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Opinião: a Champions que eu conheço começa agora, mas poderia ser melhor

Barcelona, Real Madrid e Bayern estiveram em cinco quartas de final desde 2009/10

17/03/2016 18:19

  1. Menos política, mais futebol
  2. Superliga como alternativa?
  3. PSG, enfim candidato
  4. MSN: futebol em arte
 


Não me entenda mal: a Liga dos Campeões é um torneio fantástico, que desde a adolescência me cativou e me motivou a trabalhar com o jornalismo esportivo. Dito isso, é uma pena contestar que ela começa a ganhar contornos de imprevisibilidade apenas nas quartas de final, com a expectativa para o sorteio desta sexta-feira, quando todos podem se enfrentar – o GloboEsporte.com transmite ao vivo a partir das 7h50 (de Brasília). No espetacular Bayern x Juventus, confronto de semifinal antecipado para as oitavas, encontramos a exceção que confirmou a regra: praticamente não houve emoção em alto nível nesta primeira leva de mata-mata.

O trio Barcelona, Real Madrid e Bayern tem conseguido se sobressair financeira e esportivamente e já acumula presenças frequentes nas quartas desde a temporada 2009/10 – seis para merengues e bávaros e sete para os catalães. Além disso, ao menos dois sempre avançaram às semis no período. O histórico diz que, se não forem colocados contra o outro ou uma surpresa não aparecer, deverão novamente figurar entre os quatro melhores do continente. É preciso voltar até 2006/07 para não encontrá-los na semifinal e isso significa bastante em eliminatórias definidas em 180 minutos.

Quartas de final - Liga dos Campeões (Foto: Reprodução / Twitter)Os oito classificados para as quartas de final: todos podem enfrentar todos no sorteio (Foto: Reprodução / Twitter)



A possibilidade do enfrentamento entre eles nas fases derradeiras é certamente ótima para o espetáculo, pois ganhamos outros episódios para a série “jogos para sempre”, mas só reforça a ausência de um aspecto fundamental no futebol: a imprevisibilidade. Quem não está empolgado com a possibilidade de o Leicester ser campeão inglês e sequer conhecia Vardy, Mahrez, Kanté e Drinkwater há um ano? Há quanto tempo não surge um Leicester na própria Champions? Por que Barcelona e Real Madrid golearam seus adversários no placar agregado (5 a 1 sobre Arsenal, terceiro no Inglês, e 4 a 0 contra Roma, terceiro no Italiano) sem pisar no acelerador?

Ter um Borussia Dortmund, Atlético de Madrid ou Juventus numa final ainda é muito pouco, até porque só são considerados azarões por conta do pequeno abismo criado pelo trio. Os três vices, por exemplo, estão entre os 15 clubes que mais arrecadaram em 2014/15 segundo estudo da consultoria Deloitte. São fortes em países tradicionalíssimos no continente e pertencem hoje a um segundo e poderoso escalão. Em resumo: longe do que fizeram Porto e Monaco na já distante temporada de 2003/04.

 


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Menos política, mais futebol

Não significa que eu seja a favor de um inchaço de clubes menos representativos (78 de 54 países participam no total) sonhando que algum raio atinja o Camp Nou ou Santiago Bernabéu – infelizmente, a nova ordem do futebol é de domínio seletivo, com poucos ganhando cada vez mais. Na verdade, sou radicalmente contra a presença facilitada na fase de grupos de campeões de Israel, Cazaquistão, Bulgária, Bielorrússia e Eslovênia, enquanto italianos, espanhóis, alemães e ingleses se matam no “caminho das ligas”. Trata-se de uma medida mais política e menos esportiva herdada do mandato de Michel Platini.

Willian gol Chelsea x Maccabi (Foto: AP)Willian marca contra o Maccabi: israelenses não somaram nenhum ponto na fase de grupos (AP)

O desequilíbrio que já é notório com o Roma, por exemplo, é ainda mais evidente com um Astana ou Maccabi Tel Aviv, este de seis derrotas em seis jogos, um gol a favor e 16 contra numa chave com Chelsea, Dínamo de Kiev e Porto - todos já eliminados na Europa. Seriam eles superiores a Napoli, Tottenham, Liverpool e Borussia Dortmund? Não é uma competição feita para os melhores dos melhores?

Sendo assim, quero ter a oportunidade de ver os melhores jogos. O torcedor passa dois meses esperando a chegada do mata-mata depois de pouco se saciar com a fase de grupos. O sorteio nos brinda com Bayern x Juventus, Barcelona x Arsenal e PSG x Chelsea. E o que fez a Uefa? Pôs dois deles no mesmo dia. Um sofrimento para quem tem um pouquinho de futebol correndo nas veias, afinal, são jogos para serem apreciados em imersão. 

Como ainda não inventaram como voltar no tempo, restou escolher um deles e tentar não se arrepender. Uma simples solução seria dividir os jogos em dois horários. Em vez de 20h45 (horário da Europa), que tal 19h e 21h15? Na Eurocopa ou Copa do Mundo as partidas só são concomitantes na última rodada da fase de grupos – e apenas para evitar manipulação de resultados.

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Superliga como alternativa?

A ideia de uma Superliga da Europa pode ser até interessante, mas parte de um propósito que este autor abomina: não haveria meritocracia. Clubes ingleses como Manchester United, Chelsea e Liverpool, que provavelmente não disputarão a Liga dos Campeões na próxima temporada, teriam se reunido com o milionário americano Stephen Ross para desenvolver o projeto.

Não culpem os times pequenos. Talvez devam se perguntar: “Por que um time como o Leicester está indo melhor que eu?” 
Claudio Ranieri, técnico da surpresa europeia

 Seria concedido às camisas mais pesadas das cinco principais ligas da Europa (Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e França) um lugar fixo na competição, com menos vagas móveis. Desta forma foi fácil concordar com o que disse Claudio Ranieri, treinador do Leicester, em defesa da fórmula atual:

- Eu entendo que os clubes grandes querem ter a certeza de que vão ganhar dinheiro e não querem perder um ano sem a Liga dos Campeões, mas isso é o esporte. Você precisa fazer por merecer. Só porque você não atingiu isso num ano, então precisa fazer algo diferente? Não é o certo. Você tem medo de perder dinheiro, não é forte o bastante. Não é bom para o futebol, pois o que vai acontecer depois? Há quatro ou cinco times de cada país e o que faz o resto? As pessoas devem pensar no que os torcedores querem, não apenas no dinheiro porque a cultura e os fãs são mais importantes. Não culpem os times pequenos, eles é que precisam se culpar. Talvez eles devam se perguntar: “Por que um time como o Leicester está indo melhor que eu?”.

Okazaki Leicester x Newcastle (Foto: AFP)Todos querem ter um Leicester para torcer na vida (Foto: AFP)
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PSG, enfim candidato

O investimento que traz resultados domésticos ao Paris Saint-Germain deve finalmente fazer diferença além da França para quebrar a barreira das quartas de final. Campeão nacional antecipado, o time tem Zlatan Ibrahimovic em excelente fase (35 gols em 39 jogos na temporada) em seu provável último ato na caça ao troféu que lhe falta. 

O sueco ganhou nesta época a companhia primordial do argentino Di María, responsável por elevar o patamar do time junto a uma espinha dorsal acima da média (Thiago Silva, David Luiz, Verratti, Matuidi, Cavani e Lucas). Se não está no nível de Barça, Real e Bayern, pode sonhar em desafiá-los, o que definitivamente não aconteceu quando Suárez humilhou David e companhia no Parque dos Príncipes há um ano – agora tem a melhor defesa da Champions ao lado de Real e Atlético, com três gols sofridos em oito partidas.

Ibrahimovic Chelsea x PSG (Foto: Reuters)Ibrahimovic tem 35 gols em 39 jogos na temporada (Foto: Reuters)

Outro novo rico, o Manchester City está menos pronto. O quarto lugar na Premier League e lesões como as de Kompany e De Bruyne (deve voltar em cima das quartas) indicam que enfrentar um poderoso pode ser demais para as ambições do último inglês vivo na Champions. Os Citizens avançaram também porque enfrentaram o Dínamo de Kiev, não o PSG – o empate sem gols em Manchester não foi capaz de empolgar ninguém.

O Atlético de Madrid já é considerado uma potência, mas o sofrimento além da conta com o PSV (210 minutos sem marcar) expôs a dificuldade ofensiva do time de Diego Simeone. É o que menos fez gols entre os classificados (11, menos do que os 13 de Cristiano Ronaldo). 

Ter o argentino à frente do time, porém, é um privilégio para poucos, como adorariam os candidatos a zebras Wolfsburg e Benfica precisando se defender com maestria diante de elencos tão superiores. Os dois têm o desafio de dizer que estão nas quartas porque são bons o suficiente – e não porque enfrentaram rivais do mesmo ou menor nível (Gent e Zenit).

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MSN: futebol e arte

De Barcelona, Bayern e Real Madrid, mais do mesmo. Os catalães pintam como favoritos por sustentarem 38 jogos de invencibilidade – e por Messi, Suárez e Neymar simplesmente não pararem de fazer gols. Fazer cinco no Arsenal sem ser brilhante diz muito sobre o poder de fogo do time, que persegue o Milan de 89/90, último a erguer a orelhuda por dois anos seguidos.

- O jogo é longo e, ao final, venha de onde venha a bola, sabemos que em algum ponto está a criatividade desses três jogadores, que transformam o normal em arte. É excepcional o que fazem. Jogam com um toque e nunca se equivocam. Para mim é um sofrimento, mas para quem se encanta com o futebol é genial – disse Arsène Wenger, derrotado nas oitavas de final para o trio MSN.

messi neymar suárez barcelona arsenal (Foto: Carl Recine / Reuters)Até o aquecimento é divertido com eles: Barcelona tem o melhor ataque da história? (Foto: Carl Recine / Reuters)



Os bávaros por muitos minutos também teriam o mesmo destino do Arsenal até o gol salvador de Müller. Aqui, cabe um parênteses: enfrentou o melhor eliminado das oitavas, o atual vice-campeão e, muito provavelmente, futuro pentacampeão italiano. O Bayern marcou seis gols em dois jogos contra uma grande defesa italiana e nunca abandonou sua filosofia – mesmo em Turim, na ida, passou 60 minutos no campo de ataque. O que Guardiola inventa e faz é notório e elogiável, venha o título ou não ao fim da temporada.

Dos favoritos, o Real Madrid é quem menos inspira confiança no momento. O time de Zidane continua ganhando com extrema dificuldade fora de casa, e Navas segue como uma das figuras por suas defesas. Os críticos dizem que é uma equipe sem alma e personalidade, ainda à procura da melhor formação no meio-campo, com ou sem James, Isco ou Casemiro. Ainda assim, não seria louco em descartar uma camisa desse peso tão cedo.

Fonte: Globo Esporte
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