A declaração de amor de um pai à filha comoveu a internet nesta semana. O “eu te amo” foi seguido por um pedido de desculpas por ele não saber escrever. Ao compartilhar a mensagem, a estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro Micarla Lins, de 21 anos, lembrou que saber ler e escrever é um privilégio num país com tantas desigualdades sociais.
“Vi o compartilhamento de uma mensagem de uma pessoa dizendo que saber ler não é inteligência, é privilégio. Acabei me lembrando de algumas situações de preconceito vividas por meu pai e resolvi publicar uma mensagem que ele me mandou pedindo desculpas por não saber escrever. Não esperava que fosse ter tanta repercussão”, contou Micarla.
A jovem publicou a mensagem no Facebook na noite de terça-feira (20). Rapidamente o post recebeu cerca de 300 curtidas, segundo ela.
“No início meu pai disse que ficou triste e envergonhado, porque as pessoas saberiam que ele não sabe escrever. Combinei com ele que iríamos dormir e, pela manhã eu iria checar os comentários e, dependendo do conteúdo, eu iria apagar o post. Quando acordei, já tinham mais de 60 mil curtidas e 600 comentários”, contou.
Pouco mais de 24 horas depois, a postagem já tinha mais de 200 mil curtidas e 32 mil compartilhamentos.
“Acho que meu celular nunca tocou tanto. Eu estou emocionada. Fiquei bastante feliz com as mensagens que recebi. Meu pai está muito emocionado por saber que existem muitas outras pessoas na mesma condição que ele”, destacou Micarla.
“Quando eu nasci, meu pai resolveu vir para o Rio de Janeiro, como muitos nordestinos. O que acho muito interessante, é que ele numa época ele ajudou na construção da Estácio de Sá e ele trazia muitos livros de direito pra mim. Anos depois eu acabei passando no vestibular para direito. Cursei dois anos, mas acabei decidindo mudar para serviço social”, contou.
Segundo Micarla, a declaração do pai foi dada em retribuição a um agradecimento que ela enviou a ele por mensagem no Facebook. Antes dela passar no vestibular, a família se mudou para São Paulo, uma vez que o pai descobriu uma doença cardíaca grave e foi buscar no estado vizinho melhor condição de tratamento. Ela voltou ao Rio sozinha para cursar o ensino superior.
“Meu pai não teve a mesma oportunidade que eu. Graças a um homem que não sabe ler e escrever eu estou na melhor universidade pública do país”, ressaltou.
Micarla afirma ter o sonho de transformar a vida das pessoas. Foi por esse motivo que optou por cursar serviço social. “Ser assistente social é, acima de tudo, assegurar direitos. Eu vejo muito no meu dia a dia, e na convivência com assistentes sociais, que a maioria das pessoas não tem consciência nem da metade dos direitos que ela tem”, declarou.
Apesar de satisfeita pela escolha do curso, ela espera ainda retornar ao direito e concluir as duas graduações. “Eu não faço as duas ao mesmo tempo por falta de dinheiro”, disse.