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Tite e Sampaoli seriam ótimos, mas apenas a mudança de técnico não resolve os problemas do futebol brasileiro

Mais do que a demissão de Dunga, o futebol tupiniquim precisa de profundas transformações em sua base; troca no comando técnico pode melhorar apenas a Seleção

13/06/2016 17:00

Os brasileiros que ainda se enganam, precisam parar com isso. Já faz tempo que o Brasil não é o país do futebol. Já faz tempo que estamos no bolo mediano, aquém dos melhores times do planeta. Paramos no tempo, estamos atrasados em vários sentidos, e os vexames recentes retratam tudo isso.

A nova vergonha que o futebol brasileiro passou neste domingo, menos de um mês antes do segundo aniversário do 7 a 1, deixa nítida, mais uma vez, a enorme necessidade de mudanças na estrutura do futebol tupiniquim.

A campanha na Copa América Centenário foi ridícula. Em três horas de futebol, o Brasil foi incapaz de marcar um gol sequer em Peru e Equador, e conseguiu a proeza de ser eliminado em um grupo com os dois adversários e o Haiti. A Seleção não perdia para os peruanos há 31 anos e nunca ficou de fora dos oito melhores da Copa América.

(Foto: Getty Images)

Em outro texto, que escrevi mais cedo, comentei os incontáveis erros de Dunga e do futebol brasileiro, e minha falta de esperança em ver mudanças.

Não existe clima algum para a permanência de Dunga. O trabalho é horrível, o futebol pobre e os resultados inaceitáveis. Ele já deveria ter sido demitido há muito tempo. Aliás, nem deveria ter voltado.

A Seleção precisa de um novo treinador, e acredito que o escrete canarinho poderia estar em uma situação diferente com um técnico competente no comando. Existem bons e ótimos jogadores à disposição. A safra não é das melhores, mas é muito boa, e pode render muito mais com um treinador de alto nível ao invés do limitado Dunga, fechado com suas ultrapassadas convicções.

​(Foto: Lucas Figueiredo / MoWA Press)

Na minha opinião, Tite é a única e melhor escolha entre os brasileiros, até porque não imagino algum comandante estrangeiro de alto nível assumindo o escrete canarinho agora ao invés de continuar em seu clube no Velho Continente ou embarcar em um novo projeto. Pep Guardiola e José Mourinho, por exemplo, vão iniciar seus trabalhos nos rivais de Manchester, e Jorge Sampaoli, ao que tudo indica, vai trabalhar no futebol espanhol, no Sevilla ou no Granada.

O argentino seria uma ótima pedida. Aliás, o único treinador estrangeiro da história da Seleção também foi hermano: o lendário Filpo Núñez, que fez história no país. Núñez comandou o escrete canarinho em apenas uma partida, é verdade, mas é histórico no futebol tupiniquim. Ele foi o técnico de um dos maiores esquadrões da história do Brasil: a primeira Academia do Palmeiras.

Sampaoli é um dos melhores treinadores do mundo atualmente, fez um trabalho fenomenal no Chile e tem um conceito interessante de futebol, um estilo ofensivo, de posse de bola, mas agressivo na marcação e também incisivo em alguns momentos. Acredito que daria certo no Brasil, mas existem alguns problemas. O primeiro, é que a hipótese é improvável diante do acerto do treinador com o Sevilla - ele deve ser anunciado nas próximas horas ou, no mais tardar, nos próximos dias, como substituto de Unai Emery nos Rojiblancos. Outro empecilho é a CBF.

​(Foto: Getty Images)

Os cartolas chilenos não gostavam muito do argentino, mas o aceitaram por conta do excelente trabalho, futebol vistoso e ótimos resultados. Além disso, a torcida e os jogadores lhe davam total respaldo. Não existia possibilidade dele deixar o cargo, a não ser por vontade própria, como acabou ocorrendo - com muitas questões políticas envolvidas, diga-se.

No Brasil, a CBF dificilmente permitirá alguém contrário aos cartolas no comando. Dunga, além de todas as limitações e não ser um treinador de verdade, é um soldado da entidade. Não à toa, foi escolhido como técnico. Teimoso, abaixa a cabeça, obedece os chefes, não enxerga os problemas óbvios e nítidos, e prefere defender o indefensável. Sampaoli não tem esse perfil. É exatamente o contrário.

Além disso, existe a falta de humildade. Para a corja da CBF, nossas cinco estrelas no peito falam mais alto que qualquer outra coisa e ainda somos donos do melhor futebol do mundo. Nossos campeões mundiais e a história do futebol brasileiro sentem vergonha do momento atual. Já fomos os melhores, atualmente não somos. Estamos aquém dos melhores times do mundo e ficamos para trás. O futebol brasileiro está ultrapassado. E não só o escrete canarinho, mas o que vimos no dia a dia dentro do país. A Seleção nada mais é que um reflexo do futebol tupiniquim.

​(Foto: Getty Images)

Um treinador estrangeiro faria um bem danado ao futebol brasileiro, trazendo conhecimento e ideias diferentes, mas a CBF não está aberta a essa possibilidade. Nem mesmo Pep Guardiola os cartolas quiseram, como Daniel Alves já revelou. Sampaoli, por tudo isso, não me parece uma hipótese provável, por mais que eu e muitos brasileiros tenhamos o desejo de vê-lo comandando a Seleção.

Com isso, creio que Tite seja a melhor e mais provável opção. Existe todo um clamor popular e aceitação do povo brasileiro e dos jogadores pelo treinador. Vale lembrar que ele já recusou a Seleção anteriormente, e fez o certo diante da lamentável CBF. No entanto, acho que agora é o momento certo para aceitar o cargo. Sem sombra de dúvidas, ele terá o apoio do povo brasileiro e dos atletas, e a entidade que comanda a bagunça tupiniquim precisaria aceitá-lo, assim como seus métodos e suas opiniões. Ele não precisa concordar com a CBF para treinar a Seleção. E nem deve.

Tite tem condições de fazer o escrete canarinho render no alto nível que pode, o problema, porém, é maior que a Seleção.

​(Foto: LUIS ACOSTA/AFP/Getty Images)

A corrupta CBF é repleta de problemas e não sabemos nem quem comanda a várzea e pode mandar Dunga embora e contratar o treinador do Corinthians. E pelo pensamento arcaico de quem está na entidade, é possível que não demitam o atual "técnico" e/ou não queiram Tite, que já recusou o cargo antes e não compactua com as lamentáveis atitudes do circo que organiza a bagunça e a corrupção no futebol tupiniquim.

Logo, não sei se consigo acreditar que teremos grandes mudanças, e não só na Seleção, mas também no futebol brasileiro. Após o 7 a 1, visto como símbolo da necessidade de transformações e o fundo do poço, muitos acreditaram que tudo ia mudar. Nossa resposta foi a manutenção de incontáveis problemas, Marco Polo Del Nero na presidência, uma corja daquelas na CBF e a volta de Dunga como técnico do escrete canarinho. De lá pra cá, foram dois anos jogados pela janela, perdidos no meio da continuidade dos problemas, nenhuma resolução, dois novos vexames, com o Brasil eliminado pelo Paraguai no ano passado e de fora dos oito melhores da Copa América pela primeira vez na história após a vergonha deste domingo, e escândalos e mais escândalos de corrupção envolvendo os cartolas.

(Foto: Getty Images)

A Seleção Brasileira nada mais é que o reflexo do agonizante futebol tupiniquim. Os públicos na Série A do Campeonato Brasileiro são ridículos, e a média é uma completa tristeza. O calendário é um vexame. O nível técnico e tático do futebol praticado no país é horrível. Os treinadores, em sua maioria, são ultrapassados. A mentalidade e a cultura de resultados e o imediatismo permanecem. As categorias de base estão largadas, e ao invés da técnica e revelação e formação de novos talentos, são priorizados acordos lamentáveis com empresários e jogadores com força e tamanho para ganhar títulos - isso mesmo, futebol de resultado até mesmo na base. Isso sem contar com a corrupção, a politicagem e outros incontáveis problemas.

Precisamos de uma transformação completa no futebol brasileiro, começando pela base, e não pelo topo da pirâmide. A Seleção pode até mudar e melhorar consideravelmente com um técnico como Tite no comando, caso a CBF surpreenda e faça o que todos querem que seja feito e é necessário, mas a realidade do nosso futebol seguirá a mesma. Os problemas continuarão existindo. Uma troca no comando técnico não vai transformar e melhorar tudo que precisa ser consertado. O ideal seria uma mudança de treinador no escrete canarinho, mas também uma transformação completa na estrutura do futebol brasileiro.

No entanto, como ocorreu após o 7 a 1, não tenho esperanças de que a Seleção e o futebol brasileiro irão mudar após esse novo vexame. E penso assim pela continuidade da corja existente na CBF. Infelizmente, acredito que vamos continuar na mesma, esperando pela próxima tragédia. Corremos risco nas Eliminatórias e podemos ficar de fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez na história. É esse o próximo vexame? É isso que precisa acontecer para tudo mudar ou nem isso será suficiente? O que mais falta? Até quando o futebol tupiniquim vai ficar agonizando?

Fonte: Esporte interativo
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