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Jogador mais vitorioso do mundo, Cafu considera sua vida 'normal'

Capitão do Penta fala da rica carreira de três finais de Copa do Mundo, conquistar cinco mundiais de clubes, uma Liga dos Campeões, duas Libertadores e cinco títulos nacionais.

10/02/2017 10:28

Cafu se acha uma pessoa comum. Acha que é normal ter vivido tudo o que viveu. De não ter o que comer na infância ou ver amigos que se perderam no tráfico de drogas, passando pelo preconceito sofrido por causa da cor da pele na periferia de São Paulo ou na Itália, até ver o amigo Ronaldo tendo uma convulsão horas antes de uma final de Copa do Mundo.

Não, Cafu, nada disso é normal. O caráter, o talento e a força mental para fazer o melhor apesar de todos esses obstáculos não são coisas de uma pessoa normal. É por isso que uma entrevista com o capitão do penta é tão rica. O UOL Esporte falou com ele sobre polêmicas e a carreira tão rica que o fez jogar três finais de Copa do Mundo, conquistar cinco mundiais de clubes, uma Liga dos Campeões, duas Libertadores e cinco títulos nacionais. 

Foto: Danilo Borges/ Portal da Copa

Cafu teve uma infância muito pobre no Jardim Irene. E, todos sabem, vida em bairro pobre não é fácil. As coisas começaram a mudar quando foi aprovado pelo São Paulo em uma peneira, mas o mundo ainda o via com preconceitos. Foi assim com o primeiro carro zero km: era rotina ser parado pela polícia em batidas e ter de explicar o que aquele moleque fazia com um carrão na periferia.

Isso acontece no dia-a-dia nas periferias e na vida de todo mundo. Até hoje, quando a polícia não sabe quem é, param e acabam dando geral. Imagina um menino com o carro novo indo para o Jardim Irene todo dia... Claro que chama atenção. Enquanto os policiais não sabiam que o carro era meu, era normal dar geral e revistar, achando que tinha alguma coisa de errado. Mas era o trabalho deles. Eu ria sempre que era parado. Batia papo e até ficava engraçado depois… No final, acabei ficando amigo dos guardas. Quando eles passavam na rua eu gritava: ‘Sou eu viu? Não esquenta a cabeça não’.”

Eram meados de 2000 e no meio de uma goleada da Roma sobre o Verona por 4 a 1, Cafu ouviu insultos racistas da torcida rival. Pouco depois, após a eliminação na Copa da Itália, ele e o também brasileiro Assunção foram atacados por torcedores racistas no CT. Hoje, Cafu prefere se afastar o do assunto.

Você foi vítima de racismo na Itália?

“Eu não sofri. Mas a gente fala muito… Falar da grama dos outros é melhor do que falar da nossa própria grama, porque no Brasil… Tem racismo no Brasil. Por que vamos falar da Itália, então? Não podemos falar do país dos outros se não conseguimos resolver o nosso. Isso é falta de cultura”.

Cafu presenciou um dos momentos mais marcantes da história do futebol brasileiro. Ele viu Ronaldo ter uma convulsão momentos antes de entrar em campo para disputar a final da Copa do Mundo de 1998 contra a França. Para ele, o episódio não foi tão marcante.

“Eu pensei na hora… Perder o Ronaldo em plena final de Copa do Mundo. Poxa, nós vamos perder a nossa maior estrela... Mas eu vejo as coisas assim: aconteceu, aconteceu, vou fazer o quê? Para mim é tudo muito natural. Ele passou mal, teve uma convulsão, mas eu já vi gente morrer na minha frente”.

Foi na Itália que Cafu virou o lateral consagrado mundialmente. Mas também foi lá que ele viveu um dos maiores perrengues da carreira: foi acusado de apresentar documentos falsos para obter dupla cidadania e jogar como comunitário na temporada 98/99, quando ainda era jogador da Roma. A promotoria pública italiana chegou a solicitar uma pena de nove a dez meses de prisão. Cafu diz que uma vogal causou o mal entendido.

Fiquei cinco horas na frente do juiz explicando o porquê de Moraes e não Morais. Meu advogado fez a defesa dizendo que aqui no Brasil eles trocam muito. Eles me chamam Marcos Evangelista de Moraes, mas alguns colocam Marcos Evangelista de Morais. O meu é Morais. Quando chegou a notificação do juiz, chegou como Marcos Evangelista de Moraes. O advogado, na frente do promotor que falou que o meu estava errado, falou: ‘Olha, vocês trocaram o nome do meu cliente para Moraes e o nome dele se escreve Morais’. Então, o erro pode acontecer em qualquer lugar. Acabou”.

Cafu foi absolvido e o processo acabou arquivado. Hoje, ele tem a cidadania italiana por causa da esposa, Regina.

Fonte: UOL
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