Apresentador de TV, comunicador de moda e personalidade
da internet, Caio Braz é referência quando o
assunto é moda masculina. Fashionista e entendedor
do assunto, ele lançou neste mês a terceira temporada
da websérie “Roupa de Homem”, criada em 2014.
Com
uma abordagem divertida e democrática, ao longo de
dez episódios, Caio mostra que a moda também é um
papo para os homens modernos. Ele os convida para
uma conversa, onde sugere dicas e propõe uma aproximação
entre o público masculino e a moda. Também
entram em pauta temáticas e discussões que vem
ganhando espaço no universo fashion, como a moda
agênero e as roupas esportivas.
Nesta semana, a Com
Estilo foi conversar com o apresentador, que nos revelou
detalhes da websérie e falou mais sobre os temas
abordados.
Quais as mudanças que o público, ao assistir, vai
sentir dessa temporada em relação as outras?
Eu acho que nessa temporada a gente está um
pouco mais ousado em relação ao nosso olhar
de moda, tentando aprisionar menos o homem.
O programa nasceu com esse nome, “Roupa
de homem”, um programa masculina mas, por
exemplo, temos um episódio que está repercutindo
muito, que é o “Agênero”, que serve
para trazer um pouco disso que a sociedade
está vivendo e discutir isso na moda, algo meio
antropológico, eu diria. Ao mesmo tempo tem
tutoriais super simples e divertidos que são
também nossa característica.
A moda era pouco pautada em conversas entre
homens. Antes pouco se falava sobre o assunto
entre eles e hoje isso mudou bastante.
Você lançou
uma série voltada para a discussão da moda
masculina e chama o homem para um bate-papo,
porque falar disso dessa forma mais acessível,
direto e claro?
Porque eu sou homem! Sou homem e trabalho
em uma indústria onde existe mais conteúdo
para as mulheres. Mas a população também é
composta por homens. Tem um monte de homem
que precisa usar roupas todos os dias e a
gente não encontra esse conteúdo. É um lugar
com muito machismo, o homem tem medo
de se associar a moda e preocupar-se com a
beleza, por ser uma indústria feminina. O que é
legal da série é que a linguagem vai muito direto
ao ponto, o objetivo dela é cumprido porque ela
é divertida e fácil de ser entendida.
E como é o feedback do público? Como eles reagiram
nas outras temporadas?
O feedback é tão bom. De uma maneira geral,
a gente passou um ano sem fazer a série e
quando voltamos agora todo mundo adorou
os episódios. Tem episódio, por exemplo, que
falamos do preto e branco e que está indo muito
bem porque é uma solução, imagina passar
uma semana usando só preto e branco, facilita
tanto sua vida. Às vezes o homem busca por
facilidades na moda e a gente criou coisas que
ajudam a deixar mais fácil.
A gente passa por um momento que, podemos
até não ter percebido ainda, pode representar
de alguma forma uma revolução.
Você acredita
nisso? Que estamos passando por um momento
aonde as mudanças vão se sedimentar e se
transformar em posicionamentos?
Eu acho. Acho que os anos 2010 vão ser
lembrados como a época do agênero, assim
como a gente lembra dos hippies dos anos 70,
dos yuppies dos anos 80, das boybands dos
anos 90. Acho que a moda dessa época vai ser
lembrada por isso, porque estamos discutindo
identidade de gênero, estamos discutindo tudo
isso na sociedade, através da representatividade
e pela busca de uma tolerância. A moda fala
disso, e é muito incrível, porque é especialista
em traduzir o comportamento da sociedade, as
discussões contemporâneas, que as pessoas
estão tendo e transformar isso em desejo, produto
e em estética.
Acha que desde que surgiu a discussão da moda
agênero temos conseguido perceber mudanças
significativas de comportamento e consumo?
Acho que tem uma bolha, não é algo perceptível
em todo mundo. Como todo comportamento
de tendência, ele começa em um grupo, onde
as primeiras pessoas começam a adotar, começando
a disseminar comportamento. Então
percebo que a gente ainda está nesse grupo,
não é uma coisa que atingiu todos ainda. As
lojas ainda são demarcadas por gênero, mas já
existem lojas de departamento onde não existe
uma marcação de gênero para você comprar
roupa. Então assim, marcas estão discutindo
isso com muita naturalidade sem medo de se
posicionar, quando você ver isso você percebe
que realmente existe uma transformação, uma
vontade coletiva de discutir, e de transformar as
diferenças de gênero. É um caminho positivo e
que vou me orgulhar no futuro.
Nos vídeos você tira dúvidas que aparentemente
são simples, como o que usar em entrevista
de emprego ou o que usar para ir a um casamento.
São perguntas que o público faz com
frequência?
Entrevista de emprego era uma coisa que
sempre foi muito pedida pela audiência, porque
acho que é um momento muito importante da
vida das pessoas. A moda tem um pouco disso
né, de você usar a roupa para se preparar, se
sentir melhor e encontrar sua personalidade em
um momento importante, um casamento, por
exemplo. Então faz muito sentindo ter episódios
como esses na série porque existem muitas
dúvidas.
Na série há um episódio sobre estampas e outro
que fala sobre preto e branco. É possível misturar
no guarda-roupa o maximalismo com o minimalismo?
Dá muito. E depende muito do seu estilo de
vida. A Carla Lemos, minha amiga do Modices,
publicou “Será se estamos usando menos
estampas?”. Tem a coisa da praticidade que
as estampas não tem na verdade, e que da
muito mais trabalho, mas acho que aqui no
Brasil temos uma exuberância que combina
tanto. Acho que vai ser sempre um carro-chefe
do país porque tem muito a ver com nossa
identidade.
Você também fala sobre praticidade e sportwear.
Porque você acha que esse tipo de loo
ganhou tanto espaço no guarda-roupa? É um
reflexo do modo de vida que as pessoas levam
hoje?
Junto com o agênero acho que essa é a principal
tendência de toda a moda agora, essa
moda mais esportiva. Hoje está todo mundo
praticando muito mais esporte, a cultura do
corpo e do fitness atingiu um patamar de
estilo de vida inteiro, desde alimentação ao
esporte, e a possibilidade de compartilhar isso
nas redes sociais. A moda esportiva tem isso
de você querer praticar esporte para se sentir
saudável e projetar essa imagem. A outra
coisa é que as pessoas têm menos tempo
de diferenciar o que é uma roupa esporte da
casual, você acaba misturando no dia-a-dia.
Do esporte você já sai para outro lugar, você
não tem tempo de ir em casa trocar de roupa.
O esporte virou um lugar de socialização muito
grande.
A série está repercutindo bastante, você já pensou
em transforma-la em um livro, que é algo
que você ainda não fez ao longo da carreira?
Queremos fazer isso esse ano. É um plano, vai
rolar.
Por: Yuri Ribeiro - Jornal O DIA