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Revista faz campanha sobre Paralimpíadas gera revolta na internet

A justificativa da publicação era trazer famosos na pele de paraatleta, mas a ideia não foi bem vista.

24/08/2016 15:11

Os atores Cleo Pires e Paulo Vilhena posaram para uma campanha da revista "Vogue" que está rendendo polêmica nas redes sociais. Eles, que são embaixadores do Comitê Paralímpico Brasileiro, foram retratados como pessoas com deficiência física com a frase "Somos TodosParalímpicos".

Campanha Vogue causa revolta em pessoas com deficiência (Foto: Divulgação)

Tão logo a campanha foi lançada no site da publicação, pessoas com deficiência lotaram as redes sociais com mensagens de revolta. "Essa maneira que nos representam na mídia é o que traz tanto afastamento, exclusão, sentimento de não pertencimento como pcd (pessoa com deficiência) no mundo. Eu não acordo de manhã e penso 'nossa esse corpo fraco me incomoda'. Eu penso 'que mundo podre que não aceita corpos como o meu'", escreveu Mila Mesmo, que é cadeirante, no Twitter.

A justificativa da publicação era trazer "Cleo na pele de Bruna Alexandre, paratleta do tênis de mesa, e Paulo com o corpo de Renato Leite, da categoria vôlei sentado", segundo o site. Entretanto, a ideia não foi bem vista. 

"Não querem ver a realidade porque ela incomoda. Melhor supor que a Cleo Pires perdeu o braço, mas ainda é a Cleo que fez novela. Entendem? Então é isso, amigos: hoje aprendemos que silenciar/apagar os coleguinhas com deficiência em campanha é ridículo", escreveu Fatine Oliveira também no Twitter.

Ela ainda cita que preconceito e falta de representatividade não novidade para quem possui alguma deficiência. "Bom, a campanha é ridícula sim, mas infelizmente não há nada de novo nessa história. Não é de hoje que as PCD não são bem representadas. Ela demonstra bem o que algumas pessoas discutem aqui: como somos percebidos, identificados de forma capacitista na sociedade. Dizer que existem atletas e pessoas ideais para estrelar a campanha é besteira. Todo mundo sabe que tem, mas não é o que querem ver", desabafou na rede social.

Em um papo com o Delas, o estudante Daniel Morbi, que tem má formação nos braços, foi mais um a falar sobre a falta de espaço: "Isso é, infelizmente, uma consequência de algo muito maior que é a falta de representatividade que portadores de deficiência têm. Eu tenho comigo essa ideia de que, de todas as minorias, os portadores de deficiência são os mais renegados pela sociedade. Porque as pessoas não compreendem os desafios e dificuldades pelos quais os deficientes passam todos os dias, justamente por não serem portadores de algum tipo de deficiência. Isso faz com que não exista uma luta social por maior destaque às capacidades e habilidades dos deficientes que seja abraçada por todos".

Entretanto, ele reconhece que usar atores famosos e sem qualquer problema físico chamou o atenção para as Paralimpíadas, mesmo de maneira errada. "Por um lado, colocar atores famosos no papel dos paratletas é algo que traz muito mais visibilidade ao evento. Por pior que seja a repercussão da campanha, ela fez com que falássemos sobre as Paralimpíadas e sua importância. Acho que, em certo nível, o Comitê e todas as pessoas responsáveis sabiam que colocar os atletas não teria um efeito tão forte", afirma.

Daniel ainda lembra que "campanha foi apoiada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro e que os atletas estavam lá pra 'abençoar' o projeto. Entretanto, a presença de Bruna Alexandre e Renato Leite no estúdio também foi questionada no Twitter. 

"E ainda chamaram atletas deficientes pro estúdio. Mas só pra ter uma referência melhor pro photoshop. Vá se f***", esbravejou Gregory Dias no microblog. 

Cleo Pires e Paulo Vilhena ao lado dos paratletas Renato Leite e Bruna Alexandre (Foto: Divulgação)

Ele ainda completou, reclamando que histórias de pessoas com deficiência apenas viram relatos de superação.

Daniel concorda: "Essa campanha, para mim, é um reflexo de como as pessoas ainda colocam os deficientes em um segundo plano. A mentalidade capacitista da sociedade - em que os deficientes são exemplos de vida, mas nunca são realmente respeitados como pessoas com sentimentos, dificuldades e talentos - faz com que talvez nem passe pela cabeça das pessoas que portadores de deficiência possam estar em um lugar de destaque". E ainda completa: "A única coisa que eu falaria pra encerrar é que, se você acha tão absurdo esse tipo de campanha, então trata o deficiente como pessoa primeiro". 

Fonte: IG
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