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Caic Balduíno: Handebol muda realidade de jovens da periferia de Teresina

Dedicação e amor à modalidade esportiva inspira o técnico Giuliano Ramos, que fez com que o time conquistasse cerca de 40 medalhas

26/03/2016 17:30

O esporte é uma atividade física que está associada às suas próprias regras e que leva os jogadores a competirem de forma profissional em busca de prêmios e reconhecimento. Na prática, seu conceito vai muito além e envolve dedicação, força de vontade, coragem e, principalmente, paixão por parte dos envolvidos; sobretudo, dos técnicos e jogadores. Todos esses ingredientes juntos compõem os times que jogam entre si em busca de bons resultados em campeonatos. Para o time masculino de handebol da Escola Caic Balduíno Barbosa de Deus, localizada na Vila Bandeirantes, zona Leste de Teresina, esta receita vem fazendo com que a equipe, a cada ano que passa, ganhe destaques e títulos importantes em muitas competições. 

(Foto: Elias Fontenele/O Dia)

O trabalho desenvolvido com os alunos da escola foi iniciado há 11 anos por meio de um projeto social conhecido como “Bola na Mão, Gol Cidadão”, implantado pela Federação de Handebol do Piauí em 10 escolas públicas de Teresina. O projeto tinha a finalidade de utilizar a prática do esporte como um instrumento de inclusão social, buscando reduzir os índices de violência do local, modificar a realidade dos alunos da escola e melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes da região. 

Mas os resultados positivos do projeto no Caic Balduíno tem uma relação direta com o sonho do técnico da equipe que, desde o primeiro contato com o handebol, apaixonouse pela modalidade e decidiu, ainda na adolescência, que era através deste esporte que sua vida seria guiada. O jovem é Giuliano Ramos, atual técnico do time masculino de handebol da escola e também professor de educação física, que acompanha os alunos desde quando o projeto foi implantado. 

“Desde os 12 anos de idade, que eu pratiquei pela primeira vez o handebol na escola, eu me identifiquei com o esporte. Eu sempre gostei e sempre treinei. E quando terminei minha fase de atleta, eu tinha um sonho de continuar no handebol como técnico”, relembra Giuliano. 

Para que seu sonho se concretizasse, o professor de educação física armou um plano: adquirir uma estabilidade financeira para então conseguir se dedicar ao que lhe fazia feliz e satisfeito. “Eu queria passar em um concurso que me trouxesse condição financeira de manter um projeto. Porque, apesar de você gostar de ser professor, o salário de professor não te dá uma vida digna e nem dá para você construir um grande projeto como é esse que a gente tem hoje. Então eu fiz Direito, passei no concurso de Auditor Fiscal da Prefeitura de Teresina e hoje eu sou auditor e ganho bem para poder manter o projeto”, revela orgulhoso. 

Resultados 

Os resultados regionais da equipe Caic Balduíno começaram a surgir em 2006 e, daí em diante, os prêmios só foram crescendo. “Com a parceria com a Federação de Handebol e com a escola, a gente começou a ter os resultados. Em 2006, tivemos os resultados estaduais; em 2007, os resultados nacionais e, em 2012, os resultados internacionais”, cita Giuliano. 

Atualmente, o time já conquistou cerca de 40 medalhas em torneios regionais, nacionais e internacionais. Mas conseguir tudo isso não foi tarefa fácil para os jogadores e muito menos para Giuliano. No país do futebol, um esporte que é jogado com as mãos não era bem visto dentro da escola e muito menos pela comunidade. “No início, foi difícil por conta do preconceito com o esporte e foi uma luta a gente conseguir, naquele ambiente, naquele espaço, implantar o handebol. Foi muito difícil. Mas depois e devagar, a gente começou a construir a parceria com os pais, as parcerias com a comunidade, com a escola e com a Secretaria de Educação”, pontua o técnico. 

“Os meninos são minha família”

A luta, a dedicação e o amor de Giuliano Ramos pelo que faz são claramente perceptíveis. Quando o técnico recebeu a equipe de reportagem de ODIA, ele estava no meio da quadra do Centro de Treinamento, ainda em construção, durante o primeiro treino da equipe depois de ter participado do Mundial de Handebol Escolar, realizado na França. Entre um lance e outro durante o treino, Giuliano respondia as perguntas, orgulhoso e feliz por estar ali presente. 

O time foi o único representante do Brasil no campeonato mundial e voltou para Teresina após ter conquistado a sétima posição. Questionado da importância do projeto e do time em sua vida, Giuliano não pensa duas vezes e afirma com convicção: “Eu não acredito que nós somos um clube ou uma escola, mas sim uma grande família. Os meninos são minha família. Eu passo mais tempo com eles do que com a minha própria família. É uma alegria muito boa fazer parte de tudo isso, eu me sinto muito bem porque eu gosto muito disso. Para mim, isso não é trabalho, é lazer, então é muito gratificante”. 

Giuliano Ramos fundou uma Associação Beneficente para ajudar o esporte na Capital (Foto: Elias Fontenele / O Dia)

Para fazer com que o seu projeto e seu trabalho com os alunos sejam ainda mais vistos e, assim consiga arrecadar fundos, em 2004, o técnico fundou a Associação Beneficente Giuliano Esporte Clube, a associação de todos os amantes do handebol. “A Associação foi criada para ajudar o esporte, para vê se a gente consegue arrecadar recursos junto aos entes federais, estaduais, municipais, as entidades privadas, e assim, cada vez mais, melhorar o esporte no nosso Estado. A gente está esperando a obra do CT ser concluída para poder requerer algum patrocínio”, explica. 

A Associação está instalada em um terreno de propriedade de Giuliano e está sendo reformada, aos poucos, com a ajuda financeira dele e da família. “Este projeto é todo meu. Mais de 80% da construção do Centro de Treinamento veio da minha renda e da renda dos meus familiares e 20% veio do Governo do Estado, que fez uma reforma aqui na quadra e nos vestiários para poder ter uma qualidade melhor durante os treinos”, explica o técnico. 

Enquanto a obra não é finalizada, somente a quadra de esportes está sendo utilizada para que os jogadores do handebol de base treinem para as competições. O local é um pouco distante da cidade e, para chegarem até lá, o próprio Giuliano se encarrega de levar os alunos para os treinos.

Edição: Biá Boakari
Por: Aldenora Cavalcante - Jornal O DIA
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