Podemos dizer que Tite é um dos poucos queridinhos do Brasil atualmente. O momento do nosso país, afinal, é muito delicado. Convivemos com crise política e econômica, decisões lamentáveis do (des)governo Temer, corrupção, violência, desigualdade social, preconceito de todas as formas, crescimento de uma ala extremista assustadora e acidentes que nos espantam. 

O nosso futebol, como não poderia ser diferente, reflete tudo isso com incontáveis problemas em sua estrutura e (des)organização, incluindo a corrupção por todos os lados de empresários e cartolas, as categorias de base entregues aos agentes e sem funcionar e pensar da forma correta, o calendário ridículo e a manutenção eterna de um status quo lamentável.

Temos Temer no comando do Brasil e um presidente que não pode sair do país no comando do futebol brasileiro.

Não à toa, tem sido difícil encontrar verdadeiros heróis nacionais. Por isso, Tite, que faz um trabalho inquestionável e espetacular na Seleção Brasileira, é um dos poucos queridinhos do país na atualidade. Elogiar o trabalho do treinador, falar da recuperação do bom futebol e da confiança do escrete canarinho e até da reaproximação do torcedor é chover no molhado.

Algo pouco comentado, porém, é a figura humana de Tite. Entre seus vários acertos, maestria tática e de como comandar um grupo de jogadores, o treinador tem dado um show de humanidade (e também de humildade) em suas declarações, e já faz tempo, antes mesmo de assumir a Seleção.

Nesta quinta-feira (19), ele deu mais uma lição. Discordo, em algumas partes, da sua lista de convocados para o Jogo da Amizade com a Colômbia, na próxima quarta (25), no Estádio Nilton Santos, às 21h45 (de Brasília), que visa ajudar os familiares dos jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes da Chapecoense que foram vítimas da tragédia que abalou todo o Brasil - a renda líquida da partida será repassada à Chape, que vai repassar o valor integral para os parentes dos falecidos. No entanto, se a convocação merece algumas críticas, as declarações de Tite, mais uma vez, merecem aplausos.

O treinador fez questão de ressaltar durante toda a sua entrevista coletiva nesta manhã, que os jogadores convocados merecem a convocação e precisam que mostrar que merecem estar nas próximas listas, quando o técnico, ao invés de apenas atletas que atuam no Brasil, irá convocar também os titulares e grandes estrelas da Seleção, que têm jogado demais e sido constantemente convocados. Ou seja, eles precisam dar o máximo no amistoso contra a Colômbia. Obviamente, como o próprio comandante afirmou, existirá inclusive uma preparação para a partida.

No entanto, acertadamente, Tite também fez questão de deixar o lado humano do duelo acima de qualquer coisa, garantindo que não irá permitir que a razão desta partida existir seja esquecida por seus comandados, pela comissão técnica, pela imprensa e por todos - o que ele já fez na coletiva. Corajoso e dando uma aula, o treinador até mesmo afirmou que torce para que o jogo não tenha vencedores e termine empatado. E Tite está completamente certo.

A convocação

Em relação a lista de convocados, porém, existem algumas ponderações. Tite cometeu alguns erros na zaga, nas laterais e no meio-campo.

No gol, no entanto, o treinador acertou. Muralha e Weverton, constantemente convocados para a Seleção, já eram presenças esperadas e lógicas, além de merecidas. Ambos são bons arqueiros e viveram boa temporada em 2016. O primeiro foi muito bem no Flamengo, enquanto o segundo, novamente bem no Atlético-PR, foi campeão olímpico e um dos heróis na conquista do ouro inédito. Já o último chamado foi Danilo Fernandes, que caiu com o Internacional para a Série B do Campeonato Brasileiro. Alguns cobraram a presença de Sidão, mas o jogador do Inter merece a convocação. Além de ótimo goleiro, foi dos poucos que se salvaram no desastre colorado com o primeiro rebaixamento.

Nas laterais, por outro lado, Tite fez escolhas questionáveis. Os quatro convocados são bons jogadores e merecem as convocações, mas existem ponderações. Fágner, presença constante na Seleção e reserva de Daniel Alves, já era esperado, assim como Fábio Santos, convocado para o lugar de Marcelo na última partida das Eliminatórias, quando o jogador do Real Madrid estava suspenso. Existem melhores opções, mas os dois têm a confiança do treinador e são bons jogadores, além de mostrarem bom futebol recentemente.

Jorge, jovem destaque do Flamengo, é, entre os quatro, quem mais merece a oportunidade que está recebendo e é inquestionável, tanto pensando nos próximos anos, quanto olhando pelo lado do merecimento pela última temporada com o Mengão. Já Marcos Rocha, entra no grupo de Fágner e Fábio Santos. A qualidade do jogador do Atlético-MG é inquestionável. Ele é dos melhores laterais do futebol brasileiro nos últimos anos, sem dúvidas o melhor lateral-direito. Merece a convocação e a chance com Tite, isso ninguém põe em xeque. No entanto, é estranha a convocação do jogador que pouco atuou em 2016, quando sofreu com as lesões. Pensando no futuro, o atleta do Galo é a escolha mais acertada, mas penso que Jean, pelo excelente Brasileirão com o Palmeiras, foi injustiçado ficando de fora, assim como Zeca, lateral-esquerdo campeão olímpico, excelente jogador, destaque no Santos, que certamente será o futuro de sua posição na Seleção. Os dois mereciam ser chamados.

Na zaga, Tite foi quase perfeito. Rodrigo Caio, que brilhou nos Jogos Olímpicos e vinha sendo convocado por Tite, já era presença esperada. Geromel, um dos melhores zagueiros do futebol brasileiro, jogando muito já há algum tempo no Grêmio, é outro que merecia a convocação. Vitor Hugo, bom zagueiro que fez ótimo Brasileirão e conquistou o título com o Palmeiras, também é inquestionável. No entanto, questiono a convocação de Luan. O jogador do Vasco tem qualidade, mas atuou na Série B em 2016 e não foi titular na Olimpíada. Vários bons defensores que brilharam no último ano mereciam estar no grupo.

No meio-campo, Tite também se dividiu entre grandes acertos e injustiças. Camilo, Diego, Gustavo Scarpa, Walace e Willian Arão são inquestionáveis. Todos jogaram demais em 2016 por seus clubes e mereciam a convocação, principalmente Scarpa, um dos melhores meias da temporada, e Walace, campeão olímpico que jogou demais no Rio e fez ótimo ano no Grêmio. Lucas Lima tem talento inquestionável, mas não tem rendido o que pode render. De qualquer forma, merece a convocação e já era presença esperada, visto que sempre é chamado por Tite para defender a Seleção.

O treinador, porém, errou nos últimos dois nomes. Rodriguinho viveu bons momentos no Corinthians e é bom jogador, assim como Henrique, um dos poucos que se salvou na temporada decepcionante do Cruzeiro e jogou muita bola no Brasileirão. No entanto, ainda que apenas com nomes que atuam no país, Seleção é um pouco demais para os dois.

Além disso, muitos nomes mereciam mais a oportunidade do que eles. Tchê Tchê, que brilhou no Palmeiras e transformou completamente o campeão brasileiro, e Rithely, que fez um excelente ano no Sport e entrou na mira de vários clubes, mereciam mais. Não cito Moisés, outro que foi absurdo no Verdão, porque ele não tem condições de jogo atualmente. Também é estranho observar que Rafael Carioca, chamado por Tite nas últimas vezes, sequer foi chamado. Ele teve uma inegável queda de produção após o segundo semestre, é verdade, mas foi de convocado para a Seleção com todas as estrelas para ficar de fora de uma lista apenas com nomes que atuam no Brasil.

Já no ataque, Robinho, Luan, Dudu e Diego Souza são inquestionáveis. O palmeirense foi um dos grandes destaques e líderes do campeão brasileiro. O atleticano poderá reeditar a parceria dos tempos de Santos com Diego, e arrebentou de forma impressionante em 2016, além de ter uma qualidade enorme e conhecida. O gremista, campeão olímpico, foi novamente um dos grandes nomes do Tricolor no último ano, enquanto o problemático Diego Souza parece ter amadurecido e colocado a cabeça no lugar no Sport, e jogou demais na última temporada. Podemos citar vários atacantes que merecem oportunidades, mas Tite acertou ao chamar os quatro, que certamente merecem demais a chance recebida.