Rafael Henzel só quer voltar para Chapecó, cidade onde trabalha, no Oeste catarinense. O jornalista é um dos seis sobreviventes do voo que levava a delegação da Chapecoense. Ele falou ao Fantástico deste domingo (11) sobre o acidente, o primeiro contato com a mulher depois da queda do avião e como está a saúde, após muitas fraturas.
Ele sentou em uma poltrona na parte traseira do avião. "Eu estava à direita, no penúltimo banco, no banco do meio". Ao lado dele, estavam Renan Agnolin, repórter na rádio onde Rafael trabalha, e o cinegrafista da RBS TV Djalma Araújo Neto. Ambos não sobreviveram ao acidente.
"A gente perguntava para os comissários: quanto faltava? Dez minutos. De repente, desligaram as luzes do avião. Desligaram os motores. E aí todo mundo voltou pro seu assento e... colocou o cinto. A hora em que isso aconteceu causou um certo temor. Mas ninguém, ninguém imaginaria que a gente bateria naquele morro".
Nada foi avisado aos passageiros, segundo Rafael. "Nenhum segundo alguém da cabine ou comissário falou: 'coloquem os cintos de segurança porque há risco disso ou daquilo'". "Nós ficamos voando... sem saber absolutamente nada do que iria acontecer", completou.
Ele reparou nos comissários de bordo. "Dois dos sobreviventes estavam trás de mim. Dois bolivianos. Eu reparei que houve uma aflição muito grande. Por parte da comissária que sobreviveu. Ela foi pro lugar dela, ela colocou o cinto de segurança. Eu vi ela muito aflita. E quando ela ficou muito aflita, a aflição tomou conta".
Apesar disso, Rafael diz não recordar de ter havido pânico no avião. "Um silêncio assim, estarrecedor. A gente não sabia o que estava acontecendo. Até que veio o choque".
Ele só acordou cerca de sete horas depois. "Primeiro achei que era um filme. Achei que era um sonho. E que ia despertar logo desse sonho. Comecei a observar que vinha gente com algumas luzes, os socorristas. E aí eu comecei a gritar. Comecei a chamar por socorro, dizendo que eu estava ali". Rafael não tinha como sair do lugar. "Eu estava preso em duas árvores. E aí com árvores em cima das minhas pernas".
Os dois colegas da imprensa que estavam ao lado dele no avião continuavam perto dele, mas não respondiam aos chamados de Rafael. "Foi mais impactante ainda porque as duas pessoas que estavam do meu lado... estavam sem vida. 10 centímetros pra cá, 10 centímetros pra lá... o resultado poderia ser bem diferente".
Com tristeza, ele tentou chamar pelos rapazes. "O momento mais triste pra mim foi ver os dois colegas meus do lado... chamei pelos dois. Lamentei muito. Mas tive que buscar forças, apesar de estar com sete costelas quebradas. Não foi fácil, nada fácil mesmo. Chovia, 12 graus de temperatura. Foi muito íngreme a subida. Não tinha trilha de onde a gente estava. Os socorristas foram fortes".
Fonte: G1