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Após sonho frustrado de Champions League e proibição de risadas, brasileiro reencontra felicidade na Ásia

Exclusivo: confira as desventuras em série de Maurinho, ex-Internacional, da Europa até se transformar no "˜Neymar coreano"™ com o Jeonnam Dragons

18/10/2016 07:30

Por Tauan Ambrosio 


Se você gosta de futebol, alguma vez na sua vida já pensou em ser jogador e defender a Seleção Brasileira. Disputar partidas de Champions League, a maior competição de clubes do mundo, também faz parte do sonho de milhões de jovens em todo o planeta.

Imagina, então, quando você acaba de fazer 20 e poucos anos, é jogador profissional e recebe a chance de disputar as principais competições europeias de clubes? Foi com essa expectativa que Maurinho deixou o Metropolitano, de Santa Catarina, para tentar a sorte na distante Bielorrússia.

Você pode até não conhecer o clube, um dos vários “Dínamos” do Leste Europeu. Só que o Minsk é uma equipe de tradição, a única da Bielorrússia a ter conquistado o difícil campeonato soviético – no longínquo ano de 1982. Após a dissolução da União Soviética, o Minsk fez o óbvio ao garantir a supremacia do campeonato bielorrusso: conquistou as cinco primeiras edições e fez valer o peso de sua camisa.

Na Bielorrússia, o sonho de Maurinho virou pesadelo (Foto: Arquivo Pessoal)

Só que a chegada do BATE Borisov acabou com essa supremacia. E na busca por melhorar o elenco, dificultar a vida do rival e disputar Champions ou Europa League, o Minsk contratou Maurinho. Em um primeiro momento, o atacante realizava um de seus objetivos. “Eu sempre quis jogar fora do país”, conta para a Goal Brasil. Só que o sonho rapidamente se transformou em um grande pesadelo.

O desinteresse do clube em sua chegada, os maus tratos e dificuldades de estar em um lugar muito diferente foram a carta de apresentação: “Cheguei lá, fui muito maltratado. Eu morava em um hotel, fiquei cinco dias em um hotel sem ninguém me buscar para treinar. Eu tinha um tradutor e o cara demorou cinco dias para me buscar, eu não sabia o horário de nada. Fiquei largado, na mão dos caras. Nem vesti a camisa do clube”, conta Maurinho, que para piorar o cenário foi sozinho. Não tinha amigos, não tinha família, não tinha empresário.

Não tinha nem mesmo uma chance.

O treinador não gostava dele, que nem era aproveitado. A solução encontrada foi buscar uma chance em outro país. Maurinho fez testes e passou para um clube da terceira divisão polonesa. Mas o Dínamo Minsk preferiu não o liberar para empréstimo. Com isso, seguia o drama. Sem conta no banco, e nem como enviar os salários para o Brasil, o atleta dormia com os vencimentos sob o travesseiro: “Eles me pagavam só em dinheiro, e eu ficava no hotel com 60 mil dólares de baixo do travesseiro”, revela. “Foi uma coisa de louco. Fiquei com medo de ficar perdido, de pegarem meu passaporte”.

Durante os treinos do Minsk, um rápido momento de descontração... mas que não terminou bem (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas nada é tão ruim que não possa piorar, diz o ditado. E se era impossível ser feliz, Maurinho era proibido até mesmo de compartilhar um rápido momento de risadas com os companheiros de time. Hoje, a situação é lembrada até com uma certa dose de humor pelo brasileiro.

“Eu tomei uma multa por rir, acredita nisso? Antes de começar o treino, a gente dava duas voltas no campo. Eu fiz amizade com um bielorrusso, o nome dele era Sergei. Era aniversário dele, e pediram para eu parabenizar ele: ‘pozdravleniya’. Eu falei certinho, e todo mundo começou a dar risada. Eu me alonguei um pouco na risada, o segundo treinador me parou, chamou o treinador e falou assim: ‘multa de 2 mil dólares para o Maurinho porque ele tá rindo’”.

O sonho de escutar, dentro dos gramados, a música da Champions League passou longe de virar realidade: “Nem consegui ouvir”, lamenta o atacante. Maurinho voltou a buscar outro clube, desta vez na Alemanha, mas o Minsk não o liberou para empréstimo. Foi a gota d’água. Desesperado, conseguiu entrar em contato com um empresário que o ajudou a voltar para o Brasil. O destino seria o clube de coração de seus pais: o Internacional.

De volta para casa, a felicidade era indescritível por voltar a ter chances de seguir o sonho de criança. Ainda jogou pelo XV de Indaial, de Santa Catarina, ABC, Criciúma e Oeste antes de receber mais uma chance de deixar o futebol brasileiro. O destino não seria a Europa, mas o atacante partiu para cima do medo de passar por outros traumas e aceitou o desafio. Agora casado e com pessoas cuidando de sua carreira, a solidão já não seria a mesma.

E se na Europa faltou carinho, na Coreia do Sul o brasileiro foi recebido como ídolo do Jeonnam Dragons. Por lá, Maurinho se sente uma espécie de ‘Neymar coreano’.

Na Coreia do Sul, recepção tão quente quanto o tempero da comida (Foto: Arquivo Pessoal)

“O pessoal me acolheu, os coreanos são assim. Eles gostam muito de brasileiros. É um povo acolhedor, o jogador brasileiro já é visto como ídolo. Ganhei muita comida. O presente que eles dão para o jogador é comida (risos), bala, camiseta. Ganhei muita roupa deles aqui. Eles são muito carinhosos”, disse.

O jogador ainda sonha em defender a Seleção, e não descarta voltar ao Brasil... mas também mira a China (Foto: Arquivo Pessoal)

Uma lesão atrapalhou a sequência na Coreia, mas enquanto isso o time seguiu surpreendendo (Foto: Arquivo Pessoal)

A principal dificuldade, além de uma lesão, é a quantidade de pimenta nas refeições. Mas isso ele, ao contrário de sua esposa, tira de letra. As aulas de inglês, língua que muitos sul-coreanos dominam, também são vistas com grande importância.

Dentro de campo, o Jeonnam chutou para fora as chances de rebaixamento e briga por uma vaga na Champions League da Ásia.  E enquanto ainda sonha em defender a Seleção, os primeiros objetivos estão estipulados: fazer um bom papel e buscar um espaço no futebol da China, ou aproveitar toda a hospitalidade e vida nova na Coreia. Após tantas desventuras, enfim veio a tranquilidade e estrutura (profissional e emocional) para manter vivo os seus sonhos.

Fonte: Esporte interativo
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