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Após protesto, maratonista etíope reencontra a família nos EUA

Sem asilo político no Brasil, atual vice-campeão olímpico Feyisa Lilesa revê mulher e filhos depois de 6 meses no aeroporto de Miami.

15/02/2017 15:03

Depois de conquistar a medalha de prata nos Jogos Olímpicos do Rio, o maratonista etíope Feyisa Lilesa precisou se esconder em um hotel por ter protestado contra o governo de seu país. Tinha medo de ser morto caso voltasse à Etiópia. No fundo, sentia que a família estava segura na terra natal, mas a saudade era imensurável. Aguardou o visto de residência permanente nos Estados Unidos, viajou e ainda teve de esperar mais um pouco até finalmente reencontrar a esposa e os filhos no aeroporto de Miami, após seis meses afastado. Lilesa veio caminhando com um buquê de rosas e não conteve a emoção ao ver a filha correndo em sua direção para um primeiro abraço: "O melhor presente é vê-los de novo. Tem sido difícil". Em seguida, foi a vez do filho se pendurar em seus ombros, e, depois, de dar um beijo na mulher.

Feyisa Lilesa se emociona ao reencontrar a filha, depois de seis meses afastado (Foto: AP Photo/Wilfredo Lee)

- Eu sabia que que nós nos encontraríamos em algum momento, mas eu não espera que fosse acontecer nestas circunstâncias aqui. Quando eu penso na minha família, eu volto ao ponto em que decidi tomar esta atitude e o por que de eu estar aqui. Eu sinto falta da minha família, mas esta era uma grande preocupação minha - a situação do meu povo - comentou Lilesa em uma entrevista para rede americana "NBC".

O gesto de Lilesa o transformou em um herói nacional. Mesmo distante, o seu pensamento estava ali. A região de Oromia, na Etiópia, tem sido palco de inúmeros protestos contra o governo nos últimos meses. E uma violenta repressão aos protestos se dispersou por outras partes do país, o que fez o local declarar estado de emergência em outubro do ano passado.

O maratonista de 27 anos aguardou a chegada de seus familiares e conseguiu fixar a sua base de treinos em Flagstaff, no Arizona. Ele nunca voltou a Etíopia desde que tornou-se vice-campeão olímpico por temer represálias do governo. A família também recebeu vistos especiais de residência nos Estados Unidos. Lelisa abandonou a delegação etíope depois de participar da cerimônia de encerramento da Olimpíada, no Maracanã, onde recebeu a medalha de prata. O maratanista foi para um hotel reservado por amigos, ficou três meses no Rio, o limite permitido, e esperou pelo visto americano. Ele foi antes para os Estados Unidos e aguardou até reunir a família em Miami.

Feyisa Lilesa protestou contra o governo etíope na chegada da maratona olímpica no Rio de Janeiro (Foto: REUTERS/Sergio Moraes)

O gesto de protesto na linha de chegada da maratona olímpica poderia lhe trazer consequências drásticas, mas, ele não se arrepende. Segundo Lelisa, a Etiópia é um país governado por uma minoria étnica que oprime violentamente as minorias e povos como o dele, os Oromo. Centenas de pessoas foram mortas pelo regime do presidente Mulatu Teshome e do primeiro-ministro Hailemariam Desalegn, da etnia Tigré. Aos poucos, ele foi amadurecendo a ideia de despertar a atenção do mundo para o problema quando os olhos estivessem voltados para os Jogos. Pensou em protestar no pódio, mas optou pela pista. Como os atletas são proibidos de manifestarem suas opiniões políticas e religiosas, Lilesa foi reprimido e advertido a não repetir o protesto.

- Eu acredito que ter assumido o risco de colocar a minha família nmaquela posição, de potencialmente colocá-los em perigo, foi uma grande lição para muitas pessoas. Às vezes, precisamos nos sacrificar para ganharmos concessões e mudarmos uma situação. Neste sentido, a minha atitude inspirou pessoas a lutarem pelos seus direitos e resistiram ao governo da Etiópia. Também impulsionou a tratar a situação na Etiópia com maior cuidado e atenção. Agora, vemos uma maior cobertura referente à violação dos direitos humanos - analisou o maratonista.

O vice-campeão olímpico diz que espera competir nos Jogos de Tóquio 2020 e revelou ainda o desejo de um dia voltar à terra natal, desde que o atual governo não esteja mais no poder. A mudança, segundo ele, pode demorar, mas é inevitável.

Fonte: Globo Esporte
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