anos, o grupo celebra a bandeira confederada e comemora a imigração dos sulistas para o interior de São Paulo após a Guerra Civil dos EUA. Nos últimos dias, teve início um movimento para retirada do símbolo de órgãos públicos em diversas regiões dos Estados Unidos. E o uso da bandeira em Santa Bárbara d'Oeste repercutiu até fora do Brasil.

Descendentes de americanos celebram festa confederada em Santa Bárbara d'Oeste (Foto: Thomaz Fernandes/G1)

Descendentes de americanos celebram imigração após Guerra Civil (Foto: Thomaz Fernandes)

A polêmica sobre o uso de símbolos confederados reacendeu após o atirador Dylann Roof, acusado de matar as nove pessoas em Charleston, aparecer em fotos com a bandeira. O crime teria sido motivado por ódio racial e, devido à Guerra Civil, estados sulistas foram apontados no passado como defensores da escravidão.

Dodson disse, por telefone, que essa visão é errada e fruto de manipulação feita pelos vencedores da guerra. Em nota, ele afirma que a fraternidade "repudia e é contrária a qualquer tipo de discriminação, seja racial, religiosa, de gênero ou idade" e "defende a integração dos povos, o respeito religioso e a liberdade de expressão".

"A bandeira confederada simboliza para nós a família, a união, a fraternidade e a amizade", diz Dodson. Para a entidade, segundo ele, o massacre em Charleston foi um "claro exemplo de intolerância, incompreensão e desrespeito", e o jovem responsável pelos crimes "semeou a discórdia, a mágoa e a revolta".

"Lamentamos profundamente o ocorrido em Charleston bem como a discórdia gerada por este triste evento", afirma a nota da fraternidade, que acrescenta: "que o entendimento, a tolerância, o respeito e a compreensão sejam os motores das discussões nos EUA ao invés de expressões de ódio e discriminação sobre a memória confederada."

Descendentes de americanos celebram festa confederada em Santa Bárbara d'Oeste (Foto: Thomaz Fernandes/G1)

Descendentes de americanos celebram Festa Confederada em Santa Bárbara (Foto: Thomaz Fernandes)

Bandeira
Dodson disse ainda que o episódio em terra estrangeira não afetará o uso da bandeira confederada em Santa Bárbara. "Mesmo porque, as pessoas que conhecem um pouco da história, entendem que não tem nenhum ato de cunho racial em usá-la. Nós da FDA estamos muito tranquilos quanto a isso, pois não é uma bandeira que estimula o ódio, mas sim a mente das pessoas, portanto, o problema racial nos EUA é algo que um dia eles terão que encontrar uma saída pacífica e unificadora, pois mesmo que a bandeira confederada seja retirada da vista da população, o problema racial ainda estará presente".

Festa Confederada
A Festa Confederada de Santa Bárbara d'Oeste acontece anualmente no Cemitério do Campo da cidade e reúne descendentes dos imigrantes derrotados na Guerra Civil americana. O local abriga corpos de 18 soldados e cinco generais que defenderam os estados do sul durante o conflito.

Jimmy Carter, então governador da Georgia, foi a festa em Santa Bárbara (Foto: Acervo/Fraternidade dos Descendentes)

Jimmy Carter, então governador da Georgia, foi à festa (Foto: Acervo/Fraternidade Descendência)

O espaço, também conhecido como Cemitério dos Americanos, foi fundado para receber os imigrantes que morriam e não podiam ser enterrados em terreno católico à época, já que eram protestantes, segundo os descendentes dos confederados.

As famílias então passaram a sepultar os parentes nos fundos da igreja da fazenda onde se reuniam uma vez por mês para a troca de alimentos e cultos. O templo é considerado o primeiro da religião Batista no Brasil.

"Nossos ancestrais, após serem convidados por Dom Pedro 2º para que vivessem no Brasil, encontraram aqui o abraço acolhedor e a paz para recomeçarem suas vidas. Seus descendentes são demonstradores da integração entre raças e povos", diz Dodson.

Fonte: G1
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