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Entrevista com Caio Braz: o guarda-roupa também é uma preocupação para eles!

Fashionista e entendedor do assunto, comunicador de moda lançou neste mês a terceira temporada da websérie "œRoupa de Homem", criada em 2014

04/02/2017 10:02

Apresentador de TV, comunicador de moda e personalidade da internet, Caio Braz é referência quando o assunto é moda masculina. Fashionista e entendedor do assunto, ele lançou neste mês a terceira temporada da websérie “Roupa de Homem”, criada em 2014. 

Com uma abordagem divertida e democrática, ao longo de dez episódios, Caio mostra que a moda também é um papo para os homens modernos. Ele os convida para uma conversa, onde sugere dicas e propõe uma aproximação entre o público masculino e a moda. Também entram em pauta temáticas e discussões que vem ganhando espaço no universo fashion, como a moda agênero e as roupas esportivas. 

Nesta semana, a Com Estilo foi conversar com o apresentador, que nos revelou detalhes da websérie e falou mais sobre os temas abordados. 


Quais as mudanças que o público, ao assistir, vai sentir dessa temporada em relação as outras? 

Eu acho que nessa temporada a gente está um pouco mais ousado em relação ao nosso olhar de moda, tentando aprisionar menos o homem. O programa nasceu com esse nome, “Roupa de homem”, um programa masculina mas, por exemplo, temos um episódio que está repercutindo muito, que é o “Agênero”, que serve para trazer um pouco disso que a sociedade está vivendo e discutir isso na moda, algo meio antropológico, eu diria. Ao mesmo tempo tem tutoriais super simples e divertidos que são também nossa característica. A moda era pouco pautada em conversas entre homens. Antes pouco se falava sobre o assunto entre eles e hoje isso mudou bastante. 

Você lançou uma série voltada para a discussão da moda masculina e chama o homem para um bate-papo, porque falar disso dessa forma mais acessível, direto e claro? 

Porque eu sou homem! Sou homem e trabalho em uma indústria onde existe mais conteúdo para as mulheres. Mas a população também é composta por homens. Tem um monte de homem que precisa usar roupas todos os dias e a gente não encontra esse conteúdo. É um lugar com muito machismo, o homem tem medo de se associar a moda e preocupar-se com a beleza, por ser uma indústria feminina. O que é legal da série é que a linguagem vai muito direto ao ponto, o objetivo dela é cumprido porque ela é divertida e fácil de ser entendida. 

E como é o feedback do público? Como eles reagiram nas outras temporadas? 

O feedback é tão bom. De uma maneira geral, a gente passou um ano sem fazer a série e quando voltamos agora todo mundo adorou os episódios. Tem episódio, por exemplo, que falamos do preto e branco e que está indo muito bem porque é uma solução, imagina passar uma semana usando só preto e branco, facilita tanto sua vida. Às vezes o homem busca por facilidades na moda e a gente criou coisas que ajudam a deixar mais fácil. A gente passa por um momento que, podemos até não ter percebido ainda, pode representar de alguma forma uma revolução. 

Você acredita nisso? Que estamos passando por um momento aonde as mudanças vão se sedimentar e se transformar em posicionamentos? 

Eu acho. Acho que os anos 2010 vão ser lembrados como a época do agênero, assim como a gente lembra dos hippies dos anos 70, dos yuppies dos anos 80, das boybands dos anos 90. Acho que a moda dessa época vai ser lembrada por isso, porque estamos discutindo identidade de gênero, estamos discutindo tudo isso na sociedade, através da representatividade e pela busca de uma tolerância. A moda fala disso, e é muito incrível, porque é especialista em traduzir o comportamento da sociedade, as discussões contemporâneas, que as pessoas estão tendo e transformar isso em desejo, produto e em estética.

Acha que desde que surgiu a discussão da moda agênero temos conseguido perceber mudanças significativas de comportamento e consumo? 

Acho que tem uma bolha, não é algo perceptível em todo mundo. Como todo comportamento de tendência, ele começa em um grupo, onde as primeiras pessoas começam a adotar, começando a disseminar comportamento. Então percebo que a gente ainda está nesse grupo, não é uma coisa que atingiu todos ainda. As lojas ainda são demarcadas por gênero, mas já existem lojas de departamento onde não existe uma marcação de gênero para você comprar roupa. Então assim, marcas estão discutindo isso com muita naturalidade sem medo de se posicionar, quando você ver isso você percebe que realmente existe uma transformação, uma vontade coletiva de discutir, e de transformar as diferenças de gênero. É um caminho positivo e que vou me orgulhar no futuro. 

Nos vídeos você tira dúvidas que aparentemente são simples, como o que usar em entrevista de emprego ou o que usar para ir a um casamento. São perguntas que o público faz com frequência? 

Entrevista de emprego era uma coisa que sempre foi muito pedida pela audiência, porque acho que é um momento muito importante da vida das pessoas. A moda tem um pouco disso né, de você usar a roupa para se preparar, se sentir melhor e encontrar sua personalidade em um momento importante, um casamento, por exemplo. Então faz muito sentindo ter episódios como esses na série porque existem muitas dúvidas. 

Na série há um episódio sobre estampas e outro que fala sobre preto e branco. É possível misturar no guarda-roupa o maximalismo com o minimalismo? 

Dá muito. E depende muito do seu estilo de vida. A Carla Lemos, minha amiga do Modices, publicou “Será se estamos usando menos estampas?”. Tem a coisa da praticidade que as estampas não tem na verdade, e que da muito mais trabalho, mas acho que aqui no Brasil temos uma exuberância que combina tanto. Acho que vai ser sempre um carro-chefe do país porque tem muito a ver com nossa identidade. 

Você também fala sobre praticidade e sportwear. Porque você acha que esse tipo de loo ganhou tanto espaço no guarda-roupa? É um reflexo do modo de vida que as pessoas levam hoje? 

Junto com o agênero acho que essa é a principal tendência de toda a moda agora, essa moda mais esportiva. Hoje está todo mundo praticando muito mais esporte, a cultura do corpo e do fitness atingiu um patamar de estilo de vida inteiro, desde alimentação ao esporte, e a possibilidade de compartilhar isso nas redes sociais. A moda esportiva tem isso de você querer praticar esporte para se sentir saudável e projetar essa imagem. A outra coisa é que as pessoas têm menos tempo de diferenciar o que é uma roupa esporte da casual, você acaba misturando no dia-a-dia. Do esporte você já sai para outro lugar, você não tem tempo de ir em casa trocar de roupa. O esporte virou um lugar de socialização muito grande. 

A série está repercutindo bastante, você já pensou em transforma-la em um livro, que é algo que você ainda não fez ao longo da carreira? 

Queremos fazer isso esse ano. É um plano, vai rolar.
Por: Yuri Ribeiro - Jornal O DIA
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