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Governador do Espírito Santo nega aumento e defende ajuste fiscal

Para ele, o fato tem a "mão peluda da política" para desestabilizar "um Estado que só vinha com notícia boa".

13/02/2017 08:11

Enquanto se recuperava de uma cirurgia para a retirada de um tumor na bexiga, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), que volta à frente do Executivo capixaba nesta segunda-feira (13), viu eclodir um motim de policiais militares sem precedentes em seu Estado.

Para ele, o fato tem a "mão peluda da política" para desestabilizar "um Estado que só vinha com notícia boa".

À Folha o governador disse que é necessário romper o corporativismo no Brasil e fazer andar reformas estruturantes. Defensor da responsabilidade fiscal, ele afirma que a operação de resgate do governo federal para Estados que não cortaram gastos é "o avesso do avesso do avesso".

O governador Paulo Hartung (PMDB) (Foto: Reinaldo Carvalho/ ALES)

A entrevista foi concedida na sexta-feira (10), horas antes de um acordo entre o governo e associações de policiais, feito à revelia de familiares da categoria. Apesar do acerto, só 1.236 agentes voltaram ao trabalho no sábado (11) e domingo (12). O efetivo da PM no Estado é de cerca de 10 mil homens. Diariamente, 2.000 fazem patrulhamento.

O Estado está há mais de uma semana com policiais amotinados e a população assustada. Faltou pulso do governo para enfrentar a crise?

Paulo Hartung - Nossa área de segurança vinha acompanhando um movimento que poderia ocorrer no Carnaval, e a área de diálogo com as entidades dos servidores foi mobilizada para evitar que isso acontecesse. A informação de que eu entrei no centro cirúrgico detonou esse movimento, uma coisa que dá uma tristeza profunda. É uma covardia.

Sobre a justificativa de ser o pior salário do país, não é. É o décimo salário do país, com grande atratividade no mercado capixaba. O argumento de sete anos sem aumento não fica de pé. Os praças receberam mais de 38%, e os oficiais, de 38% a mais de 50%.

O sr. se recupera de uma cirurgia e enfrenta a crise ao mesmo tempo. Como tem sido?

Administrar uma crise dessa proporção é difícil em qualquer circunstância em termos de saúde pessoal e, num quadro assim, é dificílimo. Esse início de recuperação é muito dolorido, mas tenho energia. Reassumo o governo com toda a disposição de cuidar dos desafios capixabas e contribuir para o debate nacional.

Os policiais reclamam do salário. Faltou diálogo?

Não. No concurso público, está o valor do salário, que tem a ver com a capacidade de pagar do Estado. Em 2015, tive de pagar parte de um aumento para a Polícia Militar dado pelo governo anterior. Há um conjunto de inverdades difundido com as redes sociais.

Essa ação de corporativismo criou um discurso –com competência, reconheço– que misturou interesses próprios com interesse nacional. Quando espreme, não tem interesse da sociedade. Quanto custa para a sociedade? Ou a gente quebra isso ou não põe esse país de pé. Muitas vezes nem se sabe quanto custa o que se está pedindo, mas "é o governo que vai pagar". Não existe governo. Se fizer uma despesa que não cabe no orçamento, tenho que aumentar impostos. Aliás, boa parte dos colegas governadores aumentou impostos. Esse país precisa quebrar essa estrutura corporativa através do debate.

O sr. falou em reestruturar a PM. O que significa?

Vamos passo a passo. A primeira parte é abrir procedimentos em relação aos crimes cometidos. Continuaremos a dialogar, mas cumpriremos a lei. Tenho admiração pela Polícia Militar, mas a instituição, liderada por forças diversas e usando artifícios, vem praticando um ato contra a lei.

Mas por onde passa essa estruturação? Pela punição?

No tempo certo, vamos anunciar. Quero discutir com a sociedade. Outra coisa que me preocupa é a evolução de assassinatos. Criamos um grupo de investigação. Não deixaremos pedra sobre pedra. Vamos elucidar os assassinatos e, se tiver conexão aqui ou acolá, será apresentado.

Por que o governo não divulga o número oficial de mortos desde o início da crise? O governo não tem esse número?

Serão todos divulgados. Desde meu primeiro governo, em 2003, não trabalhamos sem informações precisas do que está acontecendo na segurança pública.

Mas estamos sem informações precisas. Temos números do sindicato de policiais civis.

Esses números vão ser divulgados daqui a pouco, sem nenhum tipo de manipulação.

Por que não foi feito até agora?

Porque estamos administrando uma crise. O secretário de Segurança está correndo de um lado para o outro, mas vai se pronunciar. Não acho que sindicato que está lutando e pedindo aumento é uma boa fonte para este momento.

Não há a menor possibilidade de aumento? Seria possível ajustes pontuais e reorganizar as contas do Estado?

O Estado paga em dia para os policiais. Fiz um ajuste fiscal, e uma das prioridades era manter a folha de pagamento em dia. Você dá um sobrevoo no Brasil e vê quem está parcelando salários.

Não temos margem. Quando cheguei no governo, estava no limite de alerta da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), segundo uma resolução do Tribunal de Contas de 2014. Nesse limite, não pode ampliar despesa de folha de pessoal. Foi debatido o mandato de uma presidente da República outro dia por causa da LRF. Vamos prescrever para o resto do Brasil descumprir? Não tem milagre. O Brasil precisa aprender. Precisamos viver com nossas possibilidades. Essa crise vai passar uma hora. Como a gente quer sair? Quebrado ou inteiro?

Fonte: Folha de São Paulo
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